quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Sobre paixão e o amor, flutuações do amor

Entrevista concedida dia 15 de Julho a jornalista Francine Moreno que é repórter do jornal Diário da Região (O Diário da Região é o maior jornal da região Noroeste do Estado, circula em 96 municípios e tem tiragem diária de 23,5 mil exemplares, com 29 mil exemplares aos domingos.)
Matéria especial sobre as flutuações do amor (passado o frenesi da paixão o casal vive uma outra fase do amor, mais tranquila, em que os parceiros começam a retomar a individualidade) e neste caso é preciso esforço para não por em risco a relação.
A entrevista editada está na página: http://www.diarioweb.com.br/novoportal/Divirtase/Comportamento/24590,,Conheca+os+estagios+do+amor.aspx
Para o caderno Vida & Arte.
Entrevista na íntegra 

1) Passado o frenesi da paixão o casal vive uma outra fase do amor, mais tranquila, em que os parceiros começam a retomar a individualidade. Porque isso acontece?
Embora eu finja aceitar sem julgamento as formas de amar encontradas pelas pessoas, secreta ou nem tão secretamente eu as classifico como sendo de bronze, prata e ouro, na ordem de sua escassez e valor. Assim divido em três formas de amar: a) paixão (amor com êxtase, amor erótico) b) amor fílico (amor relacionado as aprendizagens do indivíduo) e c) amor agápico (amor ao próximo).
Por mais que muitos não queiram ouvir, segundo os psicólogos evolucionistas, o sentimento de paixão é a forma mais primitiva de amar e está relacionado a perpetuação da espécie. A paixão é um sentimento de dedicação absoluta em relação a alguém que surge e nos torna devotos, adoradores, ao ponto de prestarmos um culto àquela pessoa que nos apareceu. O amor erótico está ligado à atração física muito mais que ao espírito. É um tipo de amor que exige amor em troca. A descoberta deste amor geralmente ocorre na adolescência e consiste em uma estranha e doce euforia associada à mera presença de uma moça ou rapaz em particular, e incontáveis vezes, mais tarde, uma excitação ao se encontrarem próximas de uma mulher ou homem atraente. Ao mesmo tempo em que a relação é intensa, é também frágil. É este o amor que milhões de pessoas espalhadas por este universo pontilhado por estrelas sentem e vivem. É um amor de caráter estritamente sexual que podem ir da grosseria à delicadeza extrema, da mediocridade emocional à paixão intensa.
Alguns neurocientistas que pesquisam com o uso de aparelhos de ressonância magnética funcional descobriram recentemente que o sentimento de paixão dura no máximo três anos. A não ser se tiver privações (distanciamentos do parceiro amoroso) e esquemas de reforçamento intermitente (contatos com interrupções) mantendo a pessoa presa a paixão. No mais, em média, a paixão dura de um a dois anos. Neste sentido, a paixão tem data para terminar e inicia-se uma nova etapa: o que poderia ser chamado de um amor mais profundo. Isto é o normal, é o que acontece naturalmente nas relações humanas. O problema é que muitas pessoas não estão preparadas para desenvolver outras formas de amar e por isso quando a paixão (amor juvenil) termina pulam para outro barco para viverem uma nova fase de êxtase.

