quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Tímido, Fóbico Social, Inassertivo, Passivo, ...? Por que algumas pessoas não sabem dizer não?

(Entrevista dada ao Jornal Bom dia de Jundiaí, São José do Rio Preto e Sorocaba)


Jornalista Graziela Delalibera: Por que algumas pessoas não conseguem impor limites nem dizer não?
Psicólogo Reginaldo:
Este comportamento inadequado vai depender principalmente, mas não apenas, da história de vida do indivíduo. Em geral em qual ambiente a pessoa esteve inserida? Como ocorreu a sua socialização? Detalhadamente como foi sua educação dentro de casa e das pessoas ao seu redor, se suas relações sociais no período de desenvolvimento foram saudáveis? Ocorreram alguns episódios marcantes ou traumático na vida do sujeito? A partir deste histórico pessoal detalhado poderá se entender porque alguns comportamentos são tão fortalecidos e qual é o repertório de habilidades sociais (déficits e excessos) existente no indivíduo para lidar com a demanda de seu ambiente. Há três comportamentos muito usuais referentes ao relacionamento interpessoal e vai de encontro ao repertório adquirido em sua vida. São eles: O comportamento assertivo, inassertivo e agressivo.
Faz se mister detalhar os dois primeiros: A assertividade envolve a defesa dos direitos pessoais e a expressão de pensamentos, sentimentos e crenças de formas direta, honesta e apropriada e que não desrespeitem os direitos de outras pessoas. A mensagem básica da asserção é: “Isto é o que eu penso, Isto é o que eu sinto e esta é a maneira como eu vejo esta situação”. Esta mensagem expressa “quem a pessoa é” e deve ser dita sem dominar, humilhar ou depreciar a outra pessoa. Em suma, o objetivo da assertividade é respeitar a si mesmo, expressando as suas necessidades e defendendo seus direitos, e respeitando as necessidades e direitos dos outros.
Em oposição a inassertividade envolve a violação dos direitos da própria pessoa pela incapacidade de expressar com honestidade sentimentos, pensamentos e crenças honestas e, consequentemente, permitindo que as outras pessoas o desrespeitem. Envolve ainda a expressão de seus pensamentos e sentimentos de forma muito desculposa, tímida, se auto anulando, sendo subserviente, de maneira a permitir que as pessoas facilmente a desconsiderem porque a outra pessoa é mais velha, mais poderosa, mais experiente, sabe mais ou é de um sexo ou raça diferente. Neste caso é muito comum: “Eu não mereço consideração, pode levar vantagem sobre mim. Meus pensamentos não são importantes, apenas os seus devem ser considerados. Não sou ninguém, você é superior a mim”. Em suma, o objetivo da inassertividade é satisfazer os outros e evitar conflitos a qualquer custo.
É importante não usar rótulos sintéticos dizendo por exemplo que o indivíduo é inassertivo, isto não vai ajudar ele a melhorar e isto provavelmente vai rotular o indivíduo. Deve ficar claro que o indivíduo responde ao seu ambiente diferencialmente. Isto quer dizer que uma pessoa pode ser assertiva no seu ambiente de trabalho, mas com sua esposa, por exemplo, ela pode ser inassertiva. Neste sentido estamos falando em assinaturas comportamentais. Portanto, respondemos de forma diferente dependendo do ambiente q estamos inseridos e de acordo com a história pessoal com este ambiente.


Graziela Delalibera: Quais os sentimentos/sofrimentos que esse comportamento desperta no indivíduo?
Reginaldo:
Em geral a pessoa que emite os comportamentos inassertivos tende a se sentir ferido, ansioso no momento e, a longo prazo, com raiva.

