Mudança de visual
1) Mudar o visual radicalmente ou fazer uma intervenção cirúrgica com
finalidade estética pode ser benéfico para o aumento da autoestima da leitora?
O mundo de hoje valoriza em demasia a aparência física. A crença de que a beleza é fundamental é tão disseminada e arraigada que se tornou uma obsessão, e por isso é uma fonte de frustração sem igual. A luta das mulheres para atingir a figura ideal imposta pela cultura – e que a maioria delas aceita – se torna para muitas a coisa mais importante da vida. Em consequência disso, a cirurgia estética tornou-se uma das especialidades médicas mais crescentes e lucrativas da atualidade. Para se ter uma ideia, segundo pesquisa do Ibope, encomendada pela coordenação do XI Simpósio Internacional de Cirurgia Plástica, no ano de 2009 o Brasil ficou em segundo lugar em número de cirurgias plásticas no mundo, só perdendo para os Estados Unidos da América. O grande problema dessa cultura da beleza é idealizar ou valorizar em demasia o lado estético, o que abre espaço para sempre ficar aquém do esperado e sempre ficar frustrado(a). Além disso, a nossa cultura não valoriza a maioria das belezas, mas apenas aquelas passadas pelos crivos de referenciais europeus ou hollywoodianos. E tem mais, valorizar em demasia a beleza abre espaço para que características fundamentais para o convívio social e afetivo, como o caráter, não sejam priorizadas.
O mundo de hoje valoriza em demasia a aparência física. A crença de que a beleza é fundamental é tão disseminada e arraigada que se tornou uma obsessão, e por isso é uma fonte de frustração sem igual. A luta das mulheres para atingir a figura ideal imposta pela cultura – e que a maioria delas aceita – se torna para muitas a coisa mais importante da vida. Em consequência disso, a cirurgia estética tornou-se uma das especialidades médicas mais crescentes e lucrativas da atualidade. Para se ter uma ideia, segundo pesquisa do Ibope, encomendada pela coordenação do XI Simpósio Internacional de Cirurgia Plástica, no ano de 2009 o Brasil ficou em segundo lugar em número de cirurgias plásticas no mundo, só perdendo para os Estados Unidos da América. O grande problema dessa cultura da beleza é idealizar ou valorizar em demasia o lado estético, o que abre espaço para sempre ficar aquém do esperado e sempre ficar frustrado(a). Além disso, a nossa cultura não valoriza a maioria das belezas, mas apenas aquelas passadas pelos crivos de referenciais europeus ou hollywoodianos. E tem mais, valorizar em demasia a beleza abre espaço para que características fundamentais para o convívio social e afetivo, como o caráter, não sejam priorizadas.
Estima vem de estimativa, ou
seja, é como uma escala de amor com a qual me avalio. Autoestima é sentir-se
amado, sentir-se capaz, sentir-se valorizado e aceito. Esse sentimento depende
de um conjunto de valores e critérios e da satisfação dos mesmos. Além disso,
autoestima é diferente do sentimento de vaidade. Autoestima é um juízo que eu
faço de mim mesmo, é uma nota que eu dou para mim mesmo independente de um
código de valores a que eu correspondo ou não. Uma pessoa com boa autoestima, por
exemplo, se diverte, aproveita a vida com equilíbrio sem se preocupar tanto com
os outros. Em oposição, a vaidade envolve a imagem pública, o que aparece para
fora. É sentir-se satisfeito porque tem a aprovação de outras pessoas. Depende
da plateia, dos outros. Neste sentido, autoestima envolve a relação “eu -
comigo mesmo”, já a vaidade, a relação “eu - outras pessoas”. Dizer que uma
pessoa fez uma cirurgia plástica e melhorou autoestima é um equívoco. Melhorou
na verdade, a vaidade, uma vez que o indivíduo ficou melhor perante um padrão
dos outros. A cirurgia plástica também melhora a autoconfiança do cirurgião
quando a cirurgia é bem sucedida.
2) De que forma o aumento da autoestima reflete em outras áreas da vida
dessa pessoa? Por quê?
Autoestima é uma profunda e
poderosa necessidade humana, essencial para uma adaptação saudável em
sociedade. Segue abaixo alguns dos benefícios de quem tem uma autoestima
saudável:
a) Saúde – Quem se ama cuida mais do próprio corpo, por isso, não exagera no comer
e beber, cultiva uma vida sexual equilibrada e
responsável, cuida bem de sua saúde,
pratica
atividades físicas e cultiva o contato com a natureza. Além disso, dá ao corpo
e à mente o repouso necessário.
b) Relacionamento e repertório social – A
forma como nos relacionamos afetiva, social e profissionalmente também revela a
nossa autoestima. A forma como enfrentamos circunstâncias constrangedoras,
reagimos a críticas, ao esquecimento ou à rejeição oferece indícios a respeito
de nossa autoestima. Quem tem boa autoestimase ama é mais feliz e vai ao encontro dos outros com facilidade,
está
sempre pronto a receber e dar amor, convive bem consigo mesmo
e com os outros, é autêntico e sincero, conversa mais
com
pessoas experientes para aprender, perdoa a si mesmo e
aos outros, tem consciência que sentimentos
negativos prejudicam sua vida física, psíquica e espiritual. Geralmente a pessoa com boa autoestima também tem mais
facilidade para fazer boas escolhas no campo sentimental.