2) A mudança pode acontecer em tempos diferentes para cada um. E aquele que continua apaixonado não entende o que se passa ou se sente rejeitado. O que é preciso fazer nestes casos?
Quando as pessoas estão apaixonadas elas se entregam muito. Dão muitos beijos, ligam muitas vezes, declaram amor, fazem as mais diversas carícias... Todavia, quando um deles tem a paixão diminuída ou terminada começa a se doar menos na relação. Aquele que continua apaixonado sente-se rejeitado, carente, inconformado. Nestes casos é preciso ter um diálogo para descrever e explicar o que está acontecendo e investir no próprio relacionamento em formas mais maduras de amar.
Nesta conversa valeria a pena separar muito bem a paixão do amor ao apaixonado, apesar de ser para muitos deles incompreensível. A paixão é um estado ou sentimento puramente egoístico, fisiológico, e que tem data para terminar. Ainda bem. Se não deixaríamos sempre nosso trabalho e outros afazeres apenas para viver uma grande paixão. Todavia, acredito também que as pessoas precisam passar por esta fase de graça de vez em quando. Neste mesmo contexto, Romeu e Julieta é apenas uma história de paixão. Algumas pessoas mais críticas, vão ainda mais longe dizendo que se trata de uma história camuflada de sexo. Neste sentido, paixão é um eufemismo criado pela sociedade para lidar melhor com os desejos e comportamentos sexuais. Outros ainda acrescentam que se Romeu e Julieta se conhecessem mais e permanecessem por mais tempo juntos, não existiria mais história de amor, ou melhor, paixão, porque a vida rotineira eliminaria qualquer resquício de amor ainda mais porque se desconhece se eles tinham repertório afetivo prévio para desenvolver o amor agápico, o amor mais profundo.
De antemão, o amor maduro é uma mistura de sentimentos produzidos a partir de uma história de contingências de paixão e amor, com predominância de um repertório doce, nobre, amigo... cujo os indivíduos pensam a médio e longo prazo se comportando no presente, sendo sensíveis, tolerantes ao outro, com um poder equivalente e regado a muito afeto. Por fim, segundo Judith Viorst: “Paixão é quando você pensa que ele é sexy como o Brad Pitt, inteligente como o Albert Einstein, nobre com Martin L. King, engraçado como o Woody Allen e atlético como um campeão de Jiu-Jitsu. Amor é quando você descobre que ele é tão sexy como o Woody Allen, inteligente como o lutador de Jiu-Jitsu, engraçado como Martin L. King, atlético como Albert Einstein e nada parecido com o Brad Pitt - mas você fica com ele mesmo assim!” Portanto, amar profundamente exige não idealizar.

3) A não dedicação total e afastamento mostra que o outro vive um processo de sentimentos que estavam latentes?Até que ponto podemos dizer que é apenas um individualismo ou algo mais, como falta de desejo?
O indivíduo pode se distanciar de seu par por várias razões, entre elas:
a) Perdeu a admiração pelo ser amado.
b) A fase da paixão acabou ou diminuiu e a pessoa começou a dar prioridade a outras atividades incompatíveis a paixão. O que não quer dizer que o amor ao outro tenha acabado.
c) A fase da paixão terminou e não há repertório afetivo que mantenha o casal unido. Este repertório é a verdadeira cola que mantém as pessoas unidas. Inclusive ele é aprendido com os pais, familiares ou pessoas importantes durante a formação e desenvolvimento cognitivo e emocional.

4) Por outro lado, porque é importante que cada um tenha sua individualidade e olhe para os lados, para fora da relação apaixonada?
A paixão é uma fase de um relacionamento que tem data para terminar. E por incrível que pareça o indivíduo apaixonado ama a própria fantasia e não a outra pessoa. Neste sentido, estar apaixonado é idealizar o outro. Ou seja, a grosso modo, a paixão é um amor egoísta. Embora quem esteja apaixonado não queira e nem aceite saber.
Um relacionamento mais saudável deve prezar e respeitar as individualidades dos parceiros. Além disso, os parceiros precisam desenvolver repertórios para serem mais independentes emocionalmente. O amor ao próximo, o compromisso, o respeito, as boas amizades, a intimidade, o companheirismo são as melhores regras para iniciarmos a nos valorizar e dar importância as pessoas do nosso redor tendo como objetivos sermos mais afetivos e fortes. E isso leva de médio a longo prazo. Como disse o psicólogo Robert J. Sternberg: “A paixão é a primeira a surgir e a primeira a desaparecer. A intimidade necessita de mais tempo para se desenvolver, e o compromisso, mais ainda.”

