quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Quer recasar comigo? (publicação na revista Metrópole)

Publicada em 11/7/2010 Revista Metropole

Quer recasar comigo?

Vaivém: ponto alto do romantismo típico de novelas da TV, casais que voltam às boas após separação são um assunto complexo na vida real.

Por Vilma Gasques


vilma@rac.com.br

O casamento acabou e cada um segue seu caminho, tentando tocar a carreira-solo. É nesse momento que o casal descobre que ainda existe amor, e ele continua forte. Os encontros voltam a acontecer e não tarda para a constatação: é melhor voltar a viver juntos. O casamento é, então, retomado. Há exemplos em que o casal chega a se separar no papel, na presença do juiz. E depois volta a se casar, de novo no papel.
“O casal constrói laços ao longo do tempo, não somente afetivos e sexuais. Alguns deles não se rompem com a separação, deixando aberta a possibilidade de retomada do relacionamento”, explica a terapeuta de casais e professora de psicologia clínica da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Diana Tosello Laloni.
O que ocorre, segundo a especialista, é que muitos imaginam que estão juntos apenas porque gostam um do outro e se entendem sexualmente. Entretanto, o casal estabelece laços econômicos, sociais, familiares e de status. Isso forma um conjunto de prazeres. “E a probabilidade de um casal retomar os laços rompidos após um tempo é grande, principalmente quando um ou ambos os parceiros não conseguiram, ao longo da separação, estabelecer vínculos com outras pessoas.” Diana ressalta que há uma tendência natural na vida de todos em buscar aquilo que foi bom no passado. “Se, em algum momento, sentir que falta alguma coisa, a tendência é retomar a boa experiência do casamento”, destaca. Diana não se arrisca a dizer que o recasamento é pior ou melhor para os envolvidos. “Tenderia a ser melhor, mais duradouro, já que houve uma experiência anterior que terminou e voltou. As pessoas têm essa ideia no imaginário. Mas isso não é uma verdade. Da mesma forma que houve uma experiência boa, teve a ruim que culminou na separação”, lembra. Ela salienta que esse é um casal vulnerável a novos problemas.
“O recasamento com os mesmos parceiros não é uma coisa comum. O casamento contemporâneo está cada vez mais centrado na questão da satisfação pessoal dos envolvidos”, explica Reginaldo do Carmo Aguiar, psicólogo e especialista em terapia de casais. Ele comenta que essa condição pode ser volúvel. Os projetos e os desejos de um podem mudar e se tornar incompatíveis com os projetos e os desejos do outro.
Ele lembra que, na impossibilidade de equacionar as diferenças, a separação é vista como a alternativa menos prejudicial para os parceiros e filhos. Segundo Aguiar, separação é uma decisão que envolve muitas variáveis vinculadas à história de vida de cada parceiro. Um exemplo é o marido que sempre gostou de brincar e participar da formação do filho. Com o distanciamento, esse pai sofrerá mais pela dissolução da família. Em contrapartida, a mulher que foi dona de casa e cuidadora dos filhos por anos terá dificuldade de se posicionar profissionalmente e sofrerá com as perdas econômicas.
Na avaliação do terapeuta, para que o recasamento seja benéfico é preciso avaliar o histórico do casal e saber se ocorreram mudanças. “Há uma fase inicial de namoro, tal como nas outras relações, e isso pode servir como uma condição motivadora. Por outro lado, a experiência da separação deve ser usada para identificar o que havia de errado na relação”, sugere.
Na segunda tentativa, espera-se que os casais estejam mais conscientes da relação. Além disso, a volta é benéfica caso a comunicação entre o casal tenha melhorado. Nesse sentido, ambos precisam ter mais habilidade para formular e expressar adequadamente opiniões, desejos, vontades, sentimentos e pensamentos sem ofender ou agredir o parceiro da relação.
‘Isso é muito belo’
O casamento da jornalista Luciene Dressano e do marceneiro José César Castelli ruiu logo nos primeiros anos, devido ao acúmulo de responsabilidades com a chegada de dois filhos que não estavam programados. “Muita tensão, divisão de papéis, inexperiência e ansiedade foram aos poucos nos desgastando. E nossa convivência se tornou insuportável”, lembra o casal.
