sábado, 14 de maio de 2011

Solidariedade, altruísmo e generosidade para o site Minha Vida

A repórter Letícia Gonçalves do site Minha Vida, portal de saúde e bem-estar queria uma matéria em forma de teste para o Dia da Solidariedade (16 de maio). Ela fez algumas perguntas abordando qual a postura de uma pessoa solidária.
O site Minha Vida é o maior portal de saúde e bem-estar do Brasil, com mais de 10 milhões de usuários. Nossa grande missão é "Democratizar informações de saúde e bem-estar através dos novos meios, melhorando a qualidade de vida da população". Em 2008, fomos vencedores do Prêmio Ibest na categoria melhor site de saúde. Desde 2009, somos uma empresa Endeavor, comprometidos a mudar o mundo.
O site também tem parceria com portais como UOL, Yahoo, MSN, Terra e R7. Esses portais divulgam o nossas reportagens para complementar as editorias de saúde, comportamento e bem-estar. - www.minhavida.com.br

Segue abaixo a entrevista na íntegra:
1. Como você define uma pessoa com postura solidária?
Uma postura solidaria envolve a capacidade de identificar e compartilhar o sentimento de outra pessoa. Está associada ao sentimento de empatia que é quando o sentimento do outro passa a ser a mesma morada. É quando um se coloca no lugar do outro e parte para ajudar. Pode-se dizer que é uma das características mais impressionantes da nossa espécie. Inclusive a nossa espécie é a única que conforta seus semelhantes na dor. Somos capazes de identificar com detalhes a dor do outro e sentir fisiologicamente o que este outro deve estar sentindo. Se o vizinho, por exemplo, perde um filho jovem, somos capazes de chorar pela dor que ele está passando, mesmo sem nunca termos conversado com o vizinho.

2. Como a solidariedade pode se manifestar no dia-dia. Cite exemplos.
Generosidade e solidariedade são coisas boas. Dar uma força, uma mãozinha, quebrar um galho devem ser exercitadas e executadas por todos, desde o cidadão comum até os governos. As formas de falar - e ajudar - são muitas e podem ser classificas em três grandes grupos:
a) Ajudas emocionais: alegrar pessoas enfermas em hospitais como é o caso das pessoas que aderem ao papel de palhaços e animadores, fazer visitas a pessoas idosas ou a orfanatos, ouvir e aconselhar um amigo que passa por problemas emocionais, participar de algum tipo de voluntariado, fazer visitas a pessoas enfermas...
b) Ajudas financeiras e materiais: adotar financeiramente uma instituição filantrópica, ajudar pessoas com roupas e mantimentos, por exemplo, em tragédias ou catástrofes naturais (deslizamentos de terras, enchentes, secas... ), ajudar financeira e materialmente um familiar ou amigo...
c) Apoio político devido a identidade de pensamento: apoiar algum grupo político minoritário, participar de passeatas, assinar um ato político...
Em suma, participar de qualquer atividade que ajude aos outros de alguma maneira é uma forma de manifestar solidariedade.

3. Você acha que também há benefícios para a própria pessoa que é solidária? Como?
Em algum momento da nossa evolução passamos a ter comportamentos que vão além dos mínimos necessários para simplesmente comer e reproduzir. Em algum período da nossa vida ancestral, os indivíduos que tinham a capacidade de se solidarizar deixaram mais descendentes do que aqueles que não se solidarizavam. Até o ponto que os últimos praticamente desapareceram. Neste sentido, ser solidário, ser capaz de sentir o que o outro está sentindo, passou a ser mais vantajoso evolutivamente falando, do que não o ser. As pressões evolutivas que forjaram a empatia, a solidariedade nos humanos, acabaram por criar uma das dinâmicas comportamentais mais impressionantes da evolução. Em outras palavras, o comportamento altruísta se manteve, foi selecionado porque trouxe benefícios ao grupo. A nível individual foi observado que o ato de ajudar aos outros pode trazer vários benefícios. Os mais evidentes são o aumento da autoestima e da auto confiança. Em geral, isso acontece porque a pessoa se sente útil aos outros, se sente especial, importante. Muitas pessoas que sofrem de depressão, por exemplo, e partem para trabalhos voluntários com o passar do tempo percebem uma melhora significativa no seu humor e na melhora do convívio com seus pares.
Para finalizar, o filósofo Thomas Hobbes - famoso por suas teorias de que sempre agimos em interesse próprio - foi visto certa vez dando esmolas a um mendigo. Ao ser questionado do porquê de seu ato, ele explicou que não fizera pelo sofrimento do mendigo, mas, sim, para amenizar sua própria dor de ver alguém sofrendo.

