segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Drogas de abuso - psicotrópicos - dependência química

ESTE TEXTO ESTÁ EM CONSTRUÇÃO

I) CONCEITUAÇÃO DO TERMO DROGA
•A palavra droga: Da palavra droog (holandes antigo) que significa folha seca.
•Droga para a medicina: Qualquer substância capaz de modificar a função dos organismos vivos, resultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento.
•O termo PsicoTrópico: Tropismo - Atração pelo que sentimos, fazemos e pensamos (o que vem do cérebro).
• Substância psicoativa com potencial de abuso e de auto-administração.
II) USO, ABUSO E DEPENDÊNCIA
•USO: qualquer consumo de uma substância
–Experimental, ocasional, regular
•ABUSO: uso com problemas, uso nocivo
•DEPENDÊNCIA: uso compulsivo, com perda de controle, problemas sérios com Tolerância e Síndrome de Abstinência e estreitamento do repertório.
Síndrome de dependência(segundo critérios do DSM IV).
(1) tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos:(a) uma necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para adquirir a intoxicação ou efeito desejado(b) acentuada redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade de substância.
(2) abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos:(a) síndrome de abstinência característica para a substância (consultar os Critérios A e B dos conjuntos de critérios para abstinência das substâncias específicas)(b) a mesma substância (ou uma substância estreitamente relacionada) é consumida para aliviar ou evitar sintomas de abstinência.
(3) a substância é freqüentemente consumida em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido.
(4) existe um desejo persistente ou esforços mal-sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso da substância.
(5) muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção da substância (por ex., consultas a múltiplos médicos ou fazer longas viagens de automóvel), na utilização da substância (por ex., fumar em grupo) ou na recuperação de seus efeitos.
(6) importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância.
(7) o uso da substância continua, apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pela substância (por ex., uso atual de cocaína, embora o indivíduo reconheça que sua depressão é induzida por ela, ou consumo continuado de bebidas alcoólicas, embora o indivíduo reconheça que uma úlcera piorou pelo consumo do álcool).
III) Síndrome de dependência(segundo critérios do CID-10):
Presença de três ou mais requisitos abaixo durante o ano anterior:
A - Forte desejo ou compulsão para consumir a substância;
B - Dificuldade de controlar o consumo no início, término ou quantidades consumidas;
C - Sintomas da abstinência, quando o consumo é reduzido ou interrompido;
D - Aumento progressivo da tolerância, requerendo doses cada vez maiores da droga para alcançar seus efeitos originais;
E - Abandono progressivo dos interesses e atividades de lazer, aumentando a quantidade de tempo necessário para obter, tomar e/ou recuperar-se dos efeitos da droga;
F - Persistência no uso da substância, apesar das evidências nocivas.
IV) Outros critérios de avaliação:
Sinais e sintomas importantes de serem investigados:
Baixo estreitamento do repertório
Baixa proeminência da substância
Baixo alívio ou evitação dos sintomas de abstinência com o uso da substância
Baixa reinstalação da síndrome de dependência após um período de abstinência.
V) Conceitos:
TOLERÂNCIA: Necessidade de uma dose cada vez mais alta para produzir o mesmo efeito inicial.



  • SENSIBILIZAÇÃO: Na sensibillidade dos receptores com que a droga interage:
    • up-regulation (supersensibilidade – ex: NMDA/álcool; cocaína)
    • down-regulation (dessenssibilização) TOLERÂNCIA REVERSA (SENSIBILIZAÇÃO):
    potencialização do efeito inicial da droga após repetidas administrações
    • classicamente observada com cocaína e anfetamina (também outras drogas)
    • efeito estimulante
  • •potencialização do efeito estimulante – acompanhado por uma sensibilidade aumentada do sistema reforçador
    • modelo para o “craving”
















ABSTINÊNCIA/
Adaptações Crônicas ao Abuso

VII)CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS De acordo com:
•Efeitos psíquicos:
•Estimulantes
–anfetaminas, cocaína, cafeína




•Depressoras
–álcool, barbitúricos, BDZs, opióides














•Perturbadoras
–maconha, LSD, mescalina, anti-Ch.








•“Peso”:a)“Droga pesada”
–dependência física
–tolerância, síndrome de abstinência
–exemplo: heroína


b)“Droga leve”
–dependência psicológica
–exemplo: maconha

•Status legal (De acordo com portaria do MS):
•“Droga lícita”
•“Droga ilícita”
•Modo de produção:
•Naturais
•Semi-sintéticas
•Sintéticas
VIII) Motivos para experimentar:
1) Fugir de problemas com a família/ com os pais.
2) Querer ser aceito num grupo de amigos.
3) Experimentar sensações novas e gostosas.
4) Se sentir mais solto, menos tímido, iniciar paquera…
5) Ir contra as regras da sociedade.
6) Escapar de pensamentos e sentimentos ruins.
7) Ficar mais à vontade em festas e programas.
8) Estudar e aprender com mais facilidade.
9) Fazer alguma coisa no tempo livre.
10) Aumentar a criatividade, Se conhecer melhor…
Histórico das drogas
uso de substâncias psicoativas foi extensamente documentado pelas sociedades antigas que dominavam a escrita
O consumo de substâncias psicoativas é praticado pela humanidade desde tempos imemoriais. Evidências arqueológicas sugerem que a noz de Betel (Areca catechu), hoje a quarta droga psicotrópica mais consumida no mundo (depois do álcool, tabaco e cafeína) já era mascada há 13.000 anos no Timor e há 10.700 anos na Tailândia. Indícios do cultivo da Cannabis na Índia datam de cerca de 7000 anos a.C.. Os egípcios antigos já dominavam o processo da fabricação da cerveja em 3000 a.C. e os chineses consumiam o extrato da Pappaver somniferum, o ópio, para diminuir a ansiedade e induzir o sono, como registrado em um manuscrito com 5000 anos de idade. Espécies de tabaco (N. tabacum e N. rustica) eram comuns na América na época do descobrimento, e estão entre as plantas mais antigas cultivadas no Novo Mundo, juntamente com o milho e a mandioca. Similarmente, o cultivo de coca (E. cocca) por comunidades andinas pode ser datado de 5 a 7 mil anos atrás e está profundamente arraigado à cultura local (Sullivan & Hagen, 2002).
O uso abusivo destas substâncias, ou seja, o consumo excessivo sem fins terapêuticos e às vezes prejudicial ao indivíduo também é conhecido há bastante tempo, sendo inclusive citado no poema épico de Homero “A Odisséia” em 850 a.C.. Foi apenas em meados do século XIX, no entanto, que a dependência destas substâncias começou a perder seu estigma moral e passou a ser encarado como problema médico. Magnus Huss propôs em 1849 o alcoolismo como uma intoxicação crônica, antecipando quase todas as complicações físicas causadas pelo álcool conhecidas atualmente. A primeira Classificação Internacional de Doenças (CID), elaborada em 1893, enquadrava o uso abusivo de drogas na seção de doenças gerais; aquelas que afetam o organismo como um todo. Foi apenas em 1950, na 6a. revisão da CID, que o uso abusivo de substâncias psicoativas passou a ser encarado como problema mental. Atualmente a classificação mais aceita é a da Associação Americana de Psiquiatria (APA), que na quarta edição do seu Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-IV) define um quadro de sintomas e comportamentos e, a partir deste quadro, determina o diagnóstico de síndrome de dependência de substâncias quando ocorre a presença três sintomas ou mais durante o período de doze meses.
A probabilidade de um indivíduo se tornar dependente de uma substância é influenciada por muitas variáveis. Estas variáveis, que serão discutidas adiante, podem ser organizadas basicamente em três categorias: variáveis ligadas à droga, ao usuário e ao ambiente.
1)Variáveis ligadas à droga
As drogas variam em sua capacidade de produzir sensações agradáveis nos indivíduos que as consomem. Substâncias que causam intenso prazer ou euforia possuem uma propensão maior em serem administradas repetidamente. A capacidade de causar prazer é denominada propriedade reforçadora. Existem áreas – estruturas – no cérebro intimamente relacionadas ao reforço, como o núcleo accumbens, área tegmental ventral, estriado e outras regiões da via mesolímbica. A via mesolímbica, rica em neurônios dopaminérgicos, também é popularmente conhecida como ‘via do prazer’. As drogas de abuso têm como propriedade comum a ativação destas estruturas cerebrais. É possível, por exemplo, observar um aumento nos níveis extracelulares de dopamina no núcleo accumbens após a administração de cocaína, álcool, heroína e nicotina, bem como alimentos doces ou na apresentação de um parceiro sexual. Em contraste, drogas que bloqueiam a liberação da dopamina nestas regiões cerebrais causam efeitos desagradáveis como a disforia (Koob & Nestler, 1997).
Além da capacidade em ativar áreas de reforço no SNC, a rapidez com que os efeitos de uma droga são sentidos após a sua administração, bem como a duração dos efeitos, também influenciam no potencial de abuso da substância. Em geral, drogas com pico de ação rápido e meia vida curta têm maior probabilidade de serem administradas repetidamente do que aquelas que possuem início de ação e efeitos prolongados (Goodman & Gilman, 2001). A repetição do uso aumenta nitidamente o potencial em causar dependência. O exemplo da cocaína ilustra bem este fato: as folhas de coca são utilizadas milenariamente pela população andina na forma de chá ou mastigadas, obtendo um efeito estimulante leve e prolongado. Esta forma de administração possui pouco ou nenhum potencial de abuso ou dependência. Com a purificação da cocaína no séc. XIX esta pôde ser consumida em doses maiores por via oral ou inalatória, produzindo níveis sangüíneos mais altos e início do efeito mais rápido e intenso. Logo se descobriu que a solução aquosa de hidroclorito de cocaína poderia ser administrada diretamente na corrente sangüínea, gerando efeito praticamente imediato. No início dos anos 1980 um resíduo da extração da cocaína popularmente chamado de crack foi introduzido no mercado. O crack contém cocaína na forma de base livre alcalóide, que possui grande lipossolubilidade e é capaz de cruzar imediatamente a barreira hematoencefálica. Ao inalar os vapores resultantes da queima do crack é possível obter concentrações sangüíneas comparáveis à injeção endovenosa; a cocaína presente no crack atinge o cérebro sem sofrer metabolismo de primeira-passagem ou diluição na circulação sistêmica. Por estes motivos, a inalação do crack é a forma de uso da cocaína que mais possui potencial em causar dependência, seguida da administração endovenosa e intranasal.
A disponibilidade e custo de uma substância também são capazes de afetar em muito o potencial de abuso. Na civilização ocidental, por exemplo, o álcool e o tabaco são drogas amplamente abusadas devido a facilidade de aquisição e ao baixo custo. Estima-se que 69,7 % da população brasileira já tenha experimentado bebidas alcoólicas, sendo que cerca de 11,2 % podem ser considerados dependentes (CEBRID, 2002). O número de viciados em heroína no Brasil, no entanto, não ultrapassa 0,1 % da população, fato que pode ser explicado pela dificuldade em adquirir esta droga nas ruas brasileiras.