Graziela Delalibera: Como a passividade prejudica os relacionamentos e a vida profissional?
Reginaldo:
Basicamente as relações entre os indivíduos se dão entre ação e comunicação. A comunicação tem um papel fundamental, a ponto de estabelecer as condições apropriadas para a ocorrência das ações. Por meio dela eu vendo, solicito produto, aponto necessidades, levanto expectativas, antecipo necessidades, ou seja, estou influenciando o comportamento de outras pessoas. A comunicação abrange o local de trabalho. O “sujeito inassertivo”, neste sentido, não consegue dizer não as horas extras exaustivas e mal compensadas, ou questionar o cumprimento de prazos absurdos, enfrentar o assédio moral ou sexual e frequentemente rejeitam uma oferta de emprego pela falta da competência social. Eles também desenvolvem companheiros de suas relações em indivíduos com sentimentos de culpa ou de superioridade. Pesquisas revelam que os resultados produtivos de sujeitos que emitem comportamentos inassertivos a longo prazo são menores e que estes tendem a ser mais acometidos de estresse principalmente por serem facilmente controlados e a não ter iniciativa onde é requerido. Logo se a pessoa não é assertiva, ela acaba “somatizando” e apresenta problemas como dores de cabeça, gastrite, tensão muscular, etc. que piorará ainda mais sua produtividade no próprio ambiente de trabalho. Alguns malefícios conseqüentes de indivíduos comportamentalmente inassertivos são:
- Aumento de conflitos interpessoais.
- Liderança obscura, indireta e ineficaz.
- Negociações mal conduzidas.
- Mal planejamento no fechamento de vendas.
- Piora no clima organizacional.
- Clientes insatisfeitos com o atendimento.
- Pessoas mais inseguras, insatisfeitas e mais estressadas.

Graziela Delalibera: Quais as dicas para mudar esse comportamento e posicionar-se melhor?
Reginaldo:
1) Ler textos referentes aos direitos humanos e cidadania. Entre eles são direitos nossos: “Ser respeitado e tratado de igual para igual; Expressar os próprios pensamentos, opiniões e sentimentos; Dizer não, sem sentir-se culpado; Dizer sim, quando lhe convier; Dizer “não entendi” e pedir esclarecimentos; Concordar e discordar; Aceitar ou não as idéias, opiniões ou críticas de outras pessoas; etc”.
2) Há vários livros sobre a emissão de comportamentos mais assertivos. Dê preferência aqueles da área comportamental que são mais científicos e claros do que aqueles considerados “auto-ajuda” que prometem resultados a curto prazo.
3) Existem diversos cursos e workshops sobre o treino da assertividade. Pesquise na internet, por exemplo.
4) Sempre há modelos de pessoas assertivas ao nosso redor. Comece a observar como estas pessoas se comportam. Se caso tiver alguma intimidade com estas pessoas pergunte a elas como elas se sentem e quais são as vantagens e desvantagens a curto e longo prazo em emitir comportamentos mais assertivos.
5) Capacidade de auto-observação e de identificação dos comportamentos socialmente aceitos colabora com o desenvolvimento do comportamento assertivo.
6) Em alguns casos a psicoterapia pode ser mais eficaz e acelerar o processo de aprendizagem do treino das Habilidades Sociais. Principalmente naqueles casos em que o indivíduo tem outras dificuldades na sua vida. Indivíduos muito tímidos, por exemplo, aproveitariam melhor a terapia. A abordagem comportamental é uma ciência que tem um grande arcabouço de técnicas comportamentais com função de aumentar as competências sociais do indivíduo.

Graziela Delalibera: Dizer não requer treino? Como aprender a dizer não na hora certa e de maneira correta, sem ser agressivo?
Reginaldo: Acredito que em muito casos exija treino. Isto porque o nosso cotidiano é bastante complexo e precisamos nos comportar de forma diferente e isto exige um repertório comportamental bastante extenso. E qualquer atuação profissional envolve interações com outras pessoas onde são requeridas muitas e variadas habilidades sociais, componentes da competência técnica e interpessoal. Portanto, não há uma receita pronta sobre a assertividade.


Matéria Jornal BOM DIA de Jundiaí, São José do Rio Preto e Sorocaba.


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