4. Está errado dizer que ser solidário é ter pena do próximo?
Não. Porque ter compaixão do outro abre espaço para se importar com o outro e ajudar. No entanto, isso não precisa ser dito e nem deixado claro para a pessoa que está sendo ajudada porque ela pode vestir o papel de vítima ou em casos de orgulho pode não aceitar a ajuda.
5. Posso afirmar que solidariedade e generosidade são praticamente a mesma coisa?
Altruísmo, empatia, solidariedade, generosidade são todos conceitos relacionados, mas há diferenças e distinções importantes entre eles dependendo da perspectiva. Na linguagem coloquial, solidariedade e generosidade significam, ambas, o ato de apoiar e ajudar o próximo. Já no dicionário significam disposição para a bondade e a indulgência ou ainda a qualidade de dar livremente o apoio ou recursos as pessoas que necessitam. Além de ser um termo relacionado a bondade e ao altruísmo.
Quando cientistas e cientistas sociais falam sobre solidariedade e generosidade, geralmente estão falando de uma ação em que, para beneficiar o outro, o indivíduo arca com um custo ou prejuízo para si próprio. Porém a Filosofia faz uma distinção entre ambas. De saída, vale enfatizar que tanto a solidariedade quanto a generosidade dizem respeito às atitudes que adotamos levando em conta os interesses dos outros. A diferença começa quando, no caso da generosidade, levamos em conta os interesses do próximo, mesmo que não concordemos com ele nem compartilhemos dos seus interesses. Se faço uma doação a alguém, fico sem o dinheiro e nenhum proveito tiro dessa atitude. Ajuda desinteressada: generosidade. Por sua vez, a solidariedade significa levar em conta os interesses do outro porque compartilhamos deles (os interesses) e concordamos com ele (o outro). Fazemos um benefício ao próximo e isso nos traz, simultaneamente, um benefício. O filósofo André Comte-Sponville refinou mais ainda dizendo que a generosidade é uma virtude moral e a solidariedade é uma virtude política. Ambas são úteis. Mas o que é melhor? A solidariedade ou a generosidade? Moralmente, é a generosidade, porque ela é desinteressada. Mas, socialmente e economicamente, a solidariedade é muito mais eficaz, completa o filósofo. Na prática percebemos que a generosidade é mais rara.

Copyright © 2011 Reginaldo do Carmo Aguiar. Todos os direitos reservados.
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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.

Aula sobre núcleos ou perfis de personalidade e discussão de um caso sobre TOC relacionado a homossexualidade.

 Na noite do dia 05-05-2011 foi realizada uma aula sobre os núcleos ou perfis de personalidade e discutido um caso sobre Transtorno Obsesssivo Compulsivo relacionado a homossexualidade na FAC de Campinas.
Além da explicação de alguns conceitos evolutivos, cognitivos e comportamentais foi apresentado algumas composições de MPB com violão e gaita para ilustrar e discriminar alguns perfis de personalidade.










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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Entrevista concedida ao site pessoal do empresário Abilio Diniz sobre o controle do estresse

Dia 29-04-2011 foi dado uma entrevista a jornalista Mariana Teodoro sobre: Trabalho uma ótima  terapia - para o site pessoal do empresário Abilio Diniz. Se você quiser conhecer o site dele, acesse  http://www.abiliodiniz.com.br/.