2)Variáveis ligadas ao usuário
Em geral os efeitos das drogas variam entre os indivíduos. Uma mesma dose (baseada em mg/kg de peso) administrada a pessoas diferentes pode resultar em concentrações plasmáticas distintas. A variedade nos genes que codificam os receptores alvos de determinada substância, ou enzimas responsáveis pelo término do efeito podem determinar os diferentes graus de reforço, euforia e efeitos desagradáveis observados entre os indivíduos. Um exemplo clássico de como o metabolismo de uma substância pode interferir no abuso da mesma refere-se à aldeído-desidrogenase (ALDH), uma enzima responsável pela degradação do acetaldeído (metabólito do etanol). Em populações do oriente é comum a ocorrência de um subtipo de ALDH menos eficaz. O decorrente acúmulo de acetaldeído após o consumo de álcool provoca efeitos desagradáveis como rubor facial, tontura e dor de cabeça. Consequentemente, pessoas com este subtipo enzimático tendem a não consumir bebidas alcoólicas (Lieber et al., 1991).
Outros fatores genéticos podem contribuir no risco de desenvolver dependência a substâncias de abuso. Foi demonstrado que filhos de alcoólatras têm maiores chances de também se tornarem alcoólatras. Esta tendência foi demonstrada inclusive em gêmeos univitelinos criados por famílias diferentes (Shickit & Smith, 1997). Estudos de QTL (quantitative trait loci) em linhagens de camundongo caracterizadas pelo elevado consumo de etanol revelaram genes associados ao risco de alcoolismo, como o que codifica o receptor D2 para a dopamina e o 5-HT1B para a serotonina. De fato, o polimorfismo no gene humano que codifica o receptor D2 foi proposto como marcador para o risco de alcoolismo, os resultados, no entanto, ainda são controversos (Crabbe et al., 1999).

3)Variáveis ligadas ao ambiente
O consumo de substâncias psicoativas é altamente influenciado pelas regras e pressões da sociedade. No mundo islâmico, por exemplo, o consumo de THC na forma de haxixe é visto como normal e amplamente difundido. O álcool, em contrapartida, é proibido pelos muçulmanos e consequentemente pouco consumido em relação aos países do ocidente. As oportunidades de recreação e ocupação, e educação também possuem influência marcante no consumo de drogas. Um estudo realizado em albergues públicos da cidade de São Paulo demonstrou níveis de dependência ao álcool em torno de 55 % (Sadek, 1991). Geralmente nas parcelas menos favorecidas da população são encontrados os níveis mais altos de abuso de drogas, por isso muitas campanhas governamentais de combate a drogas visam educar e manter estas pessoas ocupadas (através de esportes, arte e outras atividades).
Um ambiente estressante também pode desencadear o consumo de drogas. Foi demonstrado que o stress induzido pelo choque intermitente nas patas de ratos é capaz de desencadear um prolongado e robusto comportamento de procura por heroína em animais previamente treinados para autoadministrar heroína, mesmo após seis semanas de abstinência (Shaham & Sewart, 1995). Este e outros estudos sugerem uma relação biológica interessante entre uso de drogas e stress, já que os seres humanos vivem em uma sociedade cada vez mais estressante.
A interação entre as diversas variáveis ligadas à droga, ao indivíduo e ao ambiente podem levar ao consumo exagerado, caracterizado pela perda do controle, alterações do estado psicológico, problemas de saúde, diminuição da qualidade de vida e prejuízo das atividades sociais. Algumas das principais drogas capazes de desencadear este quadro serão discutidas a seguir.
Resumo das variáveis que influenciam o consumo abusivo e a dependência às drogas:
1)Referente a droga.
- Disponibilidade.
- Custo.
- Pureza/potência.
- Via de administração.
- Farmacocinética.
- Capacidade de ativar as vias de reforço.
2) Referente ao usuário.
- Hereditabilidade.
- Tolerância inata.
- Rapidez em adquirir tolerância.
- Probabilidade em interpretar a intoxicação como prazerosa.
- Metabolismo da droga (farmacocinética).
- Comorbidades psiquiátricas.
- Experiências/expectativas prévias.
- Propensão ao comportamento de consumo abusivo.
3) Referente ao ambiente
- Conjunto social
- Atitude da comunidade.
- Disponibilidade de outras fontes de prazer ou recreação.
- Oportunidades ocupacionais (emprego e educação).
- Estímulos condicionados.

PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DAS DROGAS DE ABUSO

Cafeína
A cafeína é a droga psicoativa mais utilizada no mundo. Na América do Norte, por exemplo, 80-90% dos adultos fazem uso regular dessa substância (Gilbert, 1984). A cafeína está presente em diversas fontes alimentares como chás, café, achocolatados, barras de doces e refrigerantes. O conteúdo de cafeína nesses alimentos é variado sendo de 71-220 mg/150 ml de café, 32-42 mg/ 150 ml de chá, 32-70 mg/ 330 ml de bebidas de cola e 4 mg/ 150 ml de achocolatados (Debry, 1994).
Após administração oral, a cafeína é rapidamente e completamente absorvida (cerca de 99%), sendo que os níveis sangüíneos máximos ocorrem após 30-45 min e a meia vida de eliminação é em torno de 4-6 h (Denaro & Benowitz, 1991). O mecanismo de ação primário da cafeína é um antagonismo competitivo de receptores A1 e A2A para a adenosina (Fredholm et al, 1999). Dentre a variedade de efeitos fisiológicos produzidos por essa droga destacam-se: efeitos no sistema vascular cerebral, pressão sangüínea, função respiratória, atividade gástrica e do cólon, alterações no volume urinário e desempenho em atividades físicas (James, 1997). Doses baixas a moderadas de cafeína (20-200 mg) produzem aumento de bem-estar, alegria, energia, alerta e sociabilidade enquanto que altas doses produzem sensações desagradáveis como ansiedade, nervosismo e indigestão (Griffiths et al, 2003). Doses diárias de cafeína não são capazes de promover liberação de dopamina no núcleo accumbens, porém a liberação desse neurotransmissor no córtex pré-frontal (estrutura também envolvida nas vias de reforço) é consistente com as propriedades reforçadoras da cafeína (Nehlig, 1999). A administração crônica de cafeína resulta em tolerância para um grande número de efeitos fisiológicos, subjetivos e comportamentais, sendo que o uso regular desta droga produz dependência física, evidenciando sintomas de abstinência caso o uso da cafeína seja interrompido, acredita-se que as bases biológicas da dependência física sejam relacionadas à sensibilidade aumentada para a adenosina endógena (Griffiths & Mumford, 1995).
Cocaína e anfetaminas
A cocaína exerce seus efeitos por dois mecanismos principais: bloqueio dos canais de sódio, funcionando como anestésico local, e potencialização da neurotransmissão excitatória promovida pelo bloqueio da recaptação de monoaminas, principalmente a dopamina, bem como pela inibição da monoamina-oxidase (MAO) e liberação adicional de adrenalina nas glândulas adrenais (Karch, 1999 e White & Lambe, 2003). Os efeitos reforçadores da cocaína e seus análogos correlacionam-se com a capacidade de impedir a remoção de dopamina da fenda sináptica através do bloqueio do transportador de DA (Figura 2). Isto leva ao aumento da estimulação dopaminérgica nas áreas críticas do cérebro já mencionadas anteriormente (Ritz et al., 1987). Em menor escala ocorre o bloqueio dos transportadores de noradrenalina e serotonina, e o acúmulo de noradrenalina parece ser importante especialmente no sistema cardiovascular. Usuários de cocaína frequentemente descrevem os efeitos como mais intensos e prazerosos que um orgasmo. A patofisiologia do abuso de cocaína (tabela 3) envolve não apenas os efeitos farmacológicos da droga bem como aspectos relacionados à via de administração e estilo de vida do usuário (White & Lambe, 2003). Frequentemente ocorrem sintomas como ansiedade intensa, paranóia e alucinações associadas à hipertensão, taquicardia, hipertermia e depressão respiratória (Stahl, 2002).
Figura 2: Mecanismo de ação da cocaína: A cocaína liga-se ao transportador da dopamina (a) impedindo a recaptação desta. O excesso resultante de dopamina na sinápse é responsável pelos efeitos comportamentais observados da cocaína. Em menor escala ocorre a ligação aos transportadores de serotonina e nora-drenalina (b), resultando no acúmulo destes neurotrans-missores (adaptado de Caine, 1998).










Repetidas exposições à cocaína podem produzir adaptações complexas do sistema dopaminérgico, incluindo tolerância e o fenômeno oposto, chamado sensibilização ou tolerância reversa. Um exemplo de tolerância reversa que pode acontecer com alguns indivíduos é a psicose paranóide observada em doses que anteriormente produziam apenas euforia. A psicose paranóide gerada pela intoxicação por cocaína é praticamente indistingüível daquela observada na esquizofrenia (Stahl, 2002). Em virtude de a cocaína ser tipicamente utilizada de modo intermitente, mesmo os usuários mais freqüentes passam por períodos de abstinência caracterizados por intensa disforia, anedonia (incapacidade de sentir prazer algum), sonolência, fadiga, bradicardia e forte desejo pela cocaína (Goodman & Gilman, 2001).


Resumo da Patofisiologia associada ao abuso de cocaína( Adaptado de White & Lambe, 2003):
Estilo de vida do usuário: Deficiências Nutricionais e Criminalidade.
Intoxicação: Morte acidental, Homicídio e Suicídio.
Método de abuso:Inalação(queimaduras térmicas e químicas, dano até mesmo perda do septo nasal) e Administração intravenosa (Endocardite infecciosa, HIV, hepatite e Overdose aguda).
Efeitos farmacológicos: Cardiovasculares (↑ pressão arterial e freqüência cardíaca, Isquemia e infarto do miocárdio, Dor torácica, trombose coronariana, Disrritmia, miocardite e ruptura aórtica
Respiratórios (Infiltração alveolar e interticial, Edema e infarto pulmonar e hemorragia pulmonar).
Gastrintestinais (Gastrite e colite isquêmica úlceras infarto e hepatotoxicidade).
Cerebrovasculares (Hemorragia intracerebral, Infarto intracerebral, Vasculite)
Neurológicos (Hipertemia, tremores)
Psicológicos (Euforia, adição e abstinência, Depressão, fatiga (uso prolongado), Psicose, esquizofrenia
Renais (Mioglobinúria, Falência renal aguda, Infarto renal)
Maternais ( Aborto, Prematuridade, Deficiências cardíacas, Tremores
Fetais (Retardo de crescimento, Morte intra-uterina, Microcefalia, Déficits comportamentais
Até o momento não existe terapia medicamentosa eficaz no tratamento da dependência à cocaína. O sistema dopaminérgico e serotonérgico têm sido alvo de numerosos estudos utilizando agonistas e antagonistas, porém até então sem sucesso. Recentemente uma vacina capaz de estimular a produção de anticorpos contra a cocaína demonstrou eficácia na redução dos efeitos após a administração aguda de cocaína bem como no consumo da droga. Esta nova abordagem no momento aguarda aprovação das agências reguladoras (Fox, 1997).
Efeitos subjetivos similares aos da cocaína podem ser obtidos com a administração de anfetaminas (anfetamina, d-anfetamina, metanfetamina, fenmetrazina, metilfenidato e dietilpropiona). Estas drogas aumentam a liberação de dopamina atuando no neurônio pré-sináptico, em vez de bloquear o transportador como faz a cocaína. Os efeitos da anfetamina e seus derivados são muito semelhantes aos da cocaína, embora a euforia produzida seja menos intensa e mais duradoura (Stahl, 2002). Drogas anfetaminérgicas são utilizadas na clínica como moderadores de apetite, embora a eficácia terapêutica e a relação custo/benefício para o paciente seja altamente questionável. O Brasil é o maior consumidor mundial destes medicamentos, e o abuso e dependência predomina em mulheres jovens (de 20 a 30 anos) (CEBRID, 2002).
Benzodiazepínicos
Os benzodiazepínicos são utilizados como relaxantes musculares, anticonvulsivantes e ansiolíticos. Os mecanismos de ação dessas drogas são bastante interessantes envolvendo ligação em receptores específicos provavelmente sítios de ligação para purinas endógenas, bem como interação com receptores GABA potencializando a função inibitória desse neurotransmissor (Schuckit, 1995).
O potencial de abuso dos benzodiazepínicos, culminando com a produção da síndrome de dependência é um fenômeno clínico relativamente recente, porém foi somente a partir de meados dos anos 70 - quando os primeiros estudos clínicos evidenciaram o desenvolvimento de dependência e sintomas de abstinência em doses terapêuticas - que se passou a considerar o risco dos benzodiazepínicos para induzirem abuso ou dependência. O uso prolongado de altas doses de benzodiazepínicos para tratar transtornos psiquiátricos primários (estados ansiosos e alterações do sono, principalmente as queixas de insônia), que compreende períodos acima de 4 a 6 semanas, pode levar ao desenvolvimento de tolerância, abstinência e consequentemente dependência, particularmente quando prescreve-se doses elevadas de benzodiazepínicos de alta potência e de meia-vida curta (midazolam, lorazepam, alprazolam e triazolam) (Castro & Laranjeira, 2000).

