quarta-feira, 19 de maio de 2010

Entrevista sobre o equilíbrio entre estudo e diversão no ano do vestibular

Entrevista concedida a jornalista Mayara Rinaldi do Jornal Diário Catarinense (http://www.diario.com.br/) para falar sobre a medida entre o estudo e o lazer em ano de vestibular. Este jornal é publicado em Florianópolis e região.

Jornalista: Qual o ponto de equilíbrio entre estudar e sair para se divertir?
Reginaldo: O divertimento e o relaxamento são importantes para o indivíduo tornar-se mais resiliente. Resiliência é o nome dado a uma propriedade física em que um material pode ser deformado e volta a seu estado normal anterior a deformação. Hoje a Psicologia faz uso do termo resiliente para classificar uma pessoa que consegue passar por situações aversivas e se recuperar facilmente voltando ao seu estado físico e emocional “normal”. O que se observa na prática e em diversas pesquisas é que sair para se divertir na maioria dos casos aumenta a auto-estima, a auto confiança e a resiliência das pessoas. Assim dizendo, uma pessoa que tem um equilíbrio entre estudar e se divertir torna-se mais resiliente. Neste sentido, estudantes que vão prestar vestibular não precisam deixar de viver no ano de seu vestibular. Na medida certa, baladas, futebol com os amigos, academia, saídas para o cinema, festas, namoro e lazer só fazem bem, desde que não atrapalhe a rotina de estudos.
Um outro ponto importante é que o nosso cérebro é formado por neurônios (células nervosas) e que tais células sofrem da mesma fadiga que os nossos músculos (células musculares). Um indivíduo em uma academia de musculação, por exemplo, exercita por um tempo e depois relaxa, descansa a musculatura, seja durante o treinamento, seja após, caso o contrário ele pode se lesionar ou perder massa muscular por esforço repetitivo. Analogamente, o nosso cérebro funciona da mesma forma, ele precisa de intervalos menores - entre os estudos - e alguns maiores - fim do dia ou um fim de semana - para manter um bom desempenho ou melhorá-lo (aumento do número de associações sinápticas) e evitar a fadiga.
A preparação para o vestibular exige, acima de tudo, dedicação nos momentos de estudo e diversão nas horas de lazer. Metade do tempo que o vestibulando tem livre, fora de uma sala de aula ou de uma cama, ele deveria aproveitar para se dedicar aos estudos da melhor maneira possível, realizando exercícios, tirando dúvidas, revisando o que já foi visto e fazendo anotações. A outra metade seria reservada para relaxar, praticar esportes, sair com os amigos e ir a festas ou baladas.

Jornalista: Os pais podem ajudar a encontrar esse equilíbrio permitindo e proibindo certas coisas? De que forma eles podem ajudar?
Reginaldo: Quando os estudantes estão se preparando para o vestibular, alguns pais exigem que seus filhos desprezem seus momentos de folga, deixem de sair com os amigos e de ir a festas. Agem de uma maneira equivocada, pois essa pressão e exigência prejudicam o desempenho.
Eles podem ajudar observando a rotina de estudos e a rotina de lazer e avaliar se estas rotinas estão muito discrepantes. Caso o filho esteja estudando demais e saindo pouco os pais devem estimular que eles participem de mais atividades sociais ou outras práticas de lazer que o vestibulando goste. Em contrapartida, se o filho estiver estudando de menos e saindo muito, os pais precisam criar condições e consequências de perdas durante a semana para que se tornem mais responsáveis e se esforcem mais. Por exemplo, “Se estudou sai, se não estudou não tem dinheiro para sair ou não sai.” Além disso, neste último caso, os pais precisam elogiar os esforços ou pontos positivos dos filhos para que aumente a rotina de estudos.

