terça-feira, 13 de março de 2007

Porque atualmente tantas pessoas estão com depressão e outras psicopatologias?

Atualmente as pessoas tendem a dizer que o número de pessoas com depressão, “pânico”, estresse, ansiedade, fobias, psicopatologias (“doenças da mente”) em geral e outras patologias referentes ao estresse estão em um alarmante crescimento. A causa deste aumento de quadros patológicos, ingenuamente, é devido unicamente ao excesso de estresse na nossa sociedade contemporânea. Como, por exemplo, o excesso de trabalho ou cobranças, a dupla jornada de trabalho das mulheres, o trânsito, a insegurança nas ruas, dentre outros... O ambiente em que estamos inseridos é muito aversivo e por isso nos sentimos desconfortados. Tendemos a acreditar que este caos, este pandemônio, é exclusivo deste período de nossa história atual. Este argumento é pobre, isto porque se compararmos a períodos de nossos ancestrais, imagine gerações bem anteriores as nossas que viviam basicamente da sobrevivência e reprodução, há 100.000 anos atrás em que o estresse ou pelo menos as condições ambientais aversivas reais que promoviam os medos eram 100 vezes maiores que as atuais. Não precisamos ir longe demais. O período da revolução industrial no século 18 e 19, onde as pessoas viviam trabalhando 18 horas diárias de deveres, dormindo mal e vivendo em lugares sub-humanos, que não lhes asseguravam suas saúdes e sem o mínimo de direitos. Ou, as guerras e suas conseqüências são exemplos bastante contemporâneos de ambientes inadequados para a sobrevivência humana. Isto quer dizer que falar que vivemos em um mundo problemático e em crise, jamais visto, devido ao mundo atual é um grande equívoco. Somado a isso dizem que este caos aumentou as psicopatologias nas pessoas.
Um argumento para este crescimento de psicopatologias deve envolver variáveis biológicas e históricas que influenciam o modo do homem se comportar. Uma evidência para o crescimento destes comportamentos “inadequados” deve-se a um melhor diagnóstico devido ao desenvolvimento das ciências experimentais que desenvolveram novas tecnologias para melhor identificar, analisar e propor tratamentos mais eficazes aos comportamentos não adaptados. Experimentos com algumas espécies animais dentro de laboratórios, pesquisas experimentais com humanos, análises estatísticas com amostras relevantes e adequadas, pesquisas aprimoradas, aparelhos de Ressonância Magnética e de tomografia, exames de rotina como o de sangue e polissonografias, e outras diversas ferramentas são contribuições importantes para a nossa sociedade. Isto quer dizer que sempre existiram pessoas que adoeceram por causa de câncer, depressão, ansiedade e psicose graves e assim por diante. No entanto, apenas nestas últimas décadas é que melhor estão sendo diagnosticadas devido ao desenvolvimento tecnológico vigente. Portanto, hoje estes problemas podem ser contabilizados porque são melhor identificados.
Uma segunda evidência para este aumento de “psicopatologias” deve-se aos meios de comunicação com fins lucrativos. Onde as informações apresentadas a cerca dos problemas psicológicos e psiquiátricos raramente são confiáveis. Vivemos em uma sociedade em que a televisão é o único meio de comunicação de milhões de pessoas no Brasil, um veículo de massa, que é símbolo de um encurtamento do tempo e do espaço. Ou seja, a mídia apresenta fatos que ocorrem no presente, todavia não contextualizam a partir de uma construção sócio-histórica. A televisão também reflete o encurtamento do espaço já que ela edita e seleciona apenas cenas que proporcionará maior audiência ou uma melhor estética; Ela vive do show business, da informação espetáculo. E esse show negociável geralmente não compete com a saúde psíquica dos cidadãos. Os fatos apresentados nela não focalizam a totalidade das informações relevantes, seja no espaço, seja no tempo. Uma vez vi uma matéria na televisão que falava sobre a depressão. A matéria foi exibida de maneira tão inadequada e com informações distorcidas em que o sentimento de tristeza eventual, esporádica, passageira que todos no dia-dia estamos sujeitos a sentir podia ser confundido com depressão. É importante salientar que para considerar um quadro de depressão é necessário que alguns critérios estejam evidenciados nos comportamentos sintomáticos (sintomas) do sujeito, levando em consideração alguns aspectos ou dimensões do comportamento: a intensidade, a freqüência, a latência, a topografia e a duração de um conjunto de comportamentos. Isto segundo a classificação dos transtornos mentais da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-IV), mas, além disso, é necessário uma criteriosa entrevista comportamental. Imaginei a repercussão desta matéria, diversas pessoas provavelmente entraram em pânico porque confundiram tristeza com depressão e porque estavam tristes acreditaram estar depressivas. Daí a importância de assistir programas de televisão confiáveis ou buscar informações com um bom psicoterapeuta e psiquiatra para fazer uma boa anamnese (questionário de entrevista para avaliação bio-psico-social) no paciente.