Etanol
O mecanismo de ação de qualquer droga é determinado principalmente pela sua estrutura química e sua interação com um receptor no organismo. Uma estrutura simples como a do etanol, no entanto, não possui a complexidade necessária para atuar especificamente sobre um receptor, e é mais provável que seus efeitos decorram da ligação em diversos sítios de ação.
O etanol possui um efeito depressor bem conhecido sobre o sistema nervoso central. Paradoxalmente, a sociabilidade e euforia aumentam em concentrações sangüíneas abaixo de 50 mg/dl, produzindo um efeito semelhante ao dos estimulantes. Nesta dose os indivíduos freqüentemente ficam mais falantes e, em alguns casos, violentos e agressivos. Em concentrações sangüíneas de 50 – 100 mg/dl o efeito depressor passa a dominar, refletindo em distúrbios no equilíbrio, concentração e tempo de resposta aumentado. Vale notar que, no Brasil, 60 mg/dl é o limite permitido por lei para conduzir um automóvel. Ataxia, fala arrastada e prejuízo na função motora e mental, incluindo distúrbios na memória de curta duração, estão presentes em concentrações de 100 – 150 mg/dl. Concentrações mais altas levam progressivamente à perda dos sentidos, coma e morte por parada respiratória (Hunt, 1998).
O etanol é capaz de afetar todas as células do organismo, mas grande parte de suas ações ocorrem em neurônios. Uma das propriedades do álcool é a de modificar a permeabilidade da membrana celular, por uma perturbação em lipídeos da membrana neuronal (Seeman, 1972; Tabakoff & Hoffman, 1983; Hunt & Maychrowitcz, 1985). Embora a influência do etanol sobre as membranas celulares seja comprovada, ela não explica as ações desta droga sobre elementos que regulam a atividade elétrica de neurônios nas concentrações observadas fisiologicamente. Portanto, nos últimos vinte anos a pesquisa tem se voltado às ações do álcool sobre neurotransmissores específicos, receptores que interagem com estes, canais iônicos e mensageiros intracelulares.
Vários neurotransmissores estão envolvidos nos efeitos do etanol. Provavelmente por ação no sistema colinérgico, por exemplo, o álcool provoque prejuízo cognitivo e perda de memória (Hodges et al., 1991). Já as propriedades sedativas e ansiolíticas parecem estar ligadas a uma ação no sistema dos receptores para o ácido g-aminobutírico (GABA), considerado o neurotransmissor inibitório mais abundante no sistema nervoso central (Tabakoff et al., 1996). O sistema glutamatérgico, que desempenha função excitatória no sistema nervoso central, responsável em algumas patologias como as convulsões, é bloqueado pelo etanol (Dildy-Mayfield & Leslie, 1989) e está envolvido no desenvolvimento de tolerância (Khanna et al., 1991, 1992). O sistema dopaminérgico tem sido associado com a sensação de recompensa e satisfação gerada pela administração de álcool (Nevo & Hamon, 1995) e o sistema opióide, por mediar ações do etanol no sistema dopaminérgico, pode interferir na resposta de recompensa possivelmente através da liberação de b-endorfinas (Gianoulakis, 1993; Herz, 1997).
Tolerância a diversos efeitos do álcool, como ataxia, hipotermia, rubor facial e sonolência desenvolve-se rapidamente, mesmo após uma única dose. A tolerância ao etanol torna-se mais evidente com o consumo crônico, sendo que alguns indivíduos chegam a suportar uma dose tão alta quanto 400 mg/dl sem apresentar sintomas grosseiros de sedação. Como ocorre com outras drogas, no entanto, a tolerância não se desenvolve de modo uniforme aos diversos efeitos. Não há tolerância aos efeitos cardio-respiratórios (elevando o risco de morte por superdosagem) e dados demonstrando tolerância aos efeitos reforçadores ainda são altamente controversos (Kalant, 1996; Beridge, 2003).
A interrupção abrupta do consumo crônico de etanol leva a um quadro de abstinência caracterizado pela exacerbação dos sistemas de neurotransmissores excitatórios, especialmente o glutamato. Sintomas comuns incluem sudorese, tremores, hipertermia, irritabilidade, hipertensão, insônia e forte desejo pelo álcool (compulsão). Casos graves podem levar ao quadro de delirium tremens, onde podem ocorrer alucinações visuais e táteis, confusão mental, agitação severa, convulsões e em alguns casos, óbito. A síndrome de abstinência ao álcool normalmente é tratada com benzodiazepínicos (diazepam, clordiazepóxido) ou anticonvulsivantes (carbamazepina) (Goodman & Gilman, 2001).
Algumas drogas já se encontram disponíveis para o tratamento do alcoolismo. O dissulfiram, um inibidor da aldeído-desidrogenase, foi a primeira substância aprovada para esta finalidade. Ao inibir a aldeído-desidrogenase o dissulfiram provoca o acúmulo de acetaldeído caso o paciente venha a ingerir bebidas alcoólicas, levando a sensações desagradáveis como náusea, dores de cabeça e rubor facial. Questões éticas limitam o emprego do dissulfiram e, mesmo com o consentimento do paciente, muitos se recusam em tomar a medicação após algum tempo. Em meados dos anos 1990 a naltrexona, um antagonista opióide, foi aprovada pelo FDA no tratamento do alcoolismo. Este medicamento demonstrou reduzir significativamente o consumo de etanol (Volpicelli et al., 1997), bem como o número de episódios de consumo exagerado (O’Malley et al., 1996). Os trabalhos em grupos de pacientes que receberam álcool e naltrexona demonstraram que a sensação de bem-estar subjetiva decorrente do consumo de álcool diminui significativamente (Volpicelli et al., 1997). É possível que a naltrexona atue na redução do reforço associado ao consumo de etanol, já que este efeito parece ser mediado pela liberação de opióides endógenos. A naltrexona também reduz o desejo por bebidas alcoólicas, ajudando o paciente a manter o estado de sobriedade. Outro medicamento que tem demonstrado eficácia no tratamento do alcoolismo é o acamprosato. Embora seu mecanismo de ação não seja conhecido (há indícios que seja um agonista parcial do receptor NMDA) este medicamento reduz o reforço do etanol de modo semelhante à naltrexona. Além do dissulfiram, naltrexona e acamprosato, o antagonista canabinóide SR-141716A demonstrou eficácia na redução do consumo de álcool etílico e, atualmente, encontra-se em fase pré-clínica de pesquisa.

Nicotina
A queima de um cigarro produz monóxido de carbono e dezenas de outros produtos tóxicos, responsáveis pela alteração da oxigenação dos tecidos. Libera nicotina, substância responsável pela dependência do tabaco, uma amina terciária volátil, capaz de estimular, deprimir ou perturbar o sistema nervoso central e todo o organismo, dependendo da dose e da freqüência com que é utilizada (Henningfield & Keeman, 1993). Cada cigarro contém 7-9 mg de nicotina, sendo pouco mais de 1 mg absorvida rapidamente (cerca de 10s) pelos pulmões do fumante (Benowitz, 1998). A nicotina promove um rápido, mas pequeno aumento do estado de alerta, melhorando a atenção, a concentração e a memória em animais (Heishman et al., 1994), porém, diminuindo o apetite (APA, 1996).
Tragar cigarro produz um efeito estimulante rápido no sistema nervoso central, semelhante àquele descrito pelos usuários de cocaína/crack (Evans et al., 1995). Este efeito, em contraposição aos sintomas desagradáveis da falta da substância no cérebro, pode contribuir para a dificuldade na manutenção da abstinência, pois entre os fumantes que já tentaram parar de usar o tabaco, 5 a 7 tentativas são necessárias (APA,1996). A sensação de relaxamento e calma descrita pela maioria dos usuários tem sido atribuída à inibição de sintomas desagradáveis da síndrome de abstinência (Meliska & Gilbert, 1991). As conseqüências do uso do tabaco incluem efeitos destrutivos em vários tecidos, produzindo desde doenças pulmonares simples até alterações celulares que predispõem ao câncer, assim como alterações cardíacas e vasculares.
As ações da nicotina no sistema nervoso central são mediadas por receptores nicotínicos (USDHHS, 1998) que se encontram distribuídos por todo o cérebro e na coluna vertebral. Pesquisas em animais demonstraram poder da nicotina em induzir tolerância e dependência. Sugere-se que esta capacidade se deva à sua ação no sistema mesolímbico dopaminérgico (Leshner, 1996). A partir de múltiplos sítios de ação, a nicotina produz vários efeitos, preponderantemente excitatórios (Brodie, 1991). A administração aguda de nicotina em ratos pode aumentar a liberação de dopamina no sistema límbico e na via nigroestrital (Wise & Hoffman, 1992). A nicotina diminui o metabolismo da glicose no córtex, refletindo na modulação dopaminérgica do núcleo accumbens, causando uma diminuição da atividade talâmica (London, 1990), também estimula a liberação de noradrenalina em algumas áreas como, por exemplo, as vias noradrenérgicas que emergem do locus ceruleus, passam pelo hipocampo, e chegam ao córtex, vias estas responsáveis pela vigília e pelo comportamento de busca (Mitchell, 1993). Estudos mais recentes identificaram que vias serotoninérgicas que emergem do núcleo da rafe interagem com o sistema dopaminérgico e são responsáveis pelos efeitos reforçadores da cocaína (Richardson & Roberts, 1991). Receptores nicotínicos foram encontrados nesta via, onde a nicotina promoveria a liberação da serotonina, além de diminuir seu turnover (Wada et al., 1990). A nicotina diminui a concentração de serotonina em regiões do hipocampo que cronicamente, diminui a resposta de adaptação ao estresse ambiental (Fagerström & Schneider, 1989). Em relação aos aminoácidos excitatórios a nicotina inibe a liberação do glutamato e libera acetilcolina no hipocampo (Araújo et al., 1988).
O uso de nicotina produz tolerância aguda e crônica no SNC (Benwell et al., 1994). Apesar de nem todas suas ações serem reforçadoras, a auto-administração de nicotina intravenosa foi diminuída por seu antagonista, o Chlorisondamine (Corrigall et al., 1992). Em dependentes de nicotina observa-se urgência ao fumar quando os níveis plasmáticos encontram-se baixos. Se o nível plasmático de nicotina é mantido artificialmente através da infusão endovenosa lenta há significativa redução no número de cigarros fumados e no número de tragadas (Russel, 1987). De fato, o tratamento da dependência à nicotina consiste basicamente em reduzir os sintomas desagradáveis da abstinência através da liberação lenta por adesivos transdérmicos ou gomas de mascar contendo nicotina.