Jornalista: Quais são as dicas para que o vestibulando encontre a medida certa?
Reginaldo: A rotina dos vestibulandos costuma ser um verdadeiro treinamento de guerra. Provas semanais, simuladões exaustivos, aulas nos finais de semana, reforços extra-classe e resolução de centenas de exercícios num único dia são algumas das estratégias para assimilar o que ainda não foi aprendido. Entretanto, esta rotina exagerada pode atrapalhar. Para que o estresse não ocorra antes do tempo segue abaixo algumas dicas para o vestibulando:
1) O estudo deve ser organizado constantemente, e o lazer e descanso são fundamentais. O aluno precisa de pelo menos um dia na semana para se divertir e relaxar.
2) Fazer intervalos de descanso, ou seja, estudar duas horas e ficar de 20 a 30 minutos para relaxar. Neste momento o aluno pode conversar sobre assuntos irrelevantes com os amigos, levantar para andar um pouco, beber um suco, dar um telefonema etc.
3) Se exceder durante a semana com os estudos, permitir um momento maior de lazer e entretenimento no fim de semana para chegar renovado na segunda.
4) Se não costuma fazer atividades esportivas, pode andar de bicicleta ou patins, caminhar no parque, dançar etc. O que importa é por o corpo em movimento.
5) É sempre importante lembrar que os momentos de diversão com os amigos não são perda de tempo. Pelo contrário, eles são um investimento.
6) Descanso não significa apenas dormir, mas se divertir, fazer as coisas que você mais gosta e praticar exercícios físicos leves.
7) Evitar baladas até muito tarde e ir em dias certos - Estabelecer um horário para ir embora da balada ajuda a não atrapalhar o relógio biológico durante a semana. Além disso, dar preferência as baladas de sexta ou sábado a noite para não prejudicar o ritmo de estudos durante a semana.


Copyright © 2010 Reginaldo do Carmo Aguiar. Todos os direitos reservados.

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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.

Entrevista sobre pessoas que voltam aos ex-parceiros (recasamento) dada a Revista Metrópole

Entrevista com resposta na íntegra dada a repórter Vilma Gasques da Revista Metrópole que circula aos domingos no jornal Correio Popular sobre pessoas que voltam ao ex-parceiros (recasamento). A matéria foi publicada no dia 11/07/2010.

Repórter: Há dados de uma porcentagem de casais que se separam e voltam a se unir?
Reginaldo: Infelizmente, as informações do Censo Demográfico e das Pesquisas Nacional por Amostra de Domicílios (PNADs), que constituem as principais fontes sobre a composição dos domicílios e das famílias brasileiras, não possibilitam mensurar a proporção de famílias formadas por casais, onde um ou ambos os parceiros são recasados. A boa notícia é que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tem aberto canais de discussões com especialistas, técnicos e acadêmicos, buscando alternativas para melhorar a captação destas informações no Censo de 2010 e nas demais pesquisas nacionais realizadas pela instituição.

Repórter: Quanto tempo em média ficam separados?
Reginaldo: É importante deixar claro que o recasamento com os mesmos parceiros acontece, mas não é comum. Das pessoas que atendi e atendo em consultório e de conversas com outros terapeutas o tempo que ficam separados variam muito dependendo de cada caso. Além disso, é uma amostra enviesada porque são pessoas que vem para a terapia de casal para uma nova tentativa no casamento.

Repórter: E se separam no papel? E depois voltam a se casar legalmente?
Reginaldo: Dos casos que atendi, a discussão dos acertos da separação e as dúvidas sobre as vantagens e desvantagens da separação, em geral, demoram, por isso o casal acaba voltando antes mesmo de se separarem legalmente.

Repórter: O que se passa com eles? Descobrem que foram feitos um para o outro? Mesmo depois de terem descobertos que não queriam mais viver juntos.
Reginaldo: O recasamento com os antigos parceiros está relacionado mais a fugir do sofrimento e pode ocorrer pelos seguintes motivos:
1) Dificuldade ou falta de repertório/habilidade - a) Dificuldade ou falta de repertório/habilidade social e afetivo para se envolver em novos relacionamentos amorosos; b) Dificuldade ou falta de repertório social e afetivo que produz sentimento de medo ou dificuldade em lidar com a solidão (principalmente depois de uma certa idade) ou de fazer novos vínculos; c) Insegurança econômica/financeira. d) Medo de se envolver em uma nova relação com alguém desconhecido. e) Regras distorcidas relacionadas a baixa auto-estima do tipo: “Não valho nada.”; “Se eu não voltar com ela viverei sozinho.”; “Tenho 40 anos, já estou velha, a solução é volta com meu ex.”
2) Não conseguir ficar distante dos filhos, familiares ou amigos.
3) Ter esperança - a) A esperança de que o outro tenha mudado; b) Ainda acreditar nos “sonhos construídos” a dois.
4) Avaliação social e status - a) Medo da crítica, julgamento ou avaliação pejorativa do seu grupo social (família, amigos, igreja, colegas, vizinhos etc). A vida de homem separado, por exemplo, é vista como solitária e socialmente negativa. No meio social em que eles circulam, ser um homem adulto, solteiro, sem uma família para cuidar é alguém que é visto com desconfiança, sem credibilidade. Ainda mais porque quando estão separados, eles voltam a circular pelos bares, pelos churrascos depois dos jogos de futebol, a sair com mulheres com quem não mantém relacionamentos fixos. O respeito e a credibilidade social estão no fato de serem homens de família, de terem sob seus cuidados um lar, uma esposa e filhos. Quando estão separados eles perdem não apenas os benefícios de ter cama, comida e autoridade, mas também este reconhecimento social. É comum as queixas masculinas sobre se sentirem esquecidos ou excluídos de festas familiares ou de amigos que antes freqüentavam; b) Por status ou dinheiro – Em alguns grupos e comunidades ser casado com uma pessoa importante produz ganhos sociais, dinheiro ou poder.
5) Arrependimento, medo ou culpa - a) O afastamento pode levar a acreditar que o ex-companheiro, afinal era a pessoa certa; b) A separação ocorreu, por exemplo, porque um dos parceiros teve uma paixão fora do casamento que não durou.
6) Aceitar a nova mulher que é elástica - da consciência de que as mulheres foram afetadas por estarem no mercado de trabalho, em alguns casos por serem também provedoras financeiras de seus lares, de poderem exercer sua sexualidade, das mudanças na forma de encarar a maternidade e a relação com os filhos.