Um outro argumento nesta mesma linha é o comportamento vicário (imitado), que é um comportamento imitativo aprendido através da observação feita ao outro. Isto foi muito vantajoso no decorrer da história evolutiva do homem porque ele poderia observar comportamentos adaptativos e desadaptativos de outros e saber suas conseqüências e resultados apenas observando. E com isso selecionar e emitir comportamentos mais vantajosos para as diferentes ocasiões que foram bem sucedidas pelos modelos. O comportamento vicário, no entanto, é uma faca de dois gumes. Algumas pessoas, por exemplo, que vêem suicídios na televisão tendem a desejar e a experimentar tentativas de suicídio e algumas infelizmente conseguem com êxito. Algumas pesquisas revelam o aumento de suicídios em lugares próximos ou em regiões quando são comunicados em noticiários ou informado pela população. Você já parou para pensar o quanto a televisão influencia o comportamento humano e qual a contribuição das novelas e alguns programas como modelo para os telespectadores?
Uma terceira evidência que está sendo bastante estudada hoje pela ciência é a crença em um Deus, e que tem haver com a espiritualidade humana. O “homem da caverna” acreditava em Deus ou em Deuses. Haja visto o grande número de pinturas rupestres (antigas representações pictóricas conhecidas - 40.000 a.C. - gravadas em abrigos ou cavernas, em suas paredes e tetos rochosos, ou também em superfícies rochosas ao ar livre, mas em lugares protegidos, normalmente datando de épocas pré-históricas) que demonstram os rituais as crenças religiosas da época. O período da Idade Média também foi marcado fortemente pela influência religiosa. Em oposição a estes períodos, no período moderno, René Descartes (1596-1650) radicalizou dizendo que fé e razão eram contraditórios e apenas a razão poderia levar a verdade. Esta valorização da razão chegou apenas a uma minoria abastada socialmente daquela época, mas este paradigma influencou e influencia cada vez mais um grande contingente de pessoas em nossa sociedade. Foi apenas no século XIX com o expoente filósofo Friedrich Nietzsche, é que o homem se viu sem rumo, sem referências, sem consolos metafísicos, sem esconderijos... Neste sentido, tanto a razão quanto Deus foram contestados como ilusões. A conseqüência disso é que o homem atual se vê perdido diante do seu potencial racional adquirido culturalmente e desprotegido desta idéia de Deus poderoso e protetor. Isto o deixou mais responsável perante seus problemas sem que com isso estivesse preparado a resolvê-los ou o deixou responsável por tantas variáveis que seriam de responsabilidade de um Estado, na maioria das vezes, decadente. O homem logo se viu impotente.
A quarta evidência é a falta de políticas públicas em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento na área da saúde, educação, cultura e segurança. A consequência disto são paises com um dos maiores índices de comportamentos desadaptados (estresse, depressão, distúrbios do sono etc.) no mundo. Logo, se não ocorrer políticas coerentes e eficazes nada adiantará.
Uma quinta evidência e uma das mais importantes é que o medo do “homem das cavernas” era muito mais real, físico e por isso ele poderia ter estratégias mais eficazes para solucionar seus problemas e se ver livre e sem preocupações. Diferentemente do homem moderno e contemporâneo em que seu medo é muito mais abstrato, simbólico, fantasioso, aguçado e criando com isso um imaginário mais sofisticado e desadaptativo ao homem que não apenas enxerga o medo físico real. Isto proporcionou desvantagens porque este medo diante do estímulo aversivo não é deixado de lado. É levado até suas últimas consequências, o sujeito leva seu medo para casa, generaliza para suas relações, catastrofiza, fica sob controle de estímulos aversivos, vive no passado ou no futuro etc... Portanto, um conjunto de variáveis explicitam o fenômeno psicopatológico, seja por causa dos melhores diagnósticos, por causa do desserviço da mídia, pela descrença espiritual e religiosa, pelo excesso de atividades no dia-dia, pela falta de políticas públicas eficazes e do homem atual ser mais simbólico do que os seus ancestrais comuns. Isto abre um histórico para um aumento desastroso nos quadros afetivos e ansiogênicos (que produz ansiedade) de nossa sociedade. Uma das alternativas para esta demanda, mas não somente, é procurar bons profissionais da saúde e políticos que entendam o homem a partir de um contexto bio-psico-social. E a priori são nestes profissionais que devemos apostar. A terapia comportamental parte desta perspectiva e tem colaborado e ajudado muitas pessoas proporcionando resultados muito satisfatórios para os diversos comportamentos inadequados. Ela é objetiva, clara e parte de um trabalho árduo de pesquisas e práticas que são comprovados cientificamente visando sempre a história do indivíduo (pré-disposição genética, ambiente e cultura).

___________________________________________________________________
Endereço e contato para atendimento clinico e palestras: ver em "Quem sou eu" na parte superior a direita da página.

Um comentário:

Anônimo disse...

Regito,
Acho que para um primeiro artigo está muito bom... Foi bastante claro e objetivo, fez uma conclusão muito legal, enfim não deixou dúvidas do que queria informar...
Acho que é isso...

Beijoss!!!