5) Há uma forma de chegar ao equilíbrio?
As três formas de amar - paixão, amor fílico e amor agápico - em conjunto interagem e resultam em produtos os mais diversos e únicos. Dessa forma, o processo de vir a amar implica numa longa construção de repertórios de comportamentos de fazer por, fazer para e fazer com o outro; envolve amplo repertório de receber; supõe saber rir e saber chorar genuinamente; pede tolerância e paciência; sexo e beijos etc. Assim, não é de se estranhar que amar é uma tarefa árdua e que o amor pleno e ideal é aquele composto pela interação equilibrada dos três níveis de amor.

6) O esforço virá mais facilmente daquele que já passou o período de paixão. Ele terá condições de compreender e acolher a incompreensão do parceiro, sem se revoltar com o que poderá ser sentido como tentativa de controle e dominação?
Isso vai depender da história de vida e de seu histórico amoroso. O que se observa é que pessoas mais afetivas quando terminam a paixão não se separam porque tem repertório para entrar em contato com outras formas de amar com seu parceiro. Em oposição, indivíduos mais egoístas e imediatistas, em geral, não se mantém em uma relação sem paixão.

7) Neste cenário, muitos casais também não suportam as mudanças e terminam antes da hora?
Muitas pessoas não se livram das paixões porque gostam de fortes emoções ou porque não discriminam ou não experimentaram outras formas de amar. Se para o casal amar envolve só paixão, quando a paixão termina, termina o sentido que os faz estarem juntos. É o que acontece, por exemplo, comumente no mundo das celebridades.

8) Dê dicas para ser feliz e realizado nestes momentos no relacionamento?
É ingênuo supor que o amor está no interior do homem como se fosse algo natural que surgisse inexplicavelmente do nada. Amor é produto de uma construção de uma relação envolvendo os mais distintos sentimentos e comportamentos. A música do Titãs chamada “Provas de amor” tem algumas rimas que me chamaram a atenção. Veja essa: “Combinamos destruir, mas sempre estamos enganados vendo-o ressurgir.” e tem o refrão bastante marcante: “Existem provas de amor (...), não existe o amor.” O amor vale pela ação, pelo comportar-se. Neste sentido, o amor é aprendido e quando a sensação desaparece o casal pode reacendê-lo com paciência e dedicação (ação) ao outro tornando-o cada vez mais profundo. Além disso, o amor aprendido pelo ser humano pode ter várias formas, vários desenhos tornando-o uma das mais belas aquisições humanas. Todavia, o amor depende de comportamento, de como você o cultiva. Por isso não se pode dizer que é um sentimento eterno, mas depende de contingências que produzem tal sentimento. Frequentemente, penso no amor maduro como o amor ao ser e ao crescimento do outro, que é o Amor Agápico. Lao Tse disse certa vez: “Amar não é apoderar-se do outro para completar-se, mas dar-se ao outro para completá-lo.” Este amor envolve profundidade e cumplicidade o que torna a relação mais saborosa e proveitosa. Para experienciar este novo amor é necessário aceitar como as pessoas são e parar de querer reformá-las, como diz a sabedoria oriental: “Paixão é cegueira... Amor... é lidar com os defeitos do outro.” Além disso, desenvolver tolerância, empatia, uma boa comunicação com o parceiro etc.

Copyright © 2010 Reginaldo do Carmo Aguiar. Todos os direitos reservados.
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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.

Parece, mas não é

Revista Metropole

Parece, mas não é

Diagnóstico: psiquiatras e psicólogos falam de tristeza, um sentimento comum, às vezes confundido com depressão, tema de livro escrito por dois especialistas

