quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Matéria para a Revista Atrevidinha sobre amizade entre garotos e garotas



Matéria para a Revista Atrevidinha sobre "Amizade verdadeira entre garotos e garotas: Isso é possível?" Quem entrevistou-me foi a repórter Rita Trevisan.

A matéria editada é essa: http://atrevidinha.uol.com.br/tag/relacionamentos/

Abaixo está a matéria na íntegra:
1) Esse tipo de amizade, que começa a surgir justamente nessa época da pré-adolescência, pode existir independente de um interesse afetivo? Em outras palavras, pode existir amizade verdadeira e sem segundas intenções entre meninos e meninas?
            Pode existir, mas é exceção, não é regra. Poderia dizer, a grosso modo, que  de 20 a 30% dos casos isso é possível. Além disso, o garoto não precisa ser homossexual, pelo contrário, amigos heterossexuais podem ser grandes amigos de meninas sem segundas intenções. Geralmente os meninos pensam que esse tipo de amizade não existe, que sempre alguém quer “algo mais”. Se de fato fosse assim, não existiria amizades verdadeiras com pessoas de sexos opostos.
É importante lembrar que antigamente a amizade entre um menino e uma menina era um grande passo para o casamento. Como bem descrito no livro “Dom Casmurro” de Machado de Assis. Mas hoje em dia tudo isso mudou, meninos e meninas podem viver juntos e sem traçar um caminho para o namoro e nem para o casamento.

2) Como lidar com as diferenças que naturalmente existirão entre você e o garoto pelo simples fato de ele ser um garoto?
            Em nossa cultura, ainda os filhos homens tem que suprir aquilo que seus pais não conquistaram. Funciona, a grosso modo, assim, a mãe espera um filho super-homem, um herói e por isso ele é educado para ser forte. Neste sentido, a mãe tem uma fantasia do filho. Como se este tivesse que suprir as expectativas dela. Para muitos pais os filhos frequentemente representam um projeto de imortalidade deles. Em oposição, a menina é preparada para ser gente grande; De certa forma, o brincar de casinha a prepara para lidar com os filhos e com a realidade prática e de responsabilidade no futuro. A menina é educada para ser esperta e cuidadosa. As consequências disso no campo sexual são bastante interessantes porque o garoto é construído nesta base heroica, desenvolve a necessidade de demonstrar um desempenho sexual altíssimo e a garota, no campo sexual, quer mais afeto e proteção em detrimento do desempenho sexual. Além das diferenças culturais de aprendizagens, há ainda as diferenças biológicas (hormônios, genética específica ao gênero...). Portanto, devido as diferenças biológicas e culturais entre garotos e garotas, pode-se destacar características específicas de gênero:
Sensibilidade - Eles não têm a mesma sensibilidade que as meninas, o que deixa as coisas um pouco desequilibradas, principalmente naqueles dias de TPM, que a menina fica mais agressiva, quer chorar porque viu o mínimo de injustiça. O garoto por não ter um ciclo menstrual acredita que isso é frescura.
Sair e a espera - Os garotos não tem paciência de esperar as garotas se arrumarem. Eles ficam apressando e dizendo que elas estão ótimas de qualquer maneira, nem precisa se arrumar demais e muito menos passar maquiagem.
Brincadeiras - Os garotos têm mais brincadeiras estúpidas e agressivas.
Atenção focada - O garoto tem uma atenção focada, ou seja, apenas consegue realizar uma tarefa de cada vez. Em contrapartida, a garota é multi-tarefada, consegue realizar inúmeras tarefas ao mesmo tempo.
Egocentrismo - Os garotos tendem a ser mais egocêntricos, menos sensíveis aos outros, menos atento as dinâmicas sociais e mais inclinados à agressão direta.
As garotas precisam ter claro que as diferenças existem e que muitas delas se não compreendidas podem trazer problemas. Elas podem tentar a partir dessas informações desenvolver a capacidade de se colocar mais no lugar deles, o que pode ajudar a criar bons vínculos.

