Entrevista concedida a jornalista Larissa Canova sobre as relações comportamentais nos almoços de trabalho. Segue abaixo a entrevista na integra.
1) O que leva as pessoas a utilizarem o horário do almoço/ o momento da refeição para se relacionarem seja por motivos pessoais ou profissionais?
As pessoas procuram estes momentos porque proporcionam:
1) Construir vínculos afetivos ou profissionais, dando a oportunidade, entre outras coisas, de conhecer naturalmente um pouco mais a respeito das preferências dos convidados.
2) Criar um networking em um ambiente mais ameno e agradável comparado aos de intervalos em empresas.
3) Fazer reuniões de negócios que envolva difusão de idéias, acordos, parcerias, informações e o debate de questões relevantes em clima menos burocrático ou aversivo.
4) Encontrar velhos amigos no intervalo do expediente.
5) Evitar por um instante determinadas rotinas profissionais aversivas.
6) Estar em um ambiente mais informal e descontraído para conversar sobre amenidades, hobbies, viagens, a história do restaurante onde estejam e que isso tudo produza sentimentos de bem estar e satisfação.
2) Elas se sentem mais à vontade em ambientes informais e por isso acreditam que a chance de conseguir êxito nas relações é maior?
O que se observa é que Gastronomia e business combinam bastante, isto porque o clima ameno dos restaurantes ajuda a quebrar ou amenizar as tensões. Além disso, é possível conhecer um pouco mais dos aspectos sociais e pessoais das partes envolvidas, estabelecer contatos profissionais, aumentar o compromisso e atenção dos convidados com relação à análise do tema a ser discutido e são ambientes especialmente adequados para iniciar projetos, fazer sondagens e procurar conhecer os interesses de possíveis parceiros comerciais. Hoje, essas reuniões são realizadas em ambientes bem informais, que exige menos atenção ou gera menos tensão comparado com o clima formal do ambiente de trabalho tradicional. Assim, é possível fazer do almoço uma atividade de lazer e de trabalho ao mesmo tempo, aumentando com isso o relacionamento interpessoal.
3) A rotina agitada da vida contemporânea contribuiu para a criação desse espaço para a construção de relacionamentos?
Sim. Estamos vivendo um período marcado pelo excesso de competitividade e de cobranças, em que as pessoas tem pouco tempo para se envolver ou se divertir. Muitas delas dão prioridade ao trabalho e as relações pessoais ficam a míngua. Acredito que as empresas tiveram a iniciativa de propor novas maneiras de reunir pessoas como forma de observar e analisar informações, aliviar pressões e aumentar o próprio desempenho. A firma, como é muito comum hoje em dia, marca uma reunião num restaurante francês (daqueles que você só ouviu falar nas colunas de gastronomia) para apresentar um projeto, discutir uma proposta, observar e analisar quem se comporta bem, é educado e tem bom senso, além, é claro, de saber conduzir bem as negociações ou ainda apenas conhecer uma empresa parceira ou algum cliente potencial. Devido ao excesso de trabalhos e correrias do mundo contemporâneo os restaurantes tornaram-se os melhores lugares para “avaliar” o desempenho de um profissional, assim como para melhorar seus relacionamentos, pois junta a formalidade de uma reunião com um ambiente descontraído. Pensando desta forma, tratar de assuntos profissionais importantes na hora do almoço tornou-se uma prática que produz bons resultados em pouco tempo, seja para a empresa, seja para os funcionários ou clientes. Todos precisam almoçar, então é mais fácil conciliar as agendas nesse horário. Além disso, é mais fácil encontrar espaço na agenda dos executivos durante o almoço. Logo, no corre-corre diário, o intervalo dedicado ao almoço serve também aos compromissos de trabalho. Pensando nisso, restaurantes reservam espaços específicos para atender os executivos. Para se ter uma idéia alguns estabelecimentos tem computador conectado à internet, telefone e mesa de reuniões concebido para acomodar pessoas do mundo empresarial. Portanto, o mundo atual exige novos espaços para a construção de relacionamentos.
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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.
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