Segue abaixo a entrevista na íntegra:
1 – Muitas pessoas falam do estresse que sentem no emprego. Elas geralmente não vêem a hora de chegar o fim de semana pra se livrar do trabalho. Mas e o contrário disso. Pensando no lado positivo, quais são os benefícios de ter uma rotina de trabalho?
Primeiramente é importante salientar que o estresse sempre foi fundamental para a sobrevivência de nossa espécie. Inclusive, segundo alguns estudiosos evolucionistas, humanos muito calmos morreram antes de deixar descendentes. Assim, alterações fisiológicas e comportamentais a que a pessoa foi submetida em situações perigosas, como de fuga de predadores e de reação rápida a eventos perigosos, foram essenciais para que o indivíduo sobrevivesse e passasse suas características a seus descendentes. Dentre essas alterações podemos ressaltar: aumento da freqüência cardíaca, da pressão arterial, aceleração da respiração, aumento da tensão muscular, aumento da sudorese e outras. Estresse, na verdade, é uma forma do corpo buscar o seu equilíbrio. Com relação às alterações comportamentais constatou-se que o indivíduo em estado de alerta tende a ficar atento aos fatores importantes para a resolução do problema ao qual está exposto. Seja ele, terminar uma planilha antes que o chefe reclame ou preparar um plano de fuga em uma rua perigosa. Portanto, o estresse, desde que não seja crônico, teve e tem uma importância positiva na vida das pessoas.
Uma rotina de trabalho, por sua vez, pode diminuir o estresse crônico porque a pessoa tem mais controle da situação. Essa rotina melhora o desempenho, a disciplina e consequentemente, a médio e longo prazo, aumenta os sentimentos de disposição, autoconfiança, de capacidade, de satisfação e de bem estar. E em decorrência disso no campo profissional a pessoa pode ter promoções, aumentos salariais, reconhecimentos etc. Além disso, na esfera corporal, pode contribuir com uma saúde mais equilibrada.

2 – Dizem que o trabalho dignifica o homem. Mas porque, então, as pessoas não valorizam o próprio trabalho? Porque elas estão cada vez mais estressada?
As pessoas são afetadas direta e indiretamente por acontecimentos do dia-a-dia, sobre os quais nem sempre se tem controle. É o trânsito, a violência, o desrespeito com o ser humano... Porém, algumas pessoas conseguem um grau de controle maior do que outras. Porque será que isso ocorre? Podemos encontrar essa resposta analisando a história de vida da pessoa, ou seja, como ela “aprendeu” a lidar e enfrentar as situações difíceis que a vida lhe impôs e quais as conseqüências que obteve nesse enfrentamento. Se forem positivas, provavelmente, essa pessoa futuramente saberá lidar melhor com situações adversas em sua vida porque desenvolveu repertório; caso contrário ela apresentará um déficit de repertório que dificultará esse enfrentamento. A isso chamamos história de vida ou de aprendizados. Nesta ótica, as pessoas em nossa sociedade, por falta de conhecimento ou oportunidades, não conseguem exercer atividades relacionadas a sua vocação. Ou ainda não conseguem variar seus comportamentos no sentido de lidar melhor com as frustrações diárias no trabalho ou não há iniciativas de manter um ambiente de trabalho mais ameno e amigável fazendo uso de uma comunicação mais assertiva. Sem falar ainda na falta de exercícios físicos e a falta de uma vida social e afetiva fora do ambiente de trabalho, que consistiria, em suma, em um equilíbrio entre as atividades de lazer e aquelas relacionadas ao trabalho.
Um outro fator de estresse está relacionado as crenças e aos paradigmas no mundo do trabalho. O psicólogo americano Harry Harlow descobriu que macacos podiam se distrair com jogos, como quebra-cabeça, durante um longo período e sem nenhum estresse, mesmo sem nenhuma recompensa, simplesmente pelo prazer da atividade. Em outras palavras, a curiosidade, o desejo de manipulação, o conhecimento, correspondiam a outras motivações que não precisam de recompensa; e que está relacionado ao interesse pela atividade em si. Em outra pesquisa demonstrou que isoladamente qualquer forma de recompensa ou obrigação, alguém supervisionando constantemente, o fato de não ser uma atividade de livre escolha, por algum tempo isso tinha o efeito de diminuir o interesse da atividade em si e produzir estresse crônico. Essa pesquisa revela a necessidade de uma mudança de paradigma e de crença tanto das instituições empregadoras quanto dos funcionários. Isto porque as pessoas atualmente são mais cobradas e não enxergam e exercem o trabalho como uma atividade lúdica.