Por Janete Trevisani

janete@rac.com.br

Équando silenciamos que melhor conversamos com nossos botões. Como bem sintetiza a escritora gaúcha Martha Medeiros em um de seus textos, “dessa conversa sai luz, lições, sinais, e a tristeza acaba saindo também, dando espaço para uma alegria nova e revitalizada. Triste é não sentir nada”. Mas, atualmente, parece que é feio sentir tristeza. Pior que isso, um mero aborrecimento ganha contornos de depressão severa.
Para os professores americanos Allan V. Horwitz e Jerome C. Wakefield, a psiquiatria contemporânea confunde tristeza normal com transtorno mental depressivo. No livro A tristeza perdida - como a psiquiatria transformou a depressão em moda, os autores mostram que a tristeza, comum a todo ser humano, vem sendo tratada como doença.
O objetivo é mostrar como os profissionais de saúde mental podem evitar transformar em doença reações emocionais normais aos estressores da vida, ao identificar com precisão aqueles que sofrem de transtornos depressivos genuínos. Para os autores, a psiquiatria fez avanços surpreendentes nas últimas décadas e hoje há muitas técnicas eficazes à disposição para descobrir as causas dos transtornos depressivos.
Nesta matéria, psicólogos e psiquiatras de Campinas são unânimes: a sociedade moderna é intolerante aos sentimentos tristes, como se fosse possível ser feliz o tempo todo.

Sem tempo para sofrer
“As pessoas vivenciam seus lutos e perdas como se fossem doenças, como se as dores e sofrimentos não fizessem parte da condição humana. Não querem, não se permitem entristecer-se, angustiar-se. Preferem se identificar ou procuram quem as identifiquem como doentes, tomando remédios que amenizem ou retirem completamente qualquer tipo de incômodo, como se todo incômodo fosse algo negativo, abandonando seus próprios recursos internos em prol de soluções imediatas e vindas do exterior. Por outro lado, a correria do mundo globalizado busca a perfeição, não prioriza a qualidade de vida e das relações, o que pode ocasionar um grande isolamento e senso de competição. Tudo isso gera um desgaste muito grande. Não há tempo para sofrer nossas perdas, reconhecer nossos medos, chorar nossas tristezas. Ignoramos tanto o que nosso corpo e mente demonstram que nos tornamos mais vulneráveis ao adoecimento emocional e físico.” - Shirley Miguel, psicóloga

Situações estressantes
“A tristeza ocorre nas mais variadas ocasiões e em diferentes graus de intensidade. Ela nos acompanha diuturnamente. Ficamos tristes ao nos deparar com uma notícia ruim na televisão, a violência urbana, o trânsito, as injustiças sociais, a corrupção das autoridades... Mas ninguém pensa em utilizar psicofármacos nessas ocasiões. Porém, há outras situações mais estressantes, como a morte de um parente, a perda de um amigo, a separação conjugal ou o desemprego. Aqui, preferimos falar em luto, porque a tristeza é mais intensa, proporcional à perda vivenciada. E o luto pode ser normal, quando esta proporção é mantida em intensidade e duração, ou patológico, quando esta proporção não se mantém. Nestes casos, a intervenção indicada não é a medicamentosa, mas sim a psicoterápica. A medicação é indicada apenas nos quadros depressivos de intensidade moderada ou grave, que se caracterizam não apenas pela tristeza, como também por outros sintomas associados: perda da energia e perda de interesse e do prazer pelas atividades habituais. Estes três sintomas formam a chamada tríade nuclear, ou o núcleo duro da depressão. Outros sintomas acessórios são frequentes: pessimismo, queda da autoestima, ideias de autoacusação ou culpa, diminuição da concentração, retardo ou agitação psicomotora, ideação suicida, alterações do sono e do apetite. A depressão é uma doença complexa, sistêmica e, frequentemente, de curso crônico. Se, por um lado, o exagero da medicação desnecessária é ruim - e isto é um fato no mundo todo -, por outro, deixar de medicar pacientes verdadeiramente depressivos é um mal ainda maior. A depressão não tratada está ligada a diversas patologias, como hipertensão arterial, diabetes, cardiopatias, dismetabolias, alterações endócrinas, entre outras.” - Evandro Gomes de Matos, doutor em psiquiatria