Opióides
Desde tempos bíblicos extraídos da seiva da papoula (Papaver somniferum), os opióides (como a morfina, heroína, metadona, codeína) são atualmente os mais potentes analgésicos conhecidos, de fundamental importância clínica no tratamento da dor. São também, por suas propriedades sobre o humor, abusados fora da legalidade e constituem um importante problema de saúde pública. A heroína, opióide mais utilizado de forma abusiva; quando administrada liga-se aos receptores opióides m, d e k produzindo euforia muito intensa, porém breve, seguida de sensação profunda de tranqüilidade e desligamento, capaz de durar várias horas. Doses elevadas resultam em efeitos aversivos como náuseas, sudorese e ansiedade. Na superdosagem ocorre indução de coma, depressão respiratória e, não raro, óbito. A síntese de agonistas seletivos para os subtipos de receptores opióides permitiu separar alguns efeitos mediados pelos mesmos; os efeitos euforiantes e analgésicos, por exemplo, parecem estar associados à ativação dos receptores m e d-opióides, enquanto que a ativação do receptor k-opióide parece mediar os efeitos desagradáveis (Froelich & Li, 1994).
Tolerância aos efeitos analgésicos e euforiantes ocorre rapidamente após a administração repetida de opióides, levando à necessidade de doses maiores para obter o mesmo efeito. Como não ocorre tolerância aos efeitos sobre o controle da respiração, aumenta o risco da indução de coma e morte por parada respiratória em usuários crônicos. A suspensão abrupta do uso resulta em uma síndrome de abstinência severa, caracterizada por uma série de sintomas como: piloereção, dilatação das pupilas, sudorese profusa, irritabilidade, sensibilidade aumentada à dor (hiperalgesia), diarréia, vômitos, febre, disforia e intenso desejo pela droga. De fato, a síndrome de abstinência aos opióides é muito importante na manutenção do consumo, e frequentemente outras substâncias (como benzodiazepínicos ou álcool) são abusadas com intuito de reduzir estes sintomas.
A intoxicação aguda (superdosagem) por opióide pode ser revertida com a administração endovenosa de naloxona, um antagonista de ação rápida. A naloxona, no entanto, pode desencadear os sintomas da síndrome de abstinência. Normalmente no processo de desintoxicação é utilizada metadona ou outra medicação opióide de longa duração, com retirada gradual de modo a evitar a síndrome de abstinência. Durante a manutenção da metadona, os pacientes não irão passar pelos “altos e baixos” decorrentes do uso de heroína; o desejo pela heroína diminui e pode, com tempo, desaparecer (Kreek, 1992). Recentemente a buprenorfina, um agonista parcial do receptor m, vem sendo utilizada em alternativa à metadona. Além disso, uma formulação da naltrexona (antagonista) de liberação prolongada que permite 30 dias de medicação após uma única injeção pode ajudar pacientes recém desintoxicados que possuam alto risco de recaída (Goodman & Gilman, 2001).
Maconha
O sistema endocanabinóide de neurotransmissão foi uma das mais importantes descobertas da psicofarmacologia no final do século XX. Este sistema é composto por dois subtipos de receptores, CB1 e CB2, ambos acoplados à proteína G inibitória, sendo o primeiro predominante no cérebro e responsável pela maioria dos efeitos comportamentais observados após a administração do THC. O receptor CB2, por sua vez, encontra-se predominantemente nas células do sistema imune, e pode ser responsável pelos efeitos imunossupressores dos canabinóides (Piomelli, 2003).
Figura 3: Mecanismo de síntese dos endocanabinóides. Na região CA1 do hipocampo a despolarização da membrana (1) abre canais de Ca2+ ativados por voltagem em neurônios piramidais, promovendo (2) o aumento da concentração de Ca2+ intracelular. O Ca2+ pode (3) estimular a síntese de 2-araquidonilglicerol (2-AG) através da diacilglicerol lipase (DGL) ou a síntese de anandamida através da via da fosfolipase D (não demonstrada). Os novos endocanabinóides formados podem atravessar a sinapse para interagir com (4) receptores CB1 em terminais axônicos de neurônios GABA ou (5) receptores CB3 em fibras glutamatérgicas (Adaptado de Piomelli, 2003). Diversas preparações de Cannabis sativa e Cannabis indica são conhecidas, e variam de acordo com a concentração do delta-9-tetrahidrocanabinol, principal agente farmacológico ativo. O haxixe extraído da resina da planta, por exemplo, possui concentrações que variam de 8 a 12 % de D-9-THC. Na maconha, proveniente das folhas secas, esta concentração fica em torno de 2 a 4,5 %. Ao ser inalado o D-9-THC cruza rapidamente a barreira hematoencefálica e atinge os receptores CB1. O início da ação é rápido, permitindo ao usuário modular a dose desejada. Em doses habituais de intoxicação, a maconha produz sensação de bem estar, relaxamento, sociabilidade, perda da noção de tempo, lentificação dos processos de pensamento, prejuízo da memória de curto prazo e momentos especiais de introspecção. Em doses altas pode induzir pânico, delirium tóxico e psicose (Rang & Dale, 1994).
Desde os anos 1970 todas as tentativas de produzir uma autoadministração robusta de D-9-THC em animais de laboratório fracassaram. A autoadministração, no entanto, ocorre com agonistas sintéticos do receptor canabinóide, como o WIN 55,212-2, CP 55,940 e HU-210 (Navarro et al., 2001). O comportamento de autoadministração é bloqueado pelo antagonista canabinóide SR 141716-A e também pela naloxona, sugerindo uma interação entre os sistemas opióide e canabinóide (Tanda et al., 2000).
Há controvérsia sobre o potencial do consumo crônico de THC em causar dependência. Os processos de tolerância, no entanto, são bem documentados em humanos e aparecem rapidamente após as primeiras doses. Sintomas de abstinência não são tipicamente observados na clínica, mas podem ser induzidos pela administração do antagonista CB1. O fato do THC se acumular nos tecidos gordurosos, propiciando uma reserva que é liberada aos poucos para a corrente sangüínea, pode explicar a ausência de uma síndrome de abstinência marcante. O consumo prolongado pode resultar em um estado conhecido com síndrome amotivacional caracterizada pela falta de iniciativa, ambição e deterioramento das atividades sociais como trabalho, estudo e relações interpessoais, e é freqüentemente observado em adolescentes (Stahl, 2002).

Inalantes
Uma grande variedade de substâncias químicas com diversas características faz parte desse grupo de drogas que são administradas por via inalatória (“cheiradas”). Os solventes orgânicos como tetracloreto de carbono, tolueno, gasolina, fluorcarbonos e aerosóis são os principais representantes desse grupo de substâncias que apresentam como característica comum uma elevada lipossolubilidade que permite uma fácil passagem pela barreira hematoencefálica produzindo alterações de consciência similares aos estágios I e II da anestesia. O mecanismo de ação dessas substâncias não é bem compreendido, porém parece estar relacionado com alterações na matriz lipídica de membranas neurogliais no sistema nervoso, bem como modificações no “turnover” e síntese de neurotransmissores.
Os efeitos do uso de inalantes começam poucos minutos após a administração e duram em torno de 15-45 min. Muitos usuários mencionam como efeitos: uma desinibição com uma sensação de flutuação, mistura de percepções ou ilusões, nuvens de pensamentos, sonolência e amnésia após inalação intensa. Os sinais de intoxicação aguda incluem uma enorme variedade de sintomas fisiológicos como irritação ocular, sensibilidade à luz, visão dupla, escuta de sons, irritação de membranas mucosas do nariz e da boca e tosse. Também pode ocorrer náusea, êmese, diarréia e arritmias cardíacas (Schuckit, 1995).