c) Vida ao presente –
A pessoa com boa autoestima vive o presente,
liberta-se
do passado e não antecipa o futuro.
d) Aceitação e
valorização – Uma pessoa com baixa autoestima sente-se eternamente culpada e
fracassada. As emoções de vergonha e culpa estão relacionadas a situações e
emoções em que se perde o valor perante aos outros, ou ainda, situações nas
quais não se sente merecedora de aprovação dos outros e, por isso, tende a se
sentir rejeitada. A culpa ou vergonha, em outras palavras, debilita. Já a
pessoa com uma autoestima saudável percebe que o
segredo da própria felicidade está em aceitar-se e a valorizar-se, distribuindo
as responsabilidades e as culpas depois de uma boa análise da situação. Além
disso, ela é capaz de reconhecer e atender suas necessidades físicas, emocionais,
mentais e espirituais.
e) Autoconfiança – Uma pessoa com boa
autoestima tem mais chances de desenvolver habilidades e repertórios e, assim,
se torna confiante, determinada e segura,
tem
bom contato com a realidade, o que a favorece ter: a)
uma boa
aptidão para se relacionar; b) competência nos estudos e êxito no trabalho; c)
talento para atividades artísticas, recreativas; d) habilidade ou repertório no
desempenho dos papéis sociais como mãe, pai, marido, esposa, filho(a) etc.; e) assertividade, isto é, expressa
abertamente, suas emoções e não se faz de vítima,
sabe
dizer “sim” e “não” na hora certa.
Apesar de ter potencial para desenvolver
diversos repertórios, essa pessoa tem consciência que não é um super-herói e,
por isso, sabe lidar com fracassos e seleciona as atividades que pode se
desempenhar bem, tendo consciência de que não será boa em tudo.
f) Autoconhecimento
e conhecimento sobre o Mundo – Quem se ama cuida bem de sua vida psíquica,
procura aceitar sua realidade, conhece-se melhor e supera-se, procura ler bons livros e seleciona seus programas de rádio e TV... Além
disso, não perde a oportunidade de participar de cursos de formação humana.
g) Resiliência – Situações de
crise e fracasso com pessoas com baixa autoestima são propícias para o
desencadeamento de ansiedades e depressões. Centrado no próprio sofrimento, o
indivíduo irrita-se com as próprias dificuldades, repete incessantemente
pensamentos depreciativos, concentra-se em si mesmo, esquecendo o universo ao
redor e estabelecendo um círculo vicioso. Em oposição a isso, as pessoas com
boa autoestima não se abatem tanto com eventuais fracassos ou julgamentos
alheios, ou seja, mantêm mais facilmente a estabilidade emocional ao
enfrentarem adversidades. O fato delas terem uma relação satisfatória com elas
próprias aparece associado à relativa ausência de monólogos interiores
autocentrados, que paralisam o desenvolvimento emocional. Neste sentido, quando
é possível olhar para o mundo e realmente se interessar pelo que está fora,
fica mais fácil suportar as próprias dificuldades. A autoestima estável é como
um motor que cumpre sua função de maneira silenciosa: facilita o vínculo com o
mundo externo e o faz de maneira menos assustadora. Dessa forma, quando a
pessoa cai em sofrimento, consegue se erguer com mais tranquilidade e rapidez.
h) Baixa autoafirmação – Pessoas com baixa autoestima sentem
mais necessidade de se autoafirmarem. Entre as autoafirmações mais comuns, está
a mentira. Diversas pesquisas espalhadas pelo mundo revelam uma correlação
muito forte entre mentira e baixa autoestima. Provavelmente essas pessoas
mentem muito porque sentem medo de mostrarem quem são e de se sentirem
inferiores aos padrões estabelecidos. Os indivíduos dotados de uma autoestima
saudável estão longe de serem megalômanos, em oposição, são mais sensatos.
Desapegar
3) É possível aprender a se desvincular do passado, se desapegar e
tomar atitudes radicais, como mudar de casa ou até mesmo de cidade ou país?
Como?
É possível. No entanto, toda
mudança radical no início produz sofrimento porque exige um processo de
adaptação a nova realidade. Como disse o escritor inglês Arnold Bennett. “Qualquer mudança, mesmo uma mudança para melhor, é sempre acompanhada
de inconvenientes e desconfortos.” Muitas pessoas deprimem quando mudam de
cidade, porque não há vínculos afetivos (os amigos e familiares estão
distantes) e se não tiverem trabalhando, estudando ou se ocupando dificultam
ainda mais a adaptação e agrava o humor delas. Pessoas que saem do
relacionamento amoroso, onde gostavam do parceiro saem muito machucadas e
desacreditadas de investir em novos parceiros(as).
A mudança é necessária e toda
mudança exige novos repertórios. Quando
você sai do seu ambiente (habitat) perde estímulos antecedentes e suas
consequências (perda de reforçadores).