3) Quais as vantagens em ter um amigo menino (em comparação com as meninas)? Como “explorar” o máximo possível essa amizade?
Segue abaixo algumas vantagens e como explorá-las:
a) Perspectiva: com amigos de sexo diferente você tem acesso a outras visões sobre uma mesma coisa, tem mais ideia de como os meninos são e pensam. E como eles veem as garotas, como pensam sobre elas.
b) Sinceridade e o ombro amigo: muitas garotas tem receio em contar determinadas informações para uma amiga, então preferem contar para um garoto, em que este pode ouvir, dizer o que pensa e ainda oferecer um ombro amigo. Muitos relatos de meninas dizem que a amizade com meninos é bem melhor, pois eles são mais confiáveis e confidentes e não arrumam confusão por qualquer coisa, principalmente, por serem mais “desencanados”. Além disso, eles são muito mais sinceros, falam o que pensam...
c) Competição: a competição entre elas, em geral, é muito grande. A mesma coisa acontece com os homens, que querendo ou não acabam competindo, mesmo que seja por coisas insignificantes. Uma relação com o sexo oposto evita a competição, o que abre espaço para uma amizade mais saudável.
d) Divertidos: Os garotos, em geral, são mais divertidos, brincalhões e podem fazem rir.
e) Racionais e emocionais: Em geral os garotos são mais racionais, a convivência com eles faz com que as meninas também desenvolvam repertórios e habilidades mais ligadas à solução de problemas e aumenta a visão lógica do mundo nelas.
f) Aprender a lidar com críticas: Os garotos, em geral, são mais ensinados a lidar com críticas do que as garotas. Os garotos acreditam mais que a crítica surge para ajudar, enquanto as garotas acreditam mais que a crítica é para ferir. Quando elas convivem com eles aprendem mais a receber críticas sem se machucar tanto.

4) E as desvantagens?
É importante dizer que por mais que a amizade entre sexo oposto seja boa, ela não é 100% certa de se manter apenas como amizade. Algumas pesquisas revelam que em 80% dos casos das amizades tem uma segunda intenção. Pode acontecer, por exemplo, de um se apaixonar e o outro não. Aquela amizade fica na balança, ela tem medo de namorar ele e depois terminar e tudo acabar. Isso é um fato. Muitas amizades que viraram namoros e depois da separação as amizades não voltaram a ser como era. Tudo isso é possível acontecer porque os dois sexos se relacionam, de todas as maneiras possíveis, afetuosas e claro sexuais. Não é a toa que algumas meninas sempre dizem “não” aos melhores amigos, as garotas valorizam mais as amizades do que os desejos, como o sexo masculino.
Segundo algumas pesquisas sobre amizade e gênero. As garotas e mulheres adultas são mais interessadas na amizade que é mais profunda e mais moral, ou seja, elas estão mais interessadas nas amigas, querem saber como estão, preocupam-se genuinamente com elas. Em oposição, a pesquisa revela que os garotos e homens adultos estão interessados mais nas vantagens que a amizade pode trazer. Ou seja, a amizade é mais baseada em interesses: o que o meu amigo pode fazer por mim? Segundo os cientistas essa diferença se deva ao fato dos homens ainda exercerem o papel de dominância e controle na família e no trabalho e o das mulheres o papel de unir seus integrantes com afeto por isso elas seriam mais solidárias.
As vezes, eles são mais irritantes porque tem algumas brincadeiras desagradáveis ou de mal gosto.

5) Quais os cuidados que essa amizade inspira?
Se a pessoa é sua amiga, é normal você sentir uma admiração muito grande por ela. Tenha cuidado para não confundir isso com atração física. Caso acontecer do menino se apaixonar, tente separar as coisas e diga que são apenas amigos e nada mais. Diga isso com ternura e carinho. No início ele pode ficar magoado, mas no futuro ele pode compreender o que aconteceu.

6) Como ser uma boa amiga para um menino?
            Se você conseguir participar de alguns programas de meninos você conseguirá criar mais vínculo com ele. Você pode ir vê-lo jogar futebol ou assistir o jogo do seu time preferido, você pode também jogar vídeo game, assistir aquele filme de terror...
Muitas garotas deixam as amigas de lado quando estão namorando. Com os meninos essa história é bem menos frequente. Eles não abrem mão do futebol e conseguem conciliar amizade e namoro. Tente fazer o mesmo porque você terá sempre um bom amigo por perto.
Eles são menos sentimentais e mais desencanados. Enquanto você acorda muito tempo antes para ir para o colégio, eles preferem mesmo é dormir mais e colocar ‘a primeira roupa que aparece na frente’. Isso não quer dizer que você deva descuidar da aparência, mas tente se importar menos com coisas sem importância, como estar maquiada em todas as ocasiões, isso vai abrir espaço para amizade de vocês se fortalecer.
Os meninos não discutem por coisas simples ou pequenas. Eles dificilmente vão chorar ou reclamar de coisas simples que estão incomodando. Se eles não estão gostando de algo serão mais diretos. Por isso é importante aprender a ser um pouco assim e não ficar tão chateada quando eles forem dessa maneira.