Situações estressantes
“A tristeza ocorre nas mais variadas ocasiões e em diferentes graus de intensidade. Ela nos acompanha diuturnamente. Ficamos tristes ao nos deparar com uma notícia ruim na televisão, a violência urbana, o trânsito, as injustiças sociais, a corrupção das autoridades... Mas ninguém pensa em utilizar psicofármacos nessas ocasiões. Porém, há outras situações mais estressantes, como a morte de um parente, a perda de um amigo, a separação conjugal ou o desemprego. Aqui, preferimos falar em luto, porque a tristeza é mais intensa, proporcional à perda vivenciada. E o luto pode ser normal, quando esta proporção é mantida em intensidade e duração, ou patológico, quando esta proporção não se mantém. Nestes casos, a intervenção indicada não é a medicamentosa, mas sim a psicoterápica. A medicação é indicada apenas nos quadros depressivos de intensidade moderada ou grave, que se caracterizam não apenas pela tristeza, como também por outros sintomas associados: perda da energia e perda de interesse e do prazer pelas atividades habituais. Estes três sintomas formam a chamada tríade nuclear, ou o núcleo duro da depressão. Outros sintomas acessórios são frequentes: pessimismo, queda da autoestima, ideias de autoacusação ou culpa, diminuição da concentração, retardo ou agitação psicomotora, ideação suicida, alterações do sono e do apetite. A depressão é uma doença complexa, sistêmica e, frequentemente, de curso crônico. Se, por um lado, o exagero da medicação desnecessária é ruim - e isto é um fato no mundo todo -, por outro, deixar de medicar pacientes verdadeiramente depressivos é um mal ainda maior. A depressão não tratada está ligada a diversas patologias, como hipertensão arterial, diabetes, cardiopatias, dismetabolias, alterações endócrinas, entre outras.” - Evandro Gomes de Matos, doutor em psiquiatria

Em parceria
“As manifestações de tristeza ocorrem ao longo da vida, mas devem ser analisadas à luz do contexto vivencial em que emergem. O psicólogo vai decidir se vale ou não a pena encaminhar para que o psiquiatra medique. Não tem sentido pensar que toda e qualquer tristeza será medicada, tampouco deixar de obter um alívio, a partir da medicação, por mera resistência. Muitos clínicos, psicólogos e psiquiatras sabem que certos medicamentos não resolvem os problemas vivenciais. Então, o remédio não tem o sentido de curar, mas, sim, de proporcionar alívio, o que é legítimo, porque não há necessidade de manter o sofrimento em um grau máximo para que a psicoterapia surja efeito. Assim, psicólogos podem trabalhar integradamente com psiquiatras, em muitos casos. Cada caso deve ser avaliado de forma individual por um profissional, levando em conta todo o contexto vivencial em que emergiu a tristeza.” - Cristiane Simões, psicóloga.

Cuidados necessários
“Estar triste é um estado afetivo momentâneo, ser depressivo é uma doença afetiva persistente. A tristeza é, então, um sentimento. A depressão é uma doença. A tristeza geralmente tem uma causa definida, a depressão não tem causa, embora as pessoas tentem descobrir algum motivo circunstancial. Existem muitos casos de tristeza que não são depressão, como quando há uma perda, uma decepção, uma frustração. Existem muitas depressões que não têm tristeza, mas, sim, outros sintomas, tais como apatia, desinteresse, desânimo, queixas físicas, pânico, ansiedade... Se nem tudo é depressão, então por que todos que procuram ajuda médica para o estado de sofrimento emocional acabam tomando antidepressivos? Porque o antidepressivo é a solução mais econômica e fácil. Depois de quinze ou vinte dias, a pessoa que toma antidepressivos começa a superar a angústia e, de certa forma, a tristeza. O ideal seria fazer um bom diagnóstico e instituir um tratamento adequado; em alguns casos terapia, outros medicação, ou os dois juntos. Em muitas circunstâncias, a tristeza é inevitável e não requer tratamento; a pessoa tem mesmo que passar por ela, superá-la, aproveitar para crescer e, conscientemente, valorizar tantos outros momentos felizes.” - Geraldo Ballone, psiquiatra.