Repórter: Essa volta é benéfica para os dois? Como o senhor avalia isso?
Reginaldo: Para se saber se a volta é benéfica é importante obter algumas informações sobre o histórico do casal, além de saber se ocorreram algumas mudanças. Para isso é importante saber: a) Motivos que os separaram; b) Quem teve a iniciativa. A atitude do outro parceiro; c) Quanto tempo de separação; d) Se permanecem dificuldades anteriores. Se aumentou as habilidades para lidar com o parceiro. Se aumentou a tolerância a frustração; e) Se houve intervenções familiares e quais foram; f) Se teve outros relacionamentos no período de separação e quais as conseqüências disso; g) Se há filhos. A idade deles. Com quem moraram e como lidar com eles. h) Reconciliação: a iniciativa foi de quem? Expectativas de ambos.
A volta pode ser benéfica porque em muitos casos há uma fase inicial de namoro, tal como nas outras relações, e isso pode servir como uma condição motivadora. Por outro lado, o divórcio ou a separação deve ser aproveitado para descobrir o que havia de errado na relação. No segundo casamento espera-se que os casais estejam mais conscientes da relação. Além disso, a volta é benéfica se melhorou a comunicação, o diálogo entre os dois. Neste sentido, ambos precisam ser mais assertivos. Ser assertivo é ter a habilidade de identificar, formular e expressar adequadamente opiniões, desejos, vontades, sentimentos, pensamentos sem ofender ou agredir o parceiro da relação. Isso envolve identificar: o que, como, quando e porque falar algo relevante. Identificar e expressar as próprias expectativas pessoais e as relativas ao casal. Em suma, saber falar e saber ouvir respeitando a si e ao outro, o que não é tão simples. Portanto, se tais mudanças não ocorrerem os parceiros estarão condenados a uma nova separação ou a um casamento infeliz.

Repórter: Quais as vantagens que um casal que já foi casado tem em relação aos outros no sentido de fazer a relação dar certo?
Reginaldo: a) Eles tem mais informações sobre o parceiro.
b) Podem aceitar mais as diferenças e ter claro que algumas características não mudam.
c) Podem receber apoio de familiares e amigos, além de manter estes vínculos.

Repórter: E as desvantagens?
Reginaldo: a) O desejo sexual tende a ser menor com uma parceira conhecida há muito tempo.
b) Pode voltar a ter uma rotina que é aversiva.
c) Os parceiros continuam, em muitos casos, tendo expectativas exageradas ou idealizadas no que diz respeito a companheirismo, atenção e respeito. Os homens esperam que as companheiras sejam excelentes amantes, esposas trabalhadeiras e acima de tudo mães cuidadosas. E além disso, não querem ser cobrados por elas. Em contrapartida, as mulheres esperam que os novos maridos sejam homens que se dediquem ao trabalho e à família, que sejam mais afetivos e carinhosos, que não sejam consumidos por vícios como a bebida, os jogos e as outras mulheres.

Repórter: Prós e contras de namorar o ex-marido.
Reginaldo: As vantagens são: sair da rotina, evitar conflitos por pequenas coisas do dia a dia (principalmente no que se refere à organização da casa e horários.), ganhar privacidade (no caso de morarem em casas diferentes), aumentar a emoção pelo fato de se preparar especialmente um para o outro, fazendo de cada encontro um momento especial.
As desvantagens são: Aumento do custo de vida, menor cumplicidade, brecha para imaturidade. Morar separado pode ser uma forma de resguardar a imaturidade, com sentimentos individualistas e egocêntricos, perdendo a oportunidade de crescer aprendendo um com o outro, cedendo e negociando.

