A entrevista editada foi publicada em dois sites:
a) Portal IG: http://delas.ig.com.br/comportamento/2012-11-30/como-identificar-um-manipulador.html
b) Globo.com: http://gazetaweb.globo.com/noticia.php?c=328725
Abaixo segue a entrevista na íntegra:
1) A manipulação é um
comportamento de apenas parte da população ou nós todos somos manipuladores de
alguma forma?
De alguma forma todos somos manipuladores em
maior ou menor grau e de formas diferentes.
2) A ideia da manipulação é
quase sempre vista de forma negativa, como um comportamento de uma pessoa
desonesta. Mas em algumas situações ser manipulador é necessário, como uma mãe
que convence o filho a ir ao dentista?
A manipulação pode ser usada de forma benéfica para proteger a nossa
autoestima. Principalmente em situações que se falarmos a verdade de nossos
sentimentos ou segredos às pessoas inapropriadas, essas podem usar tais informações
contra a gente, ao invés de nos apoiarmos.
Um certo nível de manipulação pode ser usado para o melhor convívio
social porque não podemos ser totalmente honestos no convivo social, caso
contrário podemos machucar os outros.
A mentira é uma forma de manipulação, muitas pesquisas revelam que as
profissões que mais usam a conversa são as que mais mentem. Parece que o
convívio com outras pessoas envolvem inevitavelmente certas formas de
manipulação.
A manipulação benéfica pode ser usada para produzir alguns medos nos
filhos como forma deles evitarem situações que possam ser prejudiciais a eles,
como por exemplo, a dependência a cocaína ou nicotina. Em casos de tomar
injeção os pais precisam sempre dizer aos filhos que não vai doer, mesmo
sabendo que há o mínimo de dor durante o ato de aplicação da agulha, mas fazem
essa manipulação porque querem o bem dos seus pupilos
Portanto, a manipulação faz parte dos relacionamentos e isso pode ser até
saudável.
3) Quando a manipulação passa
a ser nociva e negativa, acarretando problemas a terceiros e até a própria
pessoa?
Para
avaliar sempre algo como problema é importante pensar nas seguintes variáveis: frequência,
duração, intensidade e a intenção da manipulação. A manipulação passa a ser
nociva quando acontece frequentemente, dura muito, é intensa e usada unicamente
para ganho próprio. É o que acontece com pessoas de Personalidade Antissocial,
Narcisista e Histriônica.
É
importante diferenciar a pessoa com perfil narcisista, aquela se comporta em
alguns contextos valorizando-se em relação aos outros, da pessoa com Transtorno
de Personalidade Narcisista, que se comporta na maioria dos contextos de forma
narcisista e tem muita dificuldade de reconhecer sua personalidade e seus
defeitos, o que não a faz mudar. Em outras palavras, a pessoa com perfil
narcisista ou vaidosa tem um traço de caráter na composição de sua personalidade,
já a pessoa com Transtorno de Personalidade Narcisista tem uma manifestação
patológica.
4) É possível identificar uma
pessoa manipuladora por meio de atitudes, gestos, comportamentos e
linguagem corporal? Quais são os principais? Você poderia dar algumas dicas de
como identificar uma pessoa manipuladora?
Eu poderia definir três grupos clássicos de
pessoas manipuladoras:
a) Pessoas
narcisistas: Pessoas com sentimento de
grandiosidade têm crenças de que são superiores a outras pessoas, de que têm
direitos e privilégios especiais ou de que não estão sujeitas a regras de reciprocidade que guiam a
interação social normal. Pessoas com esse perfil ou com o Transtorno de
Personalidade Narcisista têm crenças, regras
ou autorregras como: “Estou acima das regras ou tenho regras
especiais”; “Mereço atenção e cuidado exclusivos”; “Sou o mais bonito(a) daqui”; “As coisas têm que ser do meu jeito
porque sou o mais inteligente”. Nessas pessoas, o comportamento interpessoal
mais frequente envolve atitude de grandiosidade; busca incessante por
admiração e insensibilidade ao outro; transgressão de regras; autoengrandecimento, competitividade; uso dos outros para
satisfação própria. Pessoas narcisistas acreditam que podem fazer tudo o que
querem, independente da realidade, do que as outras pessoas consideram razoável
ou do custo de seus atos para outras pessoas. Elas têm um foco exagerado na
superioridade (estar entre os mais bem sucedidos, famosos, ricos...) para
atingir poder ou controle. Às vezes, é
possível observar competitividade excessiva ou dominação em relação aos outros:
afirmar o próprio poder, forçar o próprio ponto de vista ou controlar o
comportamento de outros segundo os próprios desejos, sem empatia ou preocupação
com as necessidades ou desejos alheios.