Padrão de felicidade - “A sociedade estabelece um padrão de felicidade contínua, fazendo com que as pessoas esperem ser felizes o tempo todo ou que estejam sempre de bem com a vida, tornando-se intolerantes com sentimentos tristes. É como se a tristeza perdesse o direito de existir. E, por consequência, as pessoas acabam se sentindo culpadas e envergonhadas quando estão tristes ou têm problemas. Proibir uma tristeza provocada por uma separação amorosa, pela perda de um ente querido, por uma decepção pessoal, é eliminar um sentimento normal que deve ser vivido para que possa ser superado. Na verdade, muitas pessoas não sofrem de problemas psiquiátricos, mas apenas necessitam de apoio emocional por causa de uma intensa reação a alguma perda ou estresse em sua vida. O medicamento que atua diretamente no cérebro tem servido como uma solução mágica e toda solução rápida deveria ser questionada. O que se observa é que tais medicamentos têm servido mais como corrimão ou muleta e, por isso, não ensinam a pessoa a andar com as próprias pernas. Em outras palavras, não produz repertório que torne a pessoa independente. Ansiolíticos, antidepressivos e antipsicóticos não instalam comportamentos, não ensinam como a pessoa deve se comportar diante das adversidades. Por outro lado, é importante esclarecer que existem pessoas que precisam do tratamento medicamentoso e que, por isso, não podem jamais ficar sem tais fármacos e sem o acompanhamento médico especializado. Inclusive os medicamentos podem acelerar o processo psicoterapêutico.” - Reginaldo do Carmo Aguiar, psicólogo clínico comportamental.

Altos e baixos
“É normal sentir-se eventualmente triste, sem que esse estado configure uma depressão, como acontece após uma situação estressante real na vida. Somos seres cíclicos, com altos e baixos. Nossa sociedade tem como modelo ideal a pessoa que está bem em vários aspectos da vida, sempre, e há uma dificuldade para se lidar com os limites. A não tolerância a essas dificuldades impostas pela vida aumenta muito a quantidade de diagnósticos de quadros depressivos. Mas esse aumento não torna o diagnóstico um simples modismo e, sim, aponta para uma doença que é um reflexo do nosso tempo e da dificuldade em corresponder às demandas, sejam elas pessoais, da família, dos amigos ou da sociedade.” - Renata Yori Yonamine, psiquiatra.

Mecanismo emocional
“A tristeza não é uma inimiga. Atacá-la é confundir a causa com o efeito. Nos cursos de gerenciamento emocional, os nossos alunos aprendem como funciona o mecanismo emocional, como é possível alterar a forma de pensar para impedir que a tristeza ganhe proporções que levem ao descontrole. A tristeza é produzida pelo pensar. De fato, para sentir tristeza é preciso pensar de forma triste. Se não aceitar como válida uma interpretação triste de algum fato, o sujeito não conseguirá produzir a emoção de tristeza. Ao aprender formas de gerenciar as emoções, as pessoas deixam de usar antidepressivos e passam a modular a intensidade de suas emoções, de modo a mantê-las sempre dentro de limites benéficos, saudáveis e controlados. Quando alguém de fato ultrapassa a barreira da tristeza e mergulha na depressão patológica, o uso dos medicamentos é uma ajuda maravilhosa. Os antidepressivos podem neutralizar as condições cerebrais associadas à depressão, possibilitando ao paciente trabalhar para desenvolver um novo pensar, um pensar que, ao invés de produzir tristeza, crie emoções e sentimentos benéficos, revigorantes e motivadores. Aprender a gerenciar as emoções, superando a dependência dos medicamentos, devolve a sensação de estar no controle de si mesmo.” - Andrês De Nuccio, psicólogo e diretor do Instituto Ísvara.

Copyright © 2010 Reginaldo do Carmo Aguiar. Todos os direitos reservados.


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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.

Quer recasar comigo? (publicação na revista Metrópole)

Publicada em 11/7/2010 Revista Metropole

Quer recasar comigo?

Vaivém: ponto alto do romantismo típico de novelas da TV, casais que voltam às boas após separação são um assunto complexo na vida real.