Isso foi há mais de 20 anos e eles nem se lembram quanto tempo ficaram separados. “O que sabemos é que no começo pensamos que a separação seria uma saída para cada um ser feliz a seu modo. Mas depois descobrimos que nos amávamos e não dava para viver longe um do outro”, comenta Luciene.
Castelli lembra que descobriu que gostava da casa, da esposa e dos filhos quando saiu de casa. “Quando estava perto deles não conseguia enxergar nada disso. Foi preciso me distanciar para encontrar essa verdade”, lembra. Já a jornalista diz que o que prevaleceu foi o sentimento. “Nossa história de amor é forte. Nossas vidas foram marcadas por dificuldades e grandes provações. E a volta foi uma delas. Se voltamos, se depois de dez anos tivemos mais dois filhos e se estamos juntos até hoje é porque o amor fala mais alto. Isso é muito belo.”
Com quatro filhos, dois na faixa de 20 anos e dois adolescentes, Castelli e Luciene relembram que o recasamento teve início quando eles resgataram um namoro que havia sido intercalado por filhos e dificuldades emocionais. “Não chegamos a nos separar legalmente. E recordar essa história me faz acreditar que um dos pilares da união entre duas pessoas é a admiração que se tem um pelo outro. Eu fiquei mais seguro com o nosso retorno e descobri que queria envelhecer com a Lu”, declara o marceneiro, que descobriu com a mulher que uma relação amorosa se constrói todos os dias.
Já o casal Mário e Valéria (os nomes foram trocados para preservar os entrevistados) foram fundo na separação e se divorciaram. Quando voltaram a se entender, casaram-se novamente, mas não antes de várias reconciliações e separações. “Quando nos casamos, em 1986, estava grávida de quatro meses de nosso primeiro filho. Depois de dois anos, nasceu meu segundo filho. Meu marido trabalhava numa plataforma da Petrobras no Rio de Janeiro e somente nos víamos a cada 15 dias. Tivemos nossa primeira separação consensual que ele, como advogado, preparou”, conta Valéria.
A terceira filha nasceu em 1991 em meio a crises de “casa-separa”. Em 2001, casaram-se outra vez. Com três filhos da fase da adolescência, Mário e Valéria tiveram a quarta filha, hoje com sete anos. “Imagino que a religião me faz pensar no casamento como algo definitivo e fiz o possível para que desse certo. Vejo essa preocupação também no meu marido, que abdicou de projetos pessoais por causa dos filhos. Ele sempre prioriza os filhos. Esta é também uma razão forte para eu amá-lo.”
Prós e contras
De acordo com o psicólogo Reginaldo do Carmo Aguiar, não há informações que possibilitem mensurar a proporção de famílias formadas por casais recasados. O tempo que o casal fica separado antes de retomar o casamento também não é determinado pelos terapeutas. “Da minha experiência no consultório e em conversa com outros terapeutas, posso dizer que varia muito de caso para caso”, diz Aguiar.
De acordo com ele, outra situação que ocorre é a de o casal retomar o relacionamento antes mesmo de se separar legalmente, já que, em geral, a discussão dos acertos da separação e as dúvidas sobre as vantagens e desvantagens do rompimento. “Por isso, os parceiros acabam voltando antes mesmo de oficializar a separação na Justiça.”
Os que decidem recasar têm a vantagem de já conhecer o parceiro. Porém, nesse processo há desvantagens também. “O desejo sexual tende a ser menor com uma parceira conhecida há muito tempo e o casal pode voltar a ter uma rotina que é de aversão”, ressalta Aguiar. Ele lembra também que os envolvidos continuam, em muitos casos, tendo expectativas exageradas ou idealizadas no que diz respeito a companheirismo, atenção e respeito.
No caso dos homens tradicionais, há a expectativa de que as companheiras sejam excelentes amantes, esposas trabalhadeiras e, acima de tudo, mães cuidadosas. Eles também não querem ser cobrados por elas. “As mulheres esperam que os maridos sejam homens que se dediquem ao trabalho e à família, que sejam mais afetivos e carinhosos, que não sejam consumidos por vícios como a bebida, os jogos.”

Copyright © 2010 Reginaldo do Carmo Aguiar. Todos os direitos reservados.
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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.

Um comentário:

jo.bertazzo disse...

Bom dia, estou vivendo uma situação assim, pois já tinha até me casado com outro, e depois de dez anos estou voltando com o ex do qual tenho um filho de 14 anos, ainda é nova a idéia pra mim, mais posso assegurar que está sendo bom demais.