Drogas dissociativas – Fenciclidina (PCP)
A fenciclidina (PCP) foi desenvolvida na década de 1950 como um anestésico cirúrgico intravenoso, sendo depois classificada como anestésico dissociativo. Seus efeitos sedativos e anestésicos são similares a estados de transe e usuários dessa droga relatam experiências de saída do corpo e separação do meio ambiente. A PCP já foi utilizada na prática veterinária, porém seu uso em humanos nunca foi aprovado em virtude de problemas colaterais graves como delírios e agitação extrema vivenciado por pacientes logo após o término dos efeitos anestésicos.
Quando fumada ou inalada, a PCP atravessa rapidamente a barreira hematoencefálica e altera a função de canais NMDA (principal alvo no SNC) e altera a neurotransmissão dopaminérgica sendo este efeito responsável pelos efeitos de euforia. Em doses baixas (5 mg ou menos), os efeitos físicos incluem respiração acelerada, aumento da pressão arterial e da temperatura corporal. Doses acima de 10 mg afetam de maneira grave a pressão arterial, freqüência cardíaca e a função respiratória, sendo freqüentemente acompanhadas por náuseas, visão borrada, tonturas e diminuição da percepção dolorosa. Contrações musculares podem causar movimentos descoordenados e posturas bizarras, sendo que em níveis severos podem progredir para fraturas ósseas e danos renais em conseqüência da degradação do tecido muscular. Doses muito elevadas de PCP podem causar convulsões, coma, hipertemia e morte.
Os usuários dessa droga relatam após uma única administração: destacamento da realidade incluindo distorções espaciais e temporais. A partir da segunda administração já podem ser observados efeitos mais graves como alucinações, pânico e medo, sendo que em usuários crônicos pode ocorrer comportamento desorientado, violento e suicida. (NIDA, 2001).

Alucinógenos
Os alucinógenos são drogas que produzem intoxicação associadas a mudanças nas experiências sensoriais, que incluem alucinações visuais e auditivas, consciência ampliada de estímulos externos, bem como dos pensamentos e estímulos internos. Pode ocorrer também labilidade emocional, lentificação subjetiva do tempo, sensação de que as cores são ouvidas e os sons vistos (sinestesia), intensificação da percepção do som, despersonalização e desrealização. É importante salientar que todos estes efeitos podem ser experimentados sob completo estado de vigília e alerta. Outras mudanças que podem ocorrer incluem ansiedade, náusea, pânico, taquicardia, aumento da pressão sangüínea e da temperatura corporal (Stahl, 2002).
Os alucinógenos fazem interações bastante complexas com os sistemas de neurotransmissão, porém, o efeito alucinógeno parece estar relacionado à atividade agonista no receptor 5-HT2A para a serotonina visto que esses compostos, sejam derivados de plantas (mescalina, psilocibina e ibogaína) ou sintéticos (LSD), apresentam grande similaridade química com esse neurotransmissor (NIDA, 2001). A indução de tolerância pode ocorrer após a administração de uma única dose, possivelmente por mecanismo de invaginação do receptor 5-HT2A. O potencial destas drogas em gerar dependência, no entanto, é fraco ou mesmo ausente. Um fenômeno interessante e único aos alucinógenos é a ocorrência de flashbacks, ou seja, a recorrência dos sintomas de intoxicação mesmo dias ou meses após o término da ação da droga. O mecanismo dos flashbacks ainda não é bem conhecido, mas pode envolver sensibilização (tolerância reversa) extremamente duradoura com mecanismos semelhantes à formação de memórias (Stahl, 2002).
“Club Drugs”
Club Drugs são um grupo de drogas sintéticas que vêm sendo usadas a partir de 1980 em atividades recreativas, principalmente festas em “boates” e as conhecidas como “raves”. Dentre as diversas substâncias químicas que se enquadram nesse grupo, é interessante mencionar as quatro mais conhecidas e utilizadas: MDMA (êxtase), flunitrazepam (Rohypnol), ketamina e γ-hidroxibutirato (GHB).
O êxtase apresenta estrutura química similar à metamfetamina e à mescalina, apresentando propriedades tanto estimulantes como alucinógenas. O MDMA aumenta a liberação de serotonina, dopamina e noradrenalina das terminações nervosas pré-sinápticas e dificulta o metabolismo desses neurotransmissores por inibição da MAO. O resultado é um acúmulo de neurotransmissores na fenda sináptica, sendo o excesso de dopamina e serotonina responsáveis pelas propriedades alucinógenas. Os principais efeitos do uso dessa droga incluem euforia, introspecção, alteração da percepção visual, aumento da libido, aumento da energia, percepção distorcida do tempo e diminuição da fome e sede. Desidratações e hipertemia são freqüentes em usuários de êxtase em virtude de horas de dança ininterruptas, também pode ocorrer taquicardia, midríase, tremores, palpitações e hipertensão resultantes da estimulação simpática. Dentre os principais efeitos neurológicos destacam-se confusão, delírio, paranóia, dor de cabeça, anorexia, depressão, insônia e irritabilidade os quais podem permanecer mesmo semanas após o uso. Estudos de tomografia de emissão de pósitrons (PET) em usuários dessa droga revelam redução significativa no número de transportadores para serotonina e estudos com animais revelam alterações irreversíveis em axônios serotonérgicos (morte neuronal) que pode explicar os efeitos semelhantes a síndromes do pânico e esquizofrenia, mesmo após o término do uso (Smith et al, 2002).
O flunitrazepam (Rohypnol) é um potente benzodiazepínico (ver acima) com uso legalizado para anestesia pré-operatória (sedação) e tratamento de insônia em 60 países na Europa e América Latina. Em baixas doses o rohypnol atua como ansiolítico, relaxante muscular e hipnótico-sedativo geral, porém em altas doses a droga pode causar perda do controle muscular e da consciência. Os principais efeitos adversos do uso dessa droga incluem hipotensão, tontura, confusão, distúrbios visuais, retenção urinária e, em alguns casos, comportamentos agressivos. Pode ocorrer dependência, sendo que os principais sintomas de abstinência são dores de cabeça, tensão, ansiedade excessiva, dor muscular, fotossensibilidade e tremores (Smith et al, 2002).
A ketamina, usada comumente na prática veterinária, é um anestésico dissociativo com mecanismo de ação semelhante à fenciclidina (ver anteriormente) atuando em canais iônicos NMDA. Também interage com alguns sistemas de neurotransmissores, incluindo receptores celulares muscarínicos, nicotínicos e opióides, podendo também inibir a recaptação de noradrenalina, dopamina e serotonina. Os efeitos ocorrem 30-45 min após a ingestão ou inalação da droga e incluem analgesia podendo promover amnésia em doses mais altas. Alguns usuários relatam experiências de saída ou flutuação do corpo, alucinações visuais e incoordenação motora também são comuns. Toxicidade cardiovascular pode se desenvolver em decorrência da ativação simpática ocorrendo hipertensão, taquicardia e palpitações. Usuários apresentam como outros efeitos psicológicos: negativismo, hostilidade e delírio. Por se tratar de uma droga inodora, insípida e incolor pode ser misturada a bebidas para facilitar o abuso sexual, uma vez que promove na vítima alucinações, amnésia anterógrada, perda de consciência e dificuldade de discernir acontecimentos reais de fictícios (Smith et al, 2002).
O GHB ou ácido γ-aminobutírico é um derivado lípidico do GABA ocorrendo naturalmente e estando envolvido na mediação do ciclo do sono, temperatura corporal, metabolismo cerebral da glicose e memória (Li et al, 1998). Sua administração de fontes exógenas data de 1990 sendo introduzido nos EUA como suplemento alimentar. Após 15-30 min da administração oral observam-se os efeitos depressores sendo dose-dependentes e variando de amnésia, hipotonia e euforia até dificuldades respiratórias, tremores, coma e morte (doses acima de 50 mg/Kg). Outros efeitos que podem ser observados são bradicardia e hipotensão, êmese e hipertemia. Também podem ser utilizados em situações de abuso sexual de maneira semelhante à ketamina, bem como por apresentarem propriedades de estimulação sexual deixando a vitima susceptível e incapaz de reagir frente a situação de abuso (Smith et al, 2002).

