A jornalista
Rita Trevisan fez uma entrevista comigo para a revista Boa Forma, em que o intuito era dar dicas às leitoras de como mudar
certas atitudes, ser mais autoconfiante e se valorizar. Além disso, no novo ano
que esta por vir o que elas podem fazer para não desistir dos seus sonhos e
conseguir alcançar as metas que todo ano elas estabelecem e não conseguem
atingir. A entrevista está na íntegra:
1. Até que ponto o fator psicológico
influencia na força de vontade para pegar firme na ginástica? Por quê?
O fator
psicológico influencia muito porque envolve fatores motivacionais e que estão
diretamente relacionados a parte emocional dos seres humanos. Vale lembrar que
o cérebro de um indivíduo é constituído de parte razão e parte emoção.
Inclusive, uma pessoa pode ser inteligente, mas se ela não tiver equilíbrio entre
razão e emoção ela toma decisões ou faz escolhas erradas e depois sentir-se
fracassada. Em oposição uma pessoa motivada e que desenvolveu certa
autoconfiança em algumas áreas pode usar tais habilidades para alcançar objetivos
em outras áreas. Além disso, a forma como interpretamos e pensamos influencia o
nosso comportamento. Neste sentido a atividade física envolve desenvolver
também pensamentos e regras que aumente o desempenho do praticante. E além do
mais uma pessoa mais equilibrada emocionalmente estabelece metas alcançáveis e
reais, e alcançando isso aumenta sua autoconfiança e, portanto, seu modo de
pensar e agir. Por todos esses fatores e
outros, uma pessoa equilibrada emocionalmente tem mais chances de alcançar ou
realizar atividades físicas com mais sucesso.
2. É possível usar o fator psicológico a
nosso favor, nessas horas? Como controlar os pensamentos para não desistir dos
exercícios?
Sim. Existe na Psicologia do
Esporte e na Psicologia Comportamental, um conceito conhecido como auto-fala
que ajuda as pessoas a não desistirem dos seus exercícios e a melhorar seu
desempenho. A auto-fala, a grosso modo, é o nome científico dado para o diálogo
interno ou diálogo consigo mesmo. A auto-fala é um conjunto de regras,
pensamentos e crenças de enfrentamento para colocar o comportamento do atleta sob
controle da atividade a fim de melhorar sua concentração e desempenho. A auto-fala
pode ser descrita como falar para si mesmo, pensar em voz alta. Pensar alto é
algo que aprendemos a fazer quando crianças, porque nos ajuda a realizar
tarefas de forma mais eficiente. A auto-fala é utilizada para direcionar a
atenção do atleta para o estímulo adequado. A idéia é que focalizar o
pensamento desejado levará a ação desejada. A auto-fala de conteúdo emocional
pode ser utilizada para motivar o atleta em determinadas situações, por exemplo,
quando um atleta fala pra si mesmo: “Vamos lá que você consegue!; Você está
indo bem!; Você é esforçada!; Falta pouco!; Quanto mais você lutar mais forte
será!” Provavelmente uma corredora pode se beneficiar deste tipo de auto-fala
em momentos que quer desistir da atividade.
3. Como acabar com a sensação de frustração
ao não levar uma modalidade esportiva adiante?
Não alcançar
determinados objetivos na vida é normal e isto ocorre porque ora ou outra
fracassamos. Faz parte da vida. O importante é fazer uso dos fracassos e
aprender com os erros passados. O que poderei fazer daqui pra frente? Quais
informações importantes tiro com o meu fracasso? Será que eu planejei direito
as coisas?
4. Por outro lado, como encontrar o
exercício físico que mais tenha a ver conosco? Até que ponto nosso jeito de ser
influencia na hora da escolha? Por quê?
Em geral,
todas as pessoas tem um perfil psicológico e tem um correspondente nas práticas
físicas. Pessoas mais sociáveis, por exemplo, tendem a praticar e ficar mais
satisfeitas em esportes de equipe. Já pessoas mais vaidosas tendem a fazer
musculação ou ginásticas e se sentirem mais realizadas. É como se tais práticas
realizassem suas necessidades emocionais.
Em alguns
casos relembrar as atividades físicas realizadas na infância pode dar idéia de
alguma pratica que continua saborosa. Quando menina, por exemplo, gostava de
jogar vôlei e provavelmente se voltar a jogar vai sentir parte daquele prazer
passado. E ainda, procurar atividades
lúdicas e divertidas é outra alternativa que colabora com o envolvimento de
atividades físicas.
Vale a pena também
testar modalidades diferentes. Tem gente que detesta musculação, então, pode
escolher outra atividade – não importa qual. O importante é ter o gasto
energético. Todo exercício mexe com o corpo e vale testar alguns para encontrar
o que mais produz prazer.
5. É possível reforçar o ânimo, a
autoconfiança e a motivação na hora da malhação? Como?