3 – Como encarar o lado positivo da ocupação, sem estresse, mesmo que não seja aquela desejada pelo trabalhador? Por exemplo, alguém que se formou em biologia, mas não conseguiu emprego na área e teve que trabalhar como vendedor. O que dizer a essa pessoa para encorajá-la?
O trabalho precisa ser visto como um jogo, uma brincadeira e não apenas como uma responsabilidade. Alguns pesquisadores e estudiosos da motivação definem dois conceitos interessantes: A motivação intrínseca (de interno) e a motivação extrínseca (de externo). A primeira está associada a realizar uma atividade por prazer (descoberta, busca de sensações novas ou curiosidade) - “Eu faço porque eu gosto”, já a motivação extrínseca está relacionada a uma recompensa (salário, elogio, reconhecimento) – “Eu faço pelos outros ou apenas pela necessidade.”
Em geral, as pessoas que tem prazer por jogar fazem isso por uma motivação intrínseca (interna) e não para agradar aos outros (externa). Dessa forma, enxergar e exercer o trabalho como um jogo, como uma brincadeira aumenta o senso de autoestima, autoconfiança, responsabilidade e produz menos estresse. É como se o trabalho perdesse todo o peso de sacrifício e obrigação. O que se observa é que uma pessoa que trabalha muito e exerce suas atividades como se fosse uma brincadeira raramente vai sofrer de estresse. E isso exige uma mudança de crença: enxergar o trabalho como um jogo divertido. Além disso, aumentar e melhorar a rede social e desenvolver um ambiente de trabalho amigável também pode ajudar a lidar com as frustrações diárias da labuta. Caso contrário, se o indivíduo ainda continuar descontente com o seu trabalho e quiser alcançar seu sonho ou sua real vocação o melhor é procurar paralelamente aprimoramento na área de seu interesse. O que pode exigir dele um pouco mais de sacrifício até abrir uma boa oportunidade.

4 - O trabalho funciona melhor como terapia quando não é idealizado? Ou seja, quando é encarado de forma natural sem muitas expectativas?
As expectativas fazem as pessoas ficarem mais frustradas isto porque elas esperam de situações pouco prováveis. Isso é um problema universal e muito comum. Uma pessoa que espera um dia ensolarado na praia fica decepcionada, desanimada ou nervosa com a semana chuvosa que experimentou. O que acontece é que quem espera muito de si, do outro ou das coisas perde o controle da situação. É esta falta de controle do trabalhador sobre a situação no emprego que conduz à incerteza, frustração, motivação reduzida e, enfim, ao esgotamento. Por exemplo, você pode sentir-se desmoralizado porque é incapaz de satisfazer as expectativas impossíveis do seu chefe, porque não consegue o apoio de seus colaboradores, porque não foi adequadamente treinado ou porque, independentemente de realizar um bom trabalho, seus esforços não são reconhecidos. Além disso, muitas interrupções inesperadas no decorrer do dia: reuniões especiais, telefonemas, pessoas entrando e saindo e falha nos equipamentos. Além das regras e regulamentos burocráticos. Até mesmo o trajeto diário ao trabalho pode contribuir para o estresse acumulado no dia. Em outras palavras, temos que aprender que os eventos nem sempre são previsíveis e nem sempre estão no nosso controle e parar de criar expectativas é um primeiro passo para diminuir o estresse.