Uso múltiplo ou combinado de drogas
Até agora só foi comentado o efeito de administração isolada de drogas, porém o que se observa, em muitos dos casos, é um uso combinado de muitas drogas. Não é raro, por exemplo, o uso em conjunto de estimulantes e depressores com o objetivo de diminuir os efeitos indesejáveis como depressão ou excitação excessiva. Apesar da complexidade de efeitos de uso múltiplo ou combinado de drogas o que torna difícil de prever os efeitos em conjunto, algumas considerações gerais podem ser feitas.
O uso combinado de duas ou mais drogas depressoras como álcool e benzodiazepínicos, por exemplo, pode ter algumas conseqüências graves como depressão respiratória, coma e morte quando usados simultaneamente, sendo que também pode ocorrer tolerância cruzada quando uma droga é administrada anteriormente a outra, devido a mecanismos de ação semelhantes, principalmente nos receptores GABA (Schuckit, 1995).
Também não é raro o uso combinado de estimulantes e depressores, principalmente em indivíduos alcoolistas, onde se observa a administração de um estimulante para atenuar os efeitos indesejáveis como sonolência, tremores e ansiedade, entretanto, é difícil de prever complicações decorrentes desse uso de drogas com mecanismos de ação bastante diversificados no SNC.
O etanol também é usado com outras drogas como opióides e canabinóides, por exemplo, sendo que se verifica desenvolvimento de tolerância cruzada entre álcool e maconha. Tanto o sistema opióide como o canabinóide estão envolvidos nas propriedades reforçadoras do etanol, verificando-se uma interação complexa entre a administração combinada dessas drogas com o álcool (Manzares et al, 2005). Também é interessante ressaltar que os efeitos agudos também são potencializados quando ocorre o uso simultâneo de álcool e maconha, evidenciando maior prejuízo em atividades motoras e atenção (Schuckit, 1995).
Em usuários de cocaína, o uso de álcool pode intensificar os efeitos dessa, aumentando a sua metabolização ao composto cocaetileno que apresenta mesmo mecanismo de ação e efeitos similares, porém com meia vida cerca de três vezes maior, isso poderia explicar, pelo menos em parte porque a overdose em usuários de cocaína é bem mais freqüente quando os mesmo fazem ingestão simultânea de álcool (Farre et al, 1997).
Similaridades na ação clínica e na estrutura química de alucinógenos e estimulantes pode levar a uma potencialização dos efeitos dessas drogas quando comparado com o uso isolado (Schuckit, 1995).
Além desses, diversos outros tipos de associações entre drogas são verificadas, sendo que podem ter complicações desde moderadas até mesmo gravíssimas, dependendo de quais drogas e em que quantidade são administradas.
Para terminar, é interessante comentar que o uso de drogas é comum entre os seres humanos e qualquer um pode estar susceptível a se tornar dependente de alguma destas por isso é interessante compreender o mecanismo de ação das mesmas e seus efeitos, principalmente no sistema nervoso central, antes de começar a usá-las e abusá-las. Não é intenção entrar em uma discussão política e filosófica, porém é interessante perceber que, mesmo drogas lícitas e plenamente aceitas pela sociedade (café, álcool e nicotina, por exemplo) podem promover complicações gravíssimas em usuários agudos e, principalmente crônicos.