Copyright © 2012 Reginaldo do Carmo Aguiar. Todos os direitos reservados.

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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.


Como dar limites aos filhos e evitar dependências

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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Entrevista sobre autoestima, vaidade e desapego

Quem me entrevistou foi a jornalista Louise Vernier, matéria para a revista “Uma”, Segundo a repórter, o intuito é dar dicas às leitoras de atitudes que elas podem tomar para sair da rotina (como mudar o visual ou se desapegar de algo), mudar de vida e serem mais felizes.


Mudança de visual
1) Mudar o visual radicalmente ou fazer uma intervenção cirúrgica com finalidade estética pode ser benéfico para o aumento da autoestima da leitora?                  
O mundo de hoje valoriza em demasia a aparência física. A crença de que a beleza é fundamental é tão disseminada e arraigada que se tornou uma obsessão, e por isso é uma fonte de frustração sem igual. A luta das mulheres para atingir a figura ideal imposta pela cultura – e que a maioria delas aceita – se torna para muitas a coisa mais importante da vida. Em consequência disso, a cirurgia estética tornou-se uma das especialidades médicas mais crescentes e lucrativas da atualidade. Para se ter uma ideia, segundo pesquisa do Ibope, encomendada pela coordenação do XI Simpósio Internacional de Cirurgia Plástica, no ano de 2009 o Brasil ficou em segundo lugar em número de cirurgias plásticas no mundo, só perdendo para os Estados Unidos da América. O grande problema dessa cultura da beleza é idealizar ou valorizar em demasia o lado estético, o que abre espaço para sempre ficar aquém do esperado e sempre ficar frustrado(a). Além disso, a nossa cultura não valoriza a maioria das belezas, mas apenas aquelas passadas pelos crivos de referenciais europeus ou hollywoodianos. E tem mais, valorizar em demasia a beleza abre espaço para que características fundamentais para o convívio social e afetivo, como o caráter, não sejam priorizadas.
Estima vem de estimativa, ou seja, é como uma escala de amor com a qual me avalio. Autoestima é sentir-se amado, sentir-se capaz, sentir-se valorizado e aceito. Esse sentimento depende de um conjunto de valores e critérios e da satisfação dos mesmos. Além disso, autoestima é diferente do sentimento de vaidade. Autoestima é um juízo que eu faço de mim mesmo, é uma nota que eu dou para mim mesmo independente de um código de valores a que eu correspondo ou não. Uma pessoa com boa autoestima, por exemplo, se diverte, aproveita a vida com equilíbrio sem se preocupar tanto com os outros. Em oposição, a vaidade envolve a imagem pública, o que aparece para fora. É sentir-se satisfeito porque tem a aprovação de outras pessoas. Depende da plateia, dos outros. Neste sentido, autoestima envolve a relação “eu - comigo mesmo”, já a vaidade, a relação “eu - outras pessoas”. Dizer que uma pessoa fez uma cirurgia plástica e melhorou autoestima é um equívoco. Melhorou na verdade, a vaidade, uma vez que o indivíduo ficou melhor perante um padrão dos outros. A cirurgia plástica também melhora a autoconfiança do cirurgião quando a cirurgia é bem sucedida.