5 - O que acontece com as pessoas que ficam desempregadas por muito tempo? Elas acabam ficando estressadas do mesmo jeito, mas neste caso por não terem nada a fazer?
O emprego traz a sensação de ser útil e importante. Uma pessoa desempregada por muito tempo tem seus níveis de dopamina, serotonina e endorfinas (neurotransmissores do prazer) diminuídos no cérebro o que produz desamparo, desânimo, desmotivação. O que colabora mais ainda para manter a pessoa desempregada. Existem outros complicadores - um homem desempregado é mal visto socialmente e a família ainda pode exercer uma pressão negativa.
Hoje sabe-se que existe uma relação íntima entre depressão e estresse. Uma pessoa em processo de estresse crônico pode chegar a depressão e a depressão causar mais estresse ainda. Como um ciclo perverso que se auto alimenta. Isto porque a depressão é como um carro de freio de mão puxado. E quanto mais o carro tenta andar mais desgastado fica. Portanto, os dois processos (depressão e estresse) se misturam.

6 - O que a pessoa deve fazer para não entrar em depressão e desespero quando se está desempregada?
Segue abaixo algumas atividades que podem colaborar com a prevenção da depressão:
a) Música: Ouvir ou tocar determinadas músicas animadas.
b) Exercícios físicos: Atividades físicas prazerosas também produzem neurotransmissores do bem estar. Pode ser inclusive uma simples caminhada.
c) Ter tempo para conversar e sair com os amigos: Ter alguém para desabafar ajuda muito. Se possível dar preferência a um amigo íntimo que consiga ouvir seus lamentos encorajando, ao invés de falar asperamente ou cobrar uma melhora instantânea. Vale também aqueles amigos menos íntimos apenas para um papo informal e sem profundidade.
d) Alimentação adequada: Uma alimentação saudável colabora com o bom funcionamento do organismo, a alimentação deve ser pobre em gorduras, açucares e alimentos industrializados.
e) Sono restaurador: Uma boa noite de sono contribui com a diminuição do estresse e previne depressão.
f) Fazer caridade: Ajudar aos outros é uma boa estratégia emocional e racional que colabora com o bem estar.
g) Vida espiritual: Várias pesquisas revelam que as pessoas mais espiritualizadas sofrem menos de problemas emocionais e conseguem superar suas dificuldades com mais tolerância.
h) Treinamento: Para se recolocar profissionalmente é necessário voltar aos estudos e se atualizar. Inclusive, há muitos materiais gratuitos na internet sobre uma série de assuntos profissionais.
No entanto, nos casos mais graves de depressão não adianta tentar melhorar por conta própria, ou incentivar pensamentos positivos, fazer novas amizades, tirar férias ou fazer programas de lazer diferente... Isso é insuficiente. Se não houver tratamento adequado, a pessoa corre o risco de o quadro depressivo perdurar por semanas, meses ou anos, e prejudicar sua saúde e seus relacionamentos, gerando consequências irreversíveis. É o caso, então, de procurar uma ajuda profissional. O que envolveria um tratamento medicamentoso e psicoterápico.

7 - E no caso de quem se aposenta? Muita gente não suporta o ócio e volta a trabalhar ou ter alguma ocupação. Isso é comum? Por que muitas pessoas não conseguem parar de trabalhar?
O nosso cérebro cria dependência de atividades que foram realizadas por muito tempo e que produziram um certo bem estar. Não é a toa a dependência do cigarro. Imagine quantas vezes se leva o cigarro a boca e produz uma certa satisfação. Com o trabalho não é diferente, exercer uma atividade por anos produziu diversos frutos, entre eles - salário, reconhecimento, imóvel próprio - além do fortalecimento dos sentimentos de status, disposição, responsabilidade, autoconfiança e autoestima. Todos esses ganhos criaram no cérebro ao decorrer dos anos um caminho de bem estar e satisfação que quando a pessoa para de trabalhar deixa de alimentar esta circuitaria cerebral e ter estes sentimentos. Muitas pessoas inclusive chegam a deprimir e só melhoram quando voltam a ativa. A escolha de trabalhar até o fim da vida é saudável, o que deve ser pensado nesta fase é uma vida equilibrada com atividades de lazer.