SUGESTÃO DE FILMES

RÉQUIEM PARA UM SONHO (“Requiem for a Dream”): O diretor Darren Aronofsky conta a perturbada e frenética história de personagens que se envolvem com seus sonhos e vícios. Com Ellen Burstyn, Jared Leto e Jennifer Connelly. Recebeu uma indicação ao Oscar.
TRAINSPOTTING – SEM LIMITES (“Traispotting”): Num subúrbio de Edimburgo, quatro jovens sem perspectivas mergulham no submundo para manter seu vício pela heroína. Com direção de Danny Boyle (Cova Rasa) e Ewan McGregor e Robert Carlyle no elenco. Recebeu uma indicação ao Oscar.
DESPEDIDA EM LAS VEGAS (“Leaving Las Vegas”): Um roteirista alcóolatra perde o emprego e decide partir rumo a Las Vegas, onde vive um tumultuado caso de amor com uma prostituta acuada por seu cafetão. Dirigido por Mike Figgis (Por uma Noite Apenas) e com Nicolas Cage, Elisabeth Shue e Steven Weber no elenco. Vencedor do Oscar de Melhor Ator.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION – APA: Diagnostic and statistical manual of mental disorders, 4th. ed.: DSM-IV. Washington, D.C., 1994.
American Psychiatric Association- APA. Practice guideline for the treatment of patients with nicotine dependence. American Journal Psychiatry. 151:1-31, 1996.
Araújo, D. M.; Lapchak, P. A.; Collier, B.; Quirion, R. Characterization of N-(3H) methylcarbamylcholine binding sites and effect of N-methylcarbamylcholine on acetylcholine release in rat brain. Journal Neurochem. 51:292-299, 1988.
Benowitz, N. L. Nicotine safety and toxicity. New York: Oxford University Press, 1998.
Benwell, M. E. M.; Balfour, D. J. K.; Khadra, L. F. Studies on the influence of nicotine infusions on mesolimbic dopamine and locomotor responses to nicotine. Journal Clinical Invest. 72:233-239, 1994.
BERIDGE, K.C. Pleasures of the brain. Brain and Cognition 52: 106 – 128, 2003.
Brodie, M. S. Low concentrations of nicotine increase the firing rate of neurons of the rat ventral tegmental area in vitro. In: Adlkofer, F.; Thurau, K. (eds.) Effects of nicotine on biological systems. Birkhäuser, Basel, 373, 1991.
Castro, l.a.p.g.; laranjeira, r. Dependência de Benzodiazepínicos. UNIAD, 2000.
CENTRO BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS PSICOTRÓPICAS – CEBRID. In I Levantamento Domiciliar de Consumo de Entorpecentes. UNIFESP-EPM, 2002.
Corrigall, W. A.; Franklin, K. B. J.; Coen, K. M.; Clarke, P. B. S. The mesolimbic dopaminergic system is implicated in the reinforcing effects of nicotine. Psychopharmacology (Berl). 107:285-289, 1992.
CRABBE, J.C.; PHILLIPS, T.J.; BUCK, K.J.; CUNNINGHAM, C.L.; BELKNAP, J.K. Identifying genes for alcohol and drug sensitivity: recent progress and future directions. Trends in Neurosciences 22, 1999.
Debry, G. Coffee and health. Paris: Libbey, 1994.
Denaro, C.P.; Brown, C.R.; Jacob III, P; Benowitz, N.L. Effects of caffeine with repeated dosing. Eur J Clin Pharmacol 40:273–278; 1991.
DILDY, J. E.; LESLIE, S. W. Ethanol inhibits NMDA-induced increases in free intracellular Ca2+ in dissociated brain cells. Brain Res 16: 383 –387, 1989.
Fagerström, K. O.Schneider, N. G. Measuring nicotine dependence: a review of the Fagerstrom Tolerance Questionnaire. Journal Behavior Medicine. 12:159-182, 1989.
Farre M, de la Tore A, Gonzales ML, Teran MT, Roset PN, Menoyc E, Cami J. Cocaine and alcohol interactions in humans: Neuroendocrine effects and cocaethylene metabolism. J Pharmacol Exp The 283(1):164-76, 1997.
FOX, B.S. Development of a therapeutic vaccine for the treatment of cocaine addiction. Drug Alcohol Dependence 48: 153-158, 1997.
Fredholm, B.B.; Bättig, K.; Holmen J.; Nehlig A.; Zvartau, E.E. Actions of caffeine in the brain with special reference to factors that contribute to its widespread use. Pharmacol Rev 51:83–133 139:230–238, 1999.
FROEHLICH, J. C.; LI, T.K. Opioid peptides. In M Galanter (Ed.) Recent developments in alcoholism. New York: Plenum Press, Vol. 11, pp. 187-205, 1993.
FROEHLICH, J.C.; LI, T.K. Opioid involvement in alcohol drinking. Annals of the New York Academy of Sciences 739: 156 – 157, 1994.
GIANOULAKIS, C. Endogenous opioids and excessive alcohol consumption. J Psyc Neuro 18: 148 – 156, 1993.
Gilbert, R.M. Caffeine consumption. In: Spiller GA, editor. The methylxanthine beverages and foods: chemistry, consumption, and health effects. New York: Liss, 185–213, 1984.
Griffiths, R.R; Mumford, G.K. Caffeine — a drug of abuse? In: Bloom of progress. New York: Raven Press:1699–1713, 1995.
Griffiths RR, Juliano LM, Chausmer AL. Caffeine pharmacology and clinical effects. In: Graham AW, Schultz TK, Mayo-Smith M, Ries RK, Wilford BB (eds) Principles of addiction medicine, 3rd edn. American Society of Addiction Medicine, Chevy Chase, pp 193–224, 2003.
HARDMAN, J.G.; LIMBRID, L.E.; GILMAN, A.G. In: Goodman & Gilman’s. Pharmacological Basis of Therapeutics. 10th ed. McGraw-Hill, 2001.
Henningfield, J. E. & Keenan, R. M. Nicotine delivery kinetics and abuse liability. Journal of Consulting Clinical Psychology 61:743-750, 1993.
HERZ, A. Endogenous opioid sistems and alcohol addiction. Psychopharmacology, 129: 99-111, 1997.
Heishman, S. J.; Taylor, R. C.; Henningfield, J. E. Nicotine and smoking: a review of effects on human performance. Exp Clin Psychopharmacol. 2:345-95, 1994.
HODGES, H.; ALLEN, Y.; SINDEM, J.; MITCHELL, S.N.; AREDNT. T.; LANTOS, P.; GRAY, J. A. The effects of cholinergic drugs and cholinergic-rich foetal neural transplants on alcohol-induced deficits in radial maze performance in rats. Behav Brain Res 43: 7 – 28, 1991.
HUNT, W. A.; In: Handbook of Substance Abuse: Neurobehavioral Pharmacology / edited by Tarter, R. E.; Ammerman, R. T.; Ott, P. J. New York: Plenum Press, 1998.
HUNT, WA.; MAJCHROWICZ, M.L. Chronic alcohol intake induces to oxidate capacity of brown adipose tissue on the rat. J Pharmacol Exp Ther 210: 259 – 263, 1985.
KALANT, H. Current state of knowledge about the mechanisms of alcohol tolerance. Addict Biol 1:133-41, 1996.
KARCH, S.B. Cocaine:history, use, abuse. Journal of the Royal Society of Medicine 92: 393-397, 1999.
KHANNA, J.M.; KALANT, H.; SHAH, G.; WEINER, J.; Rapid tolerance as an index of chronic tolerance. Pharmacol. Biochem. Behav 38: 427 – 432, 1991
KHANNA, J.M.; KALANT, H.; SHAH, G.; CHAU, A. Effect of (+) MK-801 and ketamine on rapid tolerance to ethanol. Brain Res Bull 28: 311 – 314, 1992.
KOOB, G. F.; NESTLER, E. J. The neurobiology of drug addiction. Journal of Neuropsychiatry and Clinical Neuroscience 9: 482-497, 1997.
KOROLKOVAS, A. Dicionário Terapêutico Guanabara. ed.,1999/2000. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999.
James, J.E. Understanding caffeine. Sage, Thousand Oaks, 1997.
Leshner, A. I. Understanding drug addiction: implications for treatment. Hosp Pract. 47-59, 1996.
Li J, Arnaud-Stokes S, Woeckener A. A tale of novel intoxication: a review of the effects of gamma-hydroxybutyric acid with recommendations for management. Ann Emerg Med. 1998; 31:729-36. in California. West J Med. 156:380-4, 1992.
LIEBER, C. S. Metabolism of ethanol and associated hepatotoxicity. Drug and Alcohol Rev 10: 175 – 202, 1991.
London, E. D. Effects of nicotine on cerebral metabolism. In: Boch, G.; Marsh, J. (eds.) The biology of nicotine dependence. Wiley, New York 131, 1990.
MANZARES, J.; ORTIZ, S.; OLIVA, J.M.; PÉREZ-RIAL, S.; PALOMO, T. interactions Between Cannabinoid and Opioid Receptor Systems in the Mediation of Ethanol Effects. Alcohol & Alcoholism 40, No. 1: 25–34, 2005.
Meliska, C. J.; Gilbert, D. G. Hormonal and subjective effects of smoking the first five cigarettes of the day: a comparison in males and females. Pharmacol Biochem Behav. 40:229-35, 1991.
Mitchell, S. N. Role of the locus coeruleus in the noradrenergic response to a systemic administration of nicotine. Neuropharmacology. 32:937-949, 1993.
NATIONAL INSTITUTE ON DRUG ABUSE- NIDA. Research Reports Series- Hallucinogens and Dissociative Drugs - Including LSD, PCP, Ketamine, Dextromethorphan, 2001.
Navarro, M.; Carrera, M.R.; Fratta, W.; Valverde, O.; Cossu, G.; Fattore, L.; Chowen, J.A.; Gomez, R.; del Arco, I.; Villanua, M.A.; Maldonado, R.; Koob, G.F.; Rodriguez de Fonseca, F. Functional interaction between opioid and cannabinoid receptors in drug self-administration. J Neurosci Jul 21:5344-50, 2001
NEHLIG, A. Are we dependent upon coffee and caffeine? A review on human and animal data. Neuroscience and Biobehavioral Reviews 23: 563–576, 1999.
NEVO, I.; HAMON, M. Neurotransmitter and neuromodulatory mechanisms involved in alcohol abuse and alcoholism. Neurochem Int 26: 305 – 336, 1995.
O’MALLEY, S.S.; JAFFE, A.; CHANG, G. Six-month follow-up of naltrexone and psychotherapy for alcohol dependence. Archi Gen Psichiatry 53: 217 – 224, 1996.
PIOMELLI, D. The molecular logic of endocannabinoid signalling. Nat Rev Neurosci. 4:873-84. 2003.
RANG, H. P., DALE, M. M.; RITTER, J.M. Farmacologia. 3ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.
Richardson, N. R.; Roberts, D. C. S. Fluoxetine pretreatment reduces breaking points on a progressive ratio schedule reinforced by intravenous cocaine selfadministration in the rat. Life Science. 49:833-840, 1991.
RITZ, M.C.; LAMB, R.J.; GOLDBERG, S.R.; KUHAR, M.J. Cocaine receptors on dopamine transporters are related to self administration of cocaine. Science 237: 1219 – 1223. 1987.
RUSSEL, M.A.H. Nicotine intake and its regulation by smokers. In Advances in Behavioral Biology. vol 31. Tobacco Smoking and Nicotine (MARTIN, WR; VAN LOON, GR; IWAMOTO, ET; DAWIS, L eds). New York: Plennum Press, 1987.
SADEK, M.G. Alcoholism. Revista Paulista de Medicina 109: 153-156. 1991
SAHAM, Y; STEWART, J. Stress reinstates heroin-seeking in drug free animals: an effect mimicking heroin, not withdrawal. Psychopharmacology 119: 334 – 341, 1995.
SCHUCKIT, M.A. Drug and Alcohol Abuse. 4th. Ed. Plenum Publishing Corporation, NY, 1995.
SMITH, K.M.; LARIVE, L.L.; ROMANELLI, F. Club drugs: methylenedioxymethamphetamine, flunitrazepam, ketamine hydrochloride, and γ-hydroxybutyrate. Am J Health-Syst Pharm.59:1067-76, 2002.
SULLIVAN, R.J.; HAGEN, E.H. Psychotropic substance-seekeing: evolutionary pathology or adaptation? Addiction 97: 389 – 400, 2002.
STAHL, S.M. Psicofarmacologia 2a Ed. MEDSI, São Paulo. 2002.
TABAKOFF, B.; HOFFMAN, P.L. Alcohol interactions with brain opiate receptors. Life Sci 32: 1983.
TABAKOFF, B.; CORNELL, N.; HOFFMAN, P. L. Alcohol Tolerance. Annals of Emergency Medicine 15: 1005-12, 1986.
TANDA, G.; MUNZAR, P.; GOLDERG, S.R. Self-administration behavior is maintained by the psychoactive ingredient of marijuana in squirrel monkeys. Nat Neurosci 3:1073-4, 2000.
US Department of Health and Human Services. The health consequences of smoking: nicotine addiction. A report of the Surgeon General. Public Health Service, Office on Smoking and Health, Rockville,1998.
Wada, E.; McKinnon, D.; Heinemann, S.; Patrick, J.; Swanson, L. W. The distribution of mRNA encoded by a new member of the neuronal nicotinic acetylcholine receptor gene family (a5) in the rat central neurons system. Brain Research. 526:45-53, 1990.
WHITE, M.S.; LAMBE, C.J.T. The pathophysiology of cocaine abuse. Journal of Clinical Forensic Medicine 10: 27–39, 2003.
Wise, R. A.; Hoffman, D. C. Localization of drug reward mechanisms by intracranial injections. Synapse. 10:247-263, 1992.


Copyright © 2007 Reginaldo do Carmo Aguiar. Todos os direitos reservados.
_____________________________________________________________
Endereço e contato para atendimento clinico e palestras: ver em "Quem sou eu" na parte superior a direita da página.

Um comentário:

Anônimo disse...

já conheço casos muito diferentes na qual vi o q é ser triste pela simples razão de ñ saber viver graças á DEUS sou livre.Nunca toquei por mim nunca tocarei em uma droga se quer...
aos viciados deixo esse recado:ñ se meta nessa roubada viva a vida feliz na qual vc merece!!!
e parabéns p/vc que nunca nem olhou p/ isso e tenho certeza q nunca olharás.seja feliz como eu.