Neste sentido, perde repertório. Um(a) jovem que muda para uma cidade distante
porque passou no vestibular, quando chega nela não tem amigos, ou seja, não tem
pessoas (estímulos antecedentes discriminativos) para falar, por exemplo,
aquelas bobagens que seus (suas) amigos(as) gostavam e assim perde as
consequências, as risadas, a atenção, os elogios, o carinho de seus amigos(as).
Portanto, suprime seu repertório. Inclusive é muito comum alguns deprimirem até
criarem um grupo novo de amigos.
Comportamentalmente, o termo
“mudança” envolve mudar de reforçadores, ou seja, passar dos reforçadores mais
poderosos aos de menor valor reforçador. Todo aprendizado de repertório envolve
comportar-se frente as situações simples e gradualmente até as mais complexas.
Você aprende primeiro a pôr uma meia. De início, pode até ser difícil, se tiver
um bom educador, ele pode dar modelos de como colocar a meia, ajudar a por a
meia, pedir para por e depois elogiar o aprendiz pelo feito. Depois aprende a
colocar o sapato e somente depois a amarrar o cadarço. Eu poderia chamar essa cadeia
comportamental de repertório de colocar os sapatos adequadamente. Repertório
social é a mesma coisa. Você aprende primeiramente a cumprimentar as pessoas,
depois aprende a sorrir, ouvir,.. só depois aprende a manter a conversa de
forma agradável. Para quem não está acostumado a por os sapatos
estranhará no início e dirá: “Nossa como
está apertado, que estranho!” E vai até querer de início tirar para se
aliviar. É o que acontece com aquelas pessoas que não sabem o que fazer numa
situação social e por isso fogem e se sentem aliviados. Tudo uma questão de
aprender repertório para não fugir e se adaptar a nova realidade.
4) De que maneira essa mudança pode ser positiva?
Muitos intelectuais falam ou
falavam sobre a importância da mudança, entre eles:
a) “O mundo detesta mudanças e, no entanto, é a
única coisa que traz progresso.” - Charles Kettering.
b) “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o
que fazemos para mudar o que somos.” - Eduardo
Galeano.
c) “Tudo muda quando você muda.” - Jim Rohn.
d) “Há um tempo em que é preciso abandonar as
roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos
caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e,
se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”
- Fernando Pessoa.
“Existir, para um ser
consciente, consiste em mudar, mudar para amadurecer, amadurecer para se criar
indefinidamente.” - Henri Bergson - Filósofo francês.
e) “Você sabe tão bem
quanto eu que uma das principais causas do tédio é a estreiteza de nosso
destino. Todas as manhãs, nós despertamos iguais ao que éramos na véspera. Ser
eternamente o mesmo é insuportável para os espiritos refinados, esses espiritos
refinados pela reflexão. Sair do proprio eu é um dos sonhos mais inteligentes
que um homem pode ter.” - (Antônio Abujamra - Provocações (TV Cultura) - 16
abril 2010).
Quando mudamos tudo ao nosso redor muda. No processo de
terapia de casal, inicialmente, um tenta mudar o parceiro, até uma hora que se
descobre que a mudança deve ocorrer primeiramente de si, somente mudando a si é
que o outro muda, e não o contrário.
5) Por outro lado, para as menos ousadas, mudar a casa, mexendo apenas
na decoração já é um passo para ter uma vida nova? Por quê?
O texto chamado “Mude” do Edson
Marques pode explicar isso: “Mude, mas
comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade. Sente-se
em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa. Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras
ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa. Tome
outros ônibus. Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os seus sapatos
velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear
livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos. Veja o
mundo de outras perspectivas. Abra e feche as gavetas e portas com a mão
esquerda. Durma no outro lado da cama... Depois, procure dormir em outras
camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais...Leia outros
livros, viva outros romances. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais
cedo. Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua. Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores,
novas delícias. Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o novo
sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor, a nova vida. Tente. Busque
novos amigos tente novos amores. Faça novas relações. Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida compre pão em outra
padaria. Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa. Escolha outro
mercado... Outra marca de sabonete, outro creme dental...Tome banho em novos
horários. Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares. Ame muito,
cada vez mais, de modos diferentes. Troque de bolsa, de carteira, de malas,
troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias. Jogue os velhos
relógios, despertadores. Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros
cabelereiros, outros teatros, visite novos museus. Mude. Lembre-se de que a
vida é uma só. E pense seriamente em arrumar um outro emprego, uma nova
ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano. Se
você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo. E
aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino.
Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra
vez. Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já
conhecidas, mas não é isso o que importa. O mais importante é a mudança, o
movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda! Repito por
pura alegria de viver: A salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a
pena!!!”
Começar a mudar as coisas simples
e pequenas é o pontapé inicial para mudar grandes coisas no futuro. As pessoas
apenas amadurecem com as mudanças. Quem fica parado, fico empobrecido de
repertório e não se adapta ao mundo e não muda o mundo para melhor.
Copyright © 2012 Reginaldo do Carmo Aguiar. Todos os direitos reservados.
Copyright © 2012 Reginaldo do Carmo Aguiar. Todos os direitos reservados.
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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.
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