Repórter: O que prevalece nessa hora? É o sentimento, é a relação com os filhos, é a relação financeira?
Reginaldo: O casamento contemporâneo está cada vez mais centrado na questão da satisfação pessoal dos envolvidos. E isso pode ser muito volúvel, pois com o passar do tempo, os projetos e os desejos podem mudar e se tornarem incompatíveis com os projetos e os desejos do companheiro. Na impossibilidade de equacionar estas diferenças, a separação é vista como a melhor e menos prejudicial alternativa para a vida dos parceiros e até mesmo de seus filhos. No entanto, a médio prazo, observa-se que é muito difícil tomar esta decisão porque há muitas variáveis em jogo que devem ser levadas em consideração. Todavia, a variável ou variáveis mais importantes dependerá muito da história de vida de cada parceiro. Para um companheiro que sempre gostou de brincar e participar da formação de seu filho ficar longe dos filhos será muito aversivo. Em contrapartida, para uma mulher que foi dona de casa e cuidadora dos filhos por anos terá muita dificuldade de se arranjar profissionalmente. Neste caso, a curto prazo, a mulher sofreria mais com as perdas econômicas e o homem entraria em sofrimento pela falta dos filhos.

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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Revista Metrópole do jornal Correio Popular para falar sobre o excesso de prescrições de medicamentos

Entrevista com a jornalista Janete Trevisani do jornal Correio Popular para a revista semanal que é publicada aos domingos neste mesmo jornal.

Metrópole: Há uma discussão em pauta nos consultórios terapêuticos: a quantidade de diagnósticos de depressão é ou não excessiva? Para os professores Allan V. Horwitz e Jerome C. Wakefield, a psiquiatria contemporânea confunde tristeza normal com transtorno mental depressivo porque ignora a relação entre os sintomas e o contexto em que eles aparecem. No livro A tristeza perdida - Como a psiquiatria transformou a depressão em moda, os autores mostram que a tristeza, comum a todo ser humano, vem sendo tratada como doença. O senhor concorda?