8 – Por fim, qual conselho o Sr. daria aos trabalhadores que estão estressados com o trabalho? Como levantar a autoestima deles?a) Ver o trabalho como um hobbie: Uma pessoa verdadeiramente motivada e menos estressada tem a impressão de haver escolhido sua atividade de forma livre. Assim explica a atitude de adultos ou crianças apaixonados por algo, quando praticam seus hobbies ou passatempos prediletos. São atividades quase sempre escolhidas por sua espontânea vontade.
b) Atividades relaxantes: Estudos mostram que 30 minutos diários de meditação ou relaxamento (ioga, meditação, tai chichuam...) melhoram a concentração e o foco, reduzem a pressão sanguínea, diminui as tensões físicas, melhora o metabolismo, aumenta a concentração, produz bem estar etc.
c) Exercícios físicos: A prática de exercícios físicos previne as pessoas do cansaço e aumenta a disposição.
d) Desenvolver repertório social: Isso envolve aprender a dizer “não” sem se sentir culpado ou achar que magoou; parar de querer agradar a todos porque é um desgaste enorme e pedir ajuda sempre que necessário às pessoas certas.
e) Tarefas de cada vez: Concentrar-se em apenas uma tarefa de cada vez. Por mais ágeis que sejam as capacidades cognitivas.
f) Ninguém é imprescindível: Esquecer, de uma vez por todas, que é imprescindível. No trabalho, casa, no grupo habitual. Por mais que isso lhe desagrade, tudo anda sem a sua atuação, a não ser você mesmo.
g) Responsabilidade: Abrir mão de ser o responsável pelo prazer de todos. Não ser a fonte dos desejos, o eterno mestre de cerimônias e o palhaço da turma.
h) Calma: Evitar se envolver na ansiedade e tensão alheias. Esperar um pouco e depois retomar o diálogo, a ação. Evitar achar que tudo vai dar em catástrofe.
i) Flexibilidade: Entender que princípios, regras rígidas e convicções fechadas podem ser um grande peso, a trave do movimento e da busca. A rigidez é boa na pedra, não no homem. A ele cabe firmeza, o que é muito diferente.
j) Pessoas afetivas: É preciso ter sempre alguém em que se possa confiar e falar abertamente ao menos num raio de cem quilômetros. Não adianta estar muito longe.
k) Não ficar conectado a opiniões alheias destrutivas: Não querer saber se falaram mal de você e nem se atormentar com esse lixo mental; escutar o que falaram bem e filtrar com uma boa análise sem qualquer convencimento.
l) Competição: Competir no lazer, no trabalho, na vida a dois, é ótimo... para quem quer ficar esgotado e perder o afeto das pessoas. Lembre-se, a verdadeira competição envolve você com você mesmo. Um corredor de atletismo iniciante jamais compete com seus companheiros mais experientes. Isso seria incoerente, frustrante e desigual. O corredor iniciante orientado por um técnico sensato estabelece metas com tempos alcançáveis a cada dia, semana ou mês, assim paulatinamente ele vai sendo bem sucedido, se superando. Consequentemente ele pode vir a superar seus companheiros que estão a mais tempo no esporte.
m) Planejamento: Quem planeja ganha em tempo e em resultados. Abraham Lincoln teria dito que, se tivesse oito horas para cortar uma árvore, gastaria várias dessas horas apenas para afiar seu machado.
n) Fazer pausas e usufruir do ócio: Fazer pausas de dez minutos a cada duas horas de trabalho ou de estudo, por exemplo, e repetir essas pausas na vida diária em algumas vezes para refletir e outras para não pensar em nada.
o) Lazer: Uma hora de intenso prazer pode vir a substituir com folga 3 horas de sono perdido. O prazer pode recompor mais que o sono em algumas situações. Logo, não perca uma oportunidade de divertir-se.
p) Prazeres cotidianos: Descobrir o prazer de fatos cotidianos e sagrados como dormir, comer e tomar banho, sem também achar que é o máximo a se conseguir na vida.
q) Planejamento com folgas: Planejar o seu dia, sim, mas deixar sempre um bom espaço para o improviso, consciente de que nem tudo depende de você.
r) Refeição adequada e sem correrias.

Segue abaixo a entrevista editada pela jornalista:
http://abiliodiniz.uol.com.br/qualidade-de-vida/uma-otima-terapia.htm

O empresário Abilio Diniz com quase 100 mil seguidores também postou no seu twitter:



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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.