Por Vilma Gasques


vilma@rac.com.br

O casamento acabou e cada um segue seu caminho, tentando tocar a carreira-solo. É nesse momento que o casal descobre que ainda existe amor, e ele continua forte. Os encontros voltam a acontecer e não tarda para a constatação: é melhor voltar a viver juntos. O casamento é, então, retomado. Há exemplos em que o casal chega a se separar no papel, na presença do juiz. E depois volta a se casar, de novo no papel.
“O casal constrói laços ao longo do tempo, não somente afetivos e sexuais. Alguns deles não se rompem com a separação, deixando aberta a possibilidade de retomada do relacionamento”, explica a terapeuta de casais e professora de psicologia clínica da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Diana Tosello Laloni.
O que ocorre, segundo a especialista, é que muitos imaginam que estão juntos apenas porque gostam um do outro e se entendem sexualmente. Entretanto, o casal estabelece laços econômicos, sociais, familiares e de status. Isso forma um conjunto de prazeres. “E a probabilidade de um casal retomar os laços rompidos após um tempo é grande, principalmente quando um ou ambos os parceiros não conseguiram, ao longo da separação, estabelecer vínculos com outras pessoas.” Diana ressalta que há uma tendência natural na vida de todos em buscar aquilo que foi bom no passado. “Se, em algum momento, sentir que falta alguma coisa, a tendência é retomar a boa experiência do casamento”, destaca. Diana não se arrisca a dizer que o recasamento é pior ou melhor para os envolvidos. “Tenderia a ser melhor, mais duradouro, já que houve uma experiência anterior que terminou e voltou. As pessoas têm essa ideia no imaginário. Mas isso não é uma verdade. Da mesma forma que houve uma experiência boa, teve a ruim que culminou na separação”, lembra. Ela salienta que esse é um casal vulnerável a novos problemas.
“O recasamento com os mesmos parceiros não é uma coisa comum. O casamento contemporâneo está cada vez mais centrado na questão da satisfação pessoal dos envolvidos”, explica Reginaldo do Carmo Aguiar, psicólogo e especialista em terapia de casais. Ele comenta que essa condição pode ser volúvel. Os projetos e os desejos de um podem mudar e se tornar incompatíveis com os projetos e os desejos do outro.
Ele lembra que, na impossibilidade de equacionar as diferenças, a separação é vista como a alternativa menos prejudicial para os parceiros e filhos. Segundo Aguiar, separação é uma decisão que envolve muitas variáveis vinculadas à história de vida de cada parceiro. Um exemplo é o marido que sempre gostou de brincar e participar da formação do filho. Com o distanciamento, esse pai sofrerá mais pela dissolução da família. Em contrapartida, a mulher que foi dona de casa e cuidadora dos filhos por anos terá dificuldade de se posicionar profissionalmente e sofrerá com as perdas econômicas.
Na avaliação do terapeuta, para que o recasamento seja benéfico é preciso avaliar o histórico do casal e saber se ocorreram mudanças. “Há uma fase inicial de namoro, tal como nas outras relações, e isso pode servir como uma condição motivadora. Por outro lado, a experiência da separação deve ser usada para identificar o que havia de errado na relação”, sugere.
Na segunda tentativa, espera-se que os casais estejam mais conscientes da relação. Além disso, a volta é benéfica caso a comunicação entre o casal tenha melhorado. Nesse sentido, ambos precisam ter mais habilidade para formular e expressar adequadamente opiniões, desejos, vontades, sentimentos e pensamentos sem ofender ou agredir o parceiro da relação.
‘Isso é muito belo’
O casamento da jornalista Luciene Dressano e do marceneiro José César Castelli ruiu logo nos primeiros anos, devido ao acúmulo de responsabilidades com a chegada de dois filhos que não estavam programados. “Muita tensão, divisão de papéis, inexperiência e ansiedade foram aos poucos nos desgastando. E nossa convivência se tornou insuportável”, lembra o casal.
Isso foi há mais de 20 anos e eles nem se lembram quanto tempo ficaram separados. “O que sabemos é que no começo pensamos que a separação seria uma saída para cada um ser feliz a seu modo. Mas depois descobrimos que nos amávamos e não dava para viver longe um do outro”, comenta Luciene.