Reginaldo: O que se observa é que há um modismo de rótulos pela psiquiatria que já vem de décadas. Há um tempo atrás muitas crianças eram diagnosticadas com TDAH (Transtorno de Déficit de atenção ou Hiperatividade) como se qualquer hiperatividade ou desatenção sinalizasse um transtorno, já em outros períodos aumentou exageradamente os diagnósticos de Transtorno Bipolar. Nos últimos anos, a depressão se transformou no distúrbio mais tratado por psiquiatras. Ao mesmo tempo, o consumo de antidepressivos está sendo prescrito por médicos de todas as especialidades.
Isso provavelmente é devido:
1) Ao forte lobby da indústria farmacêutica, além disso é ela que patrocina quase todas as pesquisas na área. Nos últimos anos, pesquisadores chegaram a se recusar a publicar pesquisas porque tinham resultados negativos para a indústria de medicamentos. Hoje temos muitas indicações sobre os efeitos colaterais e os problemas quando alguém tenta diminuir a dose, como mudanças súbitas de humor ou pensamento suicida, interferência na vida sexual, com a diminuição da libido, insônia, dor de cabeça, aumento de peso, náuseas, boca seca etc. Entretanto, a indústria limita ou omite os efeitos colaterais.
2) A dificuldade que os psiquiatras tem, principalmente pelo tempo curto de suas consultas (um problema relacionado aos convênios médicos que pagam mal aos seus profissionais), o que dificulta fazer uma análise para definir adequadamente o que é normal e patológico.
3) Ao uso do Manual de Diagnósticos para Distúrbios Mentais (DSM), da Associação de psiquiatria americana, que é um manual equivocado e defasado. Nos Estados Unidos da América a classificação de doenças está relacionado ao seguro de vida e de saúde. Por sua vez, os problemas e doenças precisam ser classificados para saber quantas sessões são necessárias a recuperação do indivíduo para ser contabilizado. O DSM IV, neste sentido, é um cavalo de tróia que os psiquiatras venderam ao Mundo. Agora, dado a classificação o profissional rotula o indivíduo. Além disso, o DSM simplificou demais a depressão, especialmente o transtorno bipolar. A publicidade transformou “bipolar” em um termo do dia-dia. A psiquiatra embasada no DSM tem uma concepção estreita de normalidade, portanto criam novas doenças, como aquela para quem briga no trânsito. Não digo que seja normal, mas daí criarem um transtorno específico mostra aquilo que ela aceita como emoções humanas.
4) A pressão por agilidade que a competitividade capitalista imprime sobre o homem do trabalho e por conseqüência, em todas as esferas de sua vida social fez com que a sociedade estabelecesse um padrão imperativo de excelência profissional ou acadêmica. Com efeito, as pessoas desenvolveram baixa tolerância a frustração, ou seja, não conseguem lidar com o fracasso e esperam apenas uma alta performance em suas atividades.
5) A sociedade que estabelece um padrão de felicidade contínua fazendo com que as pessoas esperem ser felizes o tempo todo ou que estejam sempre de bem com a vida, tornando-se intolerantes com sentimentos amenos ou tristes. É como se a tristeza praticamente perdesse o direito de existir. E por conseqüência, as pessoas acabam se sentindo culpadas e envergonhadas na nossa sociedade quando estão tristes ou têm problemas. Proibir uma tristeza provocada por uma separação amorosa, pela perda de um ente querido, por uma decepção pessoal é eliminar um sentimento normal que deve ser vivido para que possa ser superado. Na verdade, muitas pessoas não sofrem de problemas psiquiátricos, mas apenas necessitam de apoio emocional por causa de uma intensa reação a alguma perda ou estresse em sua vida.
6) A idéia equivocada que desenvolvemos socialmente de que ninguém é normal, mas que medicamentos podem nos levar à sanidade.
7) A guinada em direção à Biomedicina e a Neuropsiquiatria ocorrida nos EUA que tentou e tenta definir ansiedade e depressão em termos puramente biológicos. É claro que há componentes biológicos: palpitação, suor das mãos, tremor, dor de cabeça etc. Todavia, deixaram de avaliar outros componentes, como por exemplo, o contexto sócio histórico que o indivíduo está inserido, trabalhar seu auto-conhecimento e se possível modificar os comportamentos inadequados e aumentar seu repertório comportamental mais adaptativo. Portanto, alguns países seguiram uma linha biomédica em que a solução passou a ser exclusivamente o remédio.
O medicamento que atua diretamente no cérebro tem servido a nossa sociedade como uma solução mágica e toda solução rápida deveria ser questionada. O que se observa é que tais medicamentos tem servido mais como corrimão ou muleta e por isso não ensinam o indivíduo a andar com as próprias pernas. Em outras palavras, não produz repertório que torne a pessoa independente. Ansiolíticos, antidepressivos, antipsicóticos etc não instalam comportamentos, ou seja, não ensina como a pessoa deve se comportar diante das adversidades, tais medicamentos apenas mudam a bioquímica do organismo, alterando seus sentimentos e emoções. Imagine, por exemplo, uma pessoa diagnosticada com fobia social, que resumidamente, é o medo exagerado de lidar com duas ou mais pessoas no âmbito interpessoal. Em decorrência disso, ela vai ao médico e é prescrito um ansiolítico, ela inicia o tratamento e vai ficando mais calma perante as pessoas, mas não aprende o repertório social de como iniciar, manter e finalizar uma conversa. Ou seja, suas conversas não serão saborosas e nem estimularão seus interlocutores a mantê-las.
Por outro lado é importante esclarecer que existem pessoas que precisam do tratamento medicamentoso e que por isso não podem jamais ficar sem tais fármacos e sem o acompanhamento médico especializado. Além disso, a psicofarmacologia desenvolveu-se muito nestes últimos anos e ajudou muitas pessoas a terem uma vida mais digna que se fosse depender apenas do tratamento psicoterápico continuariam em sofrimento. Inclusive os medicamentos podem catalizar, acelerar o processo psicoterapêutico. E ainda, os efeitos colaterais destes medicamentos precisam ser pensados nestes casos em relação ao custo benefício do fármaco o que muitas vezes faz valer apena seu uso. Com efeito, a resposta da pergunta vem apenas abrir uma discussão sobre a prescrição desenfreada de antidepressivos que ocorre atualmente nos consultórios médicos e algumas razões para isso.
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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.

Programa de televisão para falar sobre fobias

Participação do Programa de televisão Alô TVB com o apresentador Jair Duprat da Emissora TVB afiliada ao SBT para falar sobre Fobia de Avião e outras Fobias Específicas. O programa foi ao ar ao vivo no dia 06-05-2010 para Campinas e região.




Humorista do programa A praça é nossa do SBT estava presente.
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Reginaldo do Carmo Aguiar é Analista do Comportamento, psicólogo clínico e estudioso das Neurociências.