sábado, 13 de dezembro de 2008

O que é comportamento? Qual é o verdadeiro conceito de comportamento? Como se produz um comportamento?

1) O que é comportamento?
O comportamento deve ser visto como um aspecto constitutivo da espécie humana e como uma relação entre organismo e ambiente. O comportamento é sempre uma relação ou interação entre eventos ambientais (estímulos) e atividades de um organismo (respostas). A relação organismo-ambiente pode envolver uma situação aparentemente simples (por exemplo, lacrimejar ao descascar cebolas, abrir uma porta ao ouvir uma campainha) ou obviamente complexa (por exemplo, solucionar um problema, abstrair, conhecer a si mesmo).

2) Quais são os dois tipos de comportamento didaticamente entendidos?
No comportamento as relações envolvem: 1) Estímulos antecedentes e respostas (ESTÍMULO – RESPOSTA) conhecido como comportamento respondente.
2) Estímulos antecedentes, resposta e estímulos que seguem a resposta (ESTÍMULO – RESPOSTA – ESTÍMULO) conhecido como comportamento operante.

3) O Comportamento tem haver com a seleção natural?
O comportamento é selecionado pelas conseqüências, o ponto de partida disso é a teoria da seleção natural: Charles Darwin (1809-1882) e Alfred Wallace (1823-1913). Dois processos básicos precisaram ser entendidos para entender as diferenças entre espécies: produção de variação e seleção de algumas destas variações. Em 1858: Darwin e Wallace apresentam esboço da teoria na Linnean Society. Em 1859: Darwin publica “A origem das espécies”.
A teoria da seleção natural: “A teoria da seleção natural de Darwin é mais complexa que o lamarckismo porque requer dois processos separados em vez de uma força única. Ambas as teorias têm raízes no conceito de adaptação – a idéia de que os organismos respondem às mudanças ambientais desenvolvendo uma forma, função, ou comportamento mais adequado às novas circunstâncias. Assim, nas duas teorias, as informações do ambiente têm de ser transmitidas aos organismos. No lamarckismo a transmissão é direta. Um organismo dá-se conta da mudança ambiental. Responde a ela de maneira “correta” e passa diretamente à descendência a reação apropriada. O darwinismo, por outro lado, é um processo de duas fases em que as forças responsáveis pela variação e pela direção são diferentes.
Os darwinistas referem-se à primeira fase, à variação genética, como sendo “aleatória”. Trata-se de um termo infeliz, porque não queremos dizer aleatório no sentido matemático, de igualmente provável em todas as direções. Simplesmente entendemos que a variação ocorre sem orientação preferida nas direções adaptativas. ... A seleção, segunda fase, trabalha sobre variações não orientadas e muda a população, conferindo maior êxito reprodutivo às variantes favorecidas. Esta é a diferença essencial entre lamarckismo e darwinismo, já que o lamarckismo é fundamentalmente uma teoria de variação dirigida. ... a variação é dirigida automaticamente para a adaptação e nenhuma força secundária como a seleção natural é necessária.
(Gould, 1989, pp. 67, 68).
Neste sentido o comportamento pode ocorrer a partir dos processos básicos:
1) variação: randômica (Sem direção determinada. “deve ser pequena em relação à extensão da mudança evolucionária.” (Gould, 1992, p.12)). Que ocorre a partir de um longo processo antes que se identifique grandes mudanças evolucionárias.
2) seleção: relação consistente entre uma dada característica do organismo e sobrevivência / habilidade acasalamento. Tal característica deve ser passível de ser geneticamente transmitida.
O modelo causal de seleção por conseqüências é elaborado a partir da teoria da seleção natural.

4) A história filogenética é necessária para se entender o comportamento?
A história filogenética é um dos determinantes do comportamento.
“... A evolução orgânica explica a existência de processos comportamentais que são parte da dotação genética da espécie humana – nossa filogênese.” (Glenn e Field, 1994, p.241). Para Skinner (1987) duas perguntas dirigem a investigação sobre os determinantes filogenéticos:
Qual a origem dos padrões fixos (comportamento inato) de comportamentos?
Qual a origem dos processos que possibilitam mudanças comportamentais?
Em ambos os casos, supõe-se uma história de seleção.

5) Há alguma relação entre filogênese e comportamento?
A filogênese e comportamento envolvem: a) Padrões fixos: simples movimento, sensação, tropismos, reflexos, padrões fixos de ação / reações em cadeia.
B) Processos comportamentais: imitação e modelações filogenéticas, condicionamento respondente e operante.

6) Qual a função do condicionamento respondente e operante?
O condicionamento respondente prepara o organismo para reagir a um “ambiente ao qual apenas o indivíduo é exposto” (Skinner, 1987, p.69)

O condicionamento operante “novas respostas podem ser fortalecidas (reforçadas) por eventos que as seguem imediatamente” (Skinner, 1987, p. 52)

7) E a história ontogenética é importante para o comportamento?
O comportamento tem como modelo causal de seleção por conseqüências a história ontogenética. “Condicionamento operante é um segundo tipo de seleção por consequências.” (Skinner, 1987, p. 52). A história ontogenética envolve:
a) Suscetibilidade a reforçadores primários
b) Suscetibilidade a reforçadores condicionados
c) Comportamento não comprometido com estímulos liberadores ou eliciadores.
E possibilita:
a) imitação e modelação operantes
b) controle operante de respostas vocais

8) E a cultura tem algo haver com comportamento?
O comportamento tem como modelo causal de seleção por conseqüências a história cultural. Segundo Skinner “O processo possivelmente começou no nível do indivíduo. Uma maneira melhor de fazer uma ferramenta, de produzir alimentos, ou de ensinar uma criança é reforçada por sua conseqüência: a ferramenta, o alimento ou um ajudante útil, respectivamente. Uma cultura evolui quando práticas que se originaram desta maneira contribuem para o sucesso do grupo praticante na solução de seus problemas. É o efeito sobre o grupo, não conseqüências reforçadoras para membros individuais que é responsável pela evolução da cultura." (Skinner, 1987, p.54)

9) Pensando neste sentido, então cada nível de seleção corresponde a um ‘produto’?
“Os termos que usamos para designar o indivíduo que se comportam dependem do tipo de seleção. Seleção natural nos dá o organismo, condicionamento operante nos dá a