Tudo é uma
questão de prática: ter uma rotina e colocar como uma de suas prioridades o seu
bem estar. Quanto mais se exercita, mais quer continuar – se depois de dois
meses a pessoa diminui em 50% a frequência nas aulas é porque há uma forte
tendência de parar de vez. Por isso, deve se esforçar para não faltar e treinar
o maior número de vezes por semana possível. Só assim vai perceber mudanças
positivas no corpo, motivar-se, ter prazer, fazer amigos, e portanto, inserir a
ginástica na sua rotina. E isso pode ocorrer através do estabelecimento de
metas alcançáveis. Se vai praticar uma corrida, por exemplo, estabeleça metas
alcançáveis e gradual e levemente aumente os seus limites. Apesar de ser um
passo saudável, a transição de uma vida sedentária para uma rotina de
exercícios deve ser gradual e realizada com acompanhamento médico. Uma
iniciante, por exemplo, pode fazer uma planilha com seu progresso. Ela pode
preencher uma planilha com seus dados toda semana e checar se a sua performance
está mesmo melhorando como o previsto. E estabelecer determinado auto-elogios
ou prêmios por cada conquista ou até mesmo falar para as amigas sobre seu
desempenho.
6. É possível dar dicas práticas às
leitoras de como mudar as próprias atitudes para evitar a autosabotagem?
a) Escolher um local que seja
perto: É importante avaliar bem se vai ter energia de se deslocar para chegar até
o parque ou à academia. Informar-se a respeito de praças, ciclovias e parques
mais próximos de sua residência.
b) Iniciar com atividade mais
leves: É importante começar com práticas leves e de baixo impacto, como
caminhadas, atividades aquáticas e passeios de bicicleta, preferencialmente em
locais planos. No início, o objetivo não é ficar linda, queimar gordura ou
ganhar tônus muscular. A meta é desenferrujar, colocar o corpo em movimento
para descobrir o prazer dos exercícios. Entidades ligadas à atividade física
recomendam 30 minutos de prática diária para manter níveis saudáveis de
condicionamento. Para quem está parado há muito tempo, o ideal é fazer
exercícios três vezes por semana em dias alternados e progredir gradativamente
para cinco vezes por semana.
c) Superar a si mesmo: Lembrar
que o seu maior inimigo é você mesmo e, portanto, não se deve comparar-se com
os outros.
d) Malhar e namorar ao mesmo
tempo: se o amor anda reclamando de falta de atenção, convide-o para suar ao
seu lado. Se ele já pratica alguma atividade física melhor ainda. Um estudo
feito pela Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, concluiu que muitas
mulheres são motivadas pelo companheiro a mexer o corpo.
e) Estabelecer autofalas
adequadas: 1) a auto-fala deve ser breve e simples foneticamente; 2) precisa
estar associada logicamente à habilidade executada; 3) tem que ser compatível
com o tempo disponível para execução da tarefa.
f) Mentalizar para aumentar a
motivação: Outra técnica bastante utilizada é o treinamento mental que é o
processo de imaginar-se e sentir-se desempenhando uma atividade. Essa técnica
deve envolver todos os sentidos utilizados ao se executar realmente a
habilidade que está sendo visualizada. Inicialmente o atleta deve utilizar o
treinamento mental para habilidades mais simples e depois praticar as mais
complexas. Recomenda-se também que a habilidade ou evento imaginado se
aproximem do ritmo ou velocidade do desempenho real. É fundamental que o
praticante sempre imagine que está sendo bem sucedido.
g) Convidar outras pessoas e
organizar grupos para praticar atividades físicas: O espírito de equipe é estimulante
isto porque fazer parte de uma turma envolve cumprir unida todas as metas
desafiadoras estabelecidas pelo professor. Dessa forma, até mesmo as propostas
individuais se tornam mais instigantes e fáceis de conquistar. Experimente
fazer aula em grupo. Quem se exercita em turma se envolve mais com o esporte e,
consequentemente, permanece mais na academia do que as pessoas que se isolam
fazendo musculação, bike ou esteira. A prática da dança de salão é um bom
exemplo.
h) Por falta de tempo pode-se usar
alternativas: Usar menos o carro, buscar alternativas. Usar a bicicleta para se
deslocar. Ou ainda procurar descer alguns pontos antes do seu destino para caminhar
mais.
i) Respeitar o corpo: Respeitar
seus limites, fazer pausas para alongamentos ou para conversar...
j) Ver pequenas melhoras: Você
pode, por exemplo, tirar uma foto de biquíni quando começar a malhar e algum
tempo depois para ver a melhora. Pode também adotar uma roupa como referência:
nada melhor do que aquele jeans antigo para comprovar se a malhação está ou não
surtindo efeito. A sugestão é separar uma calça que a pessoa adorava vestir e
que seja do manequim que deseja voltar a usar. O ideal é experimentá-la
regularmente, aproximadamente três vezes por mês. E perceber a diferença.
k) Pagar para praticar uma
atividade física: É paradoxal mais é o que acontece. Quanto mais a pessoa gasta
por mês maior é sua assiduidade no treino. O investimento faz o cliente pensar.
Outro fator é o conforto: em muitas academias o espaço é grande e não faltam
aparelhos à disposição. As grandes também são as pioneiras em lançar aulas e
equipamentos novos.
l) Respeite seu horário para
treinar – estudos comprovam que durante o dia nosso organismo funciona com mais
eficácia do que à noite. Portanto, malhe cedo ou à tarde, especialmente se
quiser emagrecer. Mas, se você só tem pique quando escurece, vá em frente.
Melhor exercitar-se nesse período do que ficar parado.
m) Ajuda especializada: Em alguns
casos um Personal trainer e/ou apoio psicológico de um psicólogo de preferência
do esporte pode ser útil.
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