2) De que forma o aumento da autoestima reflete em outras áreas da vida dessa pessoa? Por quê?
Autoestima é uma profunda e poderosa necessidade humana, essencial para uma adaptação saudável em sociedade. Segue abaixo alguns dos benefícios de quem tem uma autoestima saudável:
a) Saúde – Quem se ama cuida mais do próprio corpo, por isso, não exagera no comer e beber, cultiva uma vida sexual equilibrada e responsável, cuida bem de sua saúde, pratica atividades físicas e cultiva o contato com a natureza. Além disso, dá ao corpo e à mente o repouso necessário.
b) Relacionamento e repertório social – A forma como nos relacionamos afetiva, social e profissionalmente também revela a nossa autoestima. A forma como enfrentamos circunstâncias constrangedoras, reagimos a críticas, ao esquecimento ou à rejeição oferece indícios a respeito de nossa autoestima. Quem tem boa autoestimase ama é mais feliz e vai ao encontro dos outros com facilidade, está sempre pronto a receber e dar amor, convive bem consigo mesmo e com os outros, é autêntico e sincero, conversa mais com pessoas experientes para aprender, perdoa a si mesmo e aos outros, tem consciência que sentimentos negativos prejudicam sua vida física, psíquica e espiritual. Geralmente a pessoa com boa autoestima também tem mais facilidade para fazer boas escolhas no campo sentimental.
c) Vida ao presente – A pessoa com boa autoestima vive o presente, liberta-se do passado e não antecipa o futuro.
d) Aceitação e valorização – Uma pessoa com baixa autoestima sente-se eternamente culpada e fracassada. As emoções de vergonha e culpa estão relacionadas a situações e emoções em que se perde o valor perante aos outros, ou ainda, situações nas quais não se sente merecedora de aprovação dos outros e, por isso, tende a se sentir rejeitada. A culpa ou vergonha, em outras palavras, debilita. Já a pessoa com uma autoestima saudável percebe que o segredo da própria felicidade está em aceitar-se e a valorizar-se, distribuindo as responsabilidades e as culpas depois de uma boa análise da situação. Além disso, ela é capaz de reconhecer e atender suas necessidades físicas, emocionais, mentais e espirituais.
e) Autoconfiança – Uma pessoa com boa autoestima tem mais chances de desenvolver habilidades e repertórios e, assim, se torna confiante, determinada e segura, tem bom contato com a realidade, o que a favorece ter: a) uma boa aptidão para se relacionar; b) competência nos estudos e êxito no trabalho; c) talento para atividades artísticas, recreativas; d) habilidade ou repertório no desempenho dos papéis sociais como mãe, pai, marido, esposa, filho(a) etc.; e) assertividade, isto é, expressa abertamente, suas emoções e não se faz de vítima, sabe dizer “sim” e “não” na hora certa.
Apesar de ter potencial para desenvolver diversos repertórios, essa pessoa tem consciência que não é um super-herói e, por isso, sabe lidar com fracassos e seleciona as atividades que pode se desempenhar bem, tendo consciência de que não será boa em tudo.
f) Autoconhecimento e conhecimento sobre o Mundo – Quem se ama cuida bem de sua vida psíquica, procura aceitar sua realidade, conhece-se melhor e supera-se, procura ler bons livros e seleciona seus programas de rádio e TV... Além disso, não perde a oportunidade de participar de cursos de formação humana.
g) Resiliência – Situações de crise e fracasso com pessoas com baixa autoestima são propícias para o desencadeamento de ansiedades e depressões. Centrado no próprio sofrimento, o indivíduo irrita-se com as próprias dificuldades, repete incessantemente pensamentos depreciativos, concentra-se em si mesmo, esquecendo o universo ao redor e estabelecendo um círculo vicioso. Em oposição a isso, as pessoas com boa autoestima não se abatem tanto com eventuais fracassos ou julgamentos alheios, ou seja, mantêm mais facilmente a estabilidade emocional ao enfrentarem adversidades. O fato delas terem uma relação satisfatória com elas próprias aparece associado à relativa ausência de monólogos interiores autocentrados, que paralisam o desenvolvimento emocional. Neste sentido, quando é possível olhar para o mundo e realmente se interessar pelo que está fora, fica mais fácil suportar as próprias dificuldades. A autoestima estável é como um motor que cumpre sua função de maneira silenciosa: facilita o vínculo com o mundo externo e o faz de maneira menos assustadora. Dessa forma, quando a pessoa cai em sofrimento, consegue se erguer com mais tranquilidade e rapidez.
h) Baixa autoafirmaçãoPessoas com baixa autoestima sentem mais necessidade de se autoafirmarem. Entre as autoafirmações mais comuns, está a mentira. Diversas pesquisas espalhadas pelo mundo revelam uma correlação muito forte entre mentira e baixa autoestima. Provavelmente essas pessoas mentem muito porque sentem medo de mostrarem quem são e de se sentirem inferiores aos padrões estabelecidos. Os indivíduos dotados de uma autoestima saudável estão longe de serem megalômanos, em oposição, são mais sensatos.

Desapegar
3) É possível aprender a se desvincular do passado, se desapegar e tomar atitudes radicais, como mudar de casa ou até mesmo de cidade ou país? Como?
É possível. No entanto, toda mudança radical no início produz sofrimento porque exige um processo de adaptação a nova realidade. Como disse o escritor inglês Arnold Bennett. “Qualquer mudança, mesmo uma mudança para melhor, é sempre acompanhada de inconvenientes e desconfortos.” Muitas pessoas deprimem quando mudam de cidade, porque não há vínculos afetivos (os amigos e familiares estão distantes) e se não tiverem trabalhando, estudando ou se ocupando dificultam ainda mais a adaptação e agrava o humor delas. Pessoas que saem do relacionamento amoroso, onde gostavam do parceiro saem muito machucadas e desacreditadas de investir em novos parceiros(as).
A mudança é necessária e toda mudança exige novos repertórios. Quando você sai do seu ambiente (habitat) perde estímulos antecedentes e suas consequências (perda de reforçadores). Neste sentido, perde repertório. Um(a) jovem que muda para uma cidade distante porque passou no vestibular, quando chega nela não tem amigos, ou seja, não tem pessoas (estímulos antecedentes discriminativos) para falar, por exemplo, aquelas bobagens que seus (suas) amigos(as) gostavam e assim perde as consequências, as risadas, a atenção, os elogios, o carinho de seus amigos(as). Portanto, suprime seu repertório. Inclusive é muito comum alguns deprimirem até criarem um grupo novo de amigos.
Comportamentalmente, o termo “mudança” envolve mudar de reforçadores, ou seja, passar dos reforçadores mais poderosos aos de menor valor reforçador. Todo aprendizado de repertório envolve comportar-se frente as situações simples e gradualmente até as mais complexas. Você aprende primeiro a pôr uma meia. De início, pode até ser difícil, se tiver um bom educador, ele pode dar modelos de como colocar a meia, ajudar a por a meia, pedir para por e depois elogiar o aprendiz pelo feito. Depois aprende a colocar o sapato e somente depois a amarrar o cadarço. Eu poderia chamar essa cadeia comportamental de repertório de colocar os sapatos adequadamente. Repertório social é a mesma coisa. Você aprende primeiramente a cumprimentar as pessoas, depois aprende a sorrir, ouvir,.. só depois aprende a manter a conversa de forma agradável.  Para quem não está acostumado a por os sapatos estranhará no início e dirá: “Nossa como está apertado, que estranho!” E vai até querer de início tirar para se aliviar. É o que acontece com aquelas pessoas que não sabem o que fazer numa situação social e por isso fogem e se sentem aliviados. Tudo uma questão de aprender repertório para não fugir e se adaptar a nova realidade.

4) De que maneira essa mudança pode ser positiva?
Muitos intelectuais falam ou falavam sobre a importância da mudança, entre eles:
a) “O mundo detesta mudanças e, no entanto, é a única coisa que traz progresso.” - Charles Kettering.
b) “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos. - Eduardo Galeano.
c) “Tudo muda quando você muda. - Jim Rohn.
d) “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.” - Fernando Pessoa.
“Existir, para um ser consciente, consiste em mudar, mudar para amadurecer, amadurecer para se criar indefinidamente.” - Henri Bergson - Filósofo francês.
e) “Você sabe tão bem quanto eu que uma das principais causas do tédio é a estreiteza de nosso destino. Todas as manhãs, nós despertamos iguais ao que éramos na véspera. Ser eternamente o mesmo é insuportável para os espiritos refinados, esses espiritos refinados pela reflexão. Sair do proprio eu é um dos sonhos mais inteligentes que um homem pode ter.” - (Antônio Abujamra - Provocações (TV Cultura) - 16 abril 2010).
Quando mudamos tudo ao nosso redor muda. No processo de terapia de casal, inicialmente, um tenta mudar o parceiro, até uma hora que se descobre que a mudança deve ocorrer primeiramente de si, somente mudando a si é que o outro muda, e não o contrário.

5) Por outro lado, para as menos ousadas, mudar a casa, mexendo apenas na decoração já é um passo para ter uma vida nova? Por quê?
O texto chamado “Mude” do Edson Marques pode explicar isso: “Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade. Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa. Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa. Tome outros ônibus. Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os seus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos. Veja o mundo de outras perspectivas. Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... Depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais...Leia outros livros, viva outros romances. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo. Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua. Corrija a postura. Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias. Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor, a nova vida. Tente. Busque novos amigos tente novos amores. Faça novas relações. Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida compre pão em outra padaria. Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa. Escolha outro mercado... Outra marca de sabonete, outro creme dental...Tome banho em novos horários. Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares. Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes. Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias. Jogue os velhos relógios, despertadores. Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros cabelereiros, outros teatros, visite novos museus. Mude. Lembre-se de que a vida é uma só. E pense seriamente em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano. Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo. E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez. Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa. O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda! Repito por pura alegria de viver: A salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena!!!”
Começar a mudar as coisas simples e pequenas é o pontapé inicial para mudar grandes coisas no futuro. As pessoas apenas amadurecem com as mudanças. Quem fica parado, fico empobrecido de repertório e não se adapta ao mundo e não muda o mundo para melhor.

Copyright © 2012 Reginaldo do Carmo Aguiar. Todos os direitos reservados.

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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.