b) Pessoas
antissociais: O termo antissocial aqui não quer dizer dificuldade social típico
de pessoas tímidas, mas de antissocial por colocar o outro como objeto. A pessoa com esse perfil tem crenças, regras ou autorregras como:
“Tenho minhas próprias regras: o negócio
é levar vantagem em tudo”; “Os outros existem para serem usados”; “Tenho que
acabar com o outro”; “Vale a pena ser sempre frio”. Desse modo, seu comportamento
interpessoal mais frequente envolve
desconsideração e violação dos direitos dos outros, como enganar (tapear ou
trapacear), roubar e atacar, sem culpa ou remorso. Repertórios supervalorizados, relacionados a pessoas com o perfil
de personalidade antissocial, podem ser típicos de ladrões, ditadores,
violadores, assediadores escolares, sádicos, criminosos, psicopatas etc.
Pessoas com esse perfil se
autovalorizam muito e têm uma forte propensão e habilidade para o engano, para
a manipulação psicológica dos demais e para a racionalização de seus atos
criminosos. Elas ignoram os direitos dos outros, não têm compaixão, não sentem
culpa nem remorso. Para a maioria deles, forçar alguém a suportar a dor e a
humilhação produz prazer e satisfação. Além disso, sempre veem a vítima como
objeto e o domínio sobre ela produz a submissão e obediência. É muito comum, durante
um relacionamento amoroso, esse indivíduo sentir ciúme, suspeitar de
infidelidade e exigir o direito de ter a parceira ou parceiro como exclusivos. Não
são poucos os casos em que a pessoa chega a matar seu parceiro amoroso e depois
a si própria, devido a possíveis traições e o consequente orgulho ferido.
c) Pessoas histriônicas: A pessoa com esse perfil tem crenças, regras ou autorregras como:
“Preciso impressionar”; “As pessoas devem me admirar”; “Ninguém tem o direito
de negar-me satisfação”. Por isso, seu
comportamento interpessoal mais
frequente envolve emoções intensas e busca continuada de atenção e
admiração, recorrendo à sedução, ao exibicionismo, a dramatizações, choros e
gestos suicidas. Vale lembrar que há representantes do uso adequado dessa
estratégia, como artistas, professores didáticos, políticos expressivos e
palestrantes.
Em situações mais inadequadas,
uma mulher com esse perfil, por exemplo, tende a se engajar na defesa de causas
sociais para conseguir admiração, enquanto seus relacionamentos mais próximos
fracassam. Apesar de essas pessoas terem uma autoconfiança no ato de seduzir,
em geral, elas escondem pontos fracos, abismos de fragilidades e baixa
autoestima. Um homem, por exemplo, pode falar que está muito doente para que as
pessoas deem atenção a ele, mesmo não tendo problema algum de saúde.
5) Manipuladores costumam ser
pessoas inteligentes? Eles usam argumentos que parecem lógicos para conseguir o
que querem?
Em geral pessoas antissociais e narcisistas
tendem a fazer mais uso da razão para obterem o que querem. No caso de pessoas
com transtorno de personalidade antissocial, os psicopatas, por exemplo, fazem
mais uso de estratégias racionais para manipular os que o cercam. As pessoas manipuladas,
em geral, demoram muito tempo para descobrir que foram enganadas por uma pessoa
fria e inescrupulosa porque essa sempre passou a imagem de amorosa e íntegra.
Pessoas narcisistas e antissociais estão próximas da gente e nem damos conta.
Podem ser empresários, políticos, vendedores, namorados(as), qualquer um.
6) A culpa é uma das armas
mais fortes das pessoas manipuladoras? Eles costumam se fazer de vítimas para
as pessoas fazerem o que eles querem?
Uma pessoa manipuladora, em geral, usa
diversas estratégias para ter o controle da situação. Até mesmo colocar-se como
vítima para produzir o sentimento de culpa no outro. Não dá para dizer que é a
arma mais forte, mas é muito usada.
7) Que atitudes podemos ter
para barrar os manipuladores e não cair nas suas ‘armadilhas’?
Informação.
Saber como eles funcionam, quais são as estratégias mais usadas para manipular.
Isso facilita discriminar quem são e diminui a probabilidade de ser manipulado
por eles.
Copyright © 2012 Reginaldo do Carmo Aguiar. Todos os direitos reservados.
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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.
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