Castelli lembra que descobriu que gostava da casa, da esposa e dos filhos quando saiu de casa. “Quando estava perto deles não conseguia enxergar nada disso. Foi preciso me distanciar para encontrar essa verdade”, lembra. Já a jornalista diz que o que prevaleceu foi o sentimento. “Nossa história de amor é forte. Nossas vidas foram marcadas por dificuldades e grandes provações. E a volta foi uma delas. Se voltamos, se depois de dez anos tivemos mais dois filhos e se estamos juntos até hoje é porque o amor fala mais alto. Isso é muito belo.”
Com quatro filhos, dois na faixa de 20 anos e dois adolescentes, Castelli e Luciene relembram que o recasamento teve início quando eles resgataram um namoro que havia sido intercalado por filhos e dificuldades emocionais. “Não chegamos a nos separar legalmente. E recordar essa história me faz acreditar que um dos pilares da união entre duas pessoas é a admiração que se tem um pelo outro. Eu fiquei mais seguro com o nosso retorno e descobri que queria envelhecer com a Lu”, declara o marceneiro, que descobriu com a mulher que uma relação amorosa se constrói todos os dias.
Já o casal Mário e Valéria (os nomes foram trocados para preservar os entrevistados) foram fundo na separação e se divorciaram. Quando voltaram a se entender, casaram-se novamente, mas não antes de várias reconciliações e separações. “Quando nos casamos, em 1986, estava grávida de quatro meses de nosso primeiro filho. Depois de dois anos, nasceu meu segundo filho. Meu marido trabalhava numa plataforma da Petrobras no Rio de Janeiro e somente nos víamos a cada 15 dias. Tivemos nossa primeira separação consensual que ele, como advogado, preparou”, conta Valéria.
A terceira filha nasceu em 1991 em meio a crises de “casa-separa”. Em 2001, casaram-se outra vez. Com três filhos da fase da adolescência, Mário e Valéria tiveram a quarta filha, hoje com sete anos. “Imagino que a religião me faz pensar no casamento como algo definitivo e fiz o possível para que desse certo. Vejo essa preocupação também no meu marido, que abdicou de projetos pessoais por causa dos filhos. Ele sempre prioriza os filhos. Esta é também uma razão forte para eu amá-lo.”
Prós e contras
De acordo com o psicólogo Reginaldo do Carmo Aguiar, não há informações que possibilitem mensurar a proporção de famílias formadas por casais recasados. O tempo que o casal fica separado antes de retomar o casamento também não é determinado pelos terapeutas. “Da minha experiência no consultório e em conversa com outros terapeutas, posso dizer que varia muito de caso para caso”, diz Aguiar.
De acordo com ele, outra situação que ocorre é a de o casal retomar o relacionamento antes mesmo de se separar legalmente, já que, em geral, a discussão dos acertos da separação e as dúvidas sobre as vantagens e desvantagens do rompimento. “Por isso, os parceiros acabam voltando antes mesmo de oficializar a separação na Justiça.”
Os que decidem recasar têm a vantagem de já conhecer o parceiro. Porém, nesse processo há desvantagens também. “O desejo sexual tende a ser menor com uma parceira conhecida há muito tempo e o casal pode voltar a ter uma rotina que é de aversão”, ressalta Aguiar. Ele lembra também que os envolvidos continuam, em muitos casos, tendo expectativas exageradas ou idealizadas no que diz respeito a companheirismo, atenção e respeito.
No caso dos homens tradicionais, há a expectativa de que as companheiras sejam excelentes amantes, esposas trabalhadeiras e, acima de tudo, mães cuidadosas. Eles também não querem ser cobrados por elas. “As mulheres esperam que os maridos sejam homens que se dediquem ao trabalho e à família, que sejam mais afetivos e carinhosos, que não sejam consumidos por vícios como a bebida, os jogos.”

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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Programa de televisão para falar sobre fobias, medos e ansiedades.

Participação do Programa de televisão Vida e Saúde com o apresentador Frei Rinaldo Stecanela da Emissora Tv Século 21 para falar sobre "Fobias, medos e ansiedades". O programa foi ao ar ao vivo no dia 02-08-2010 para todo o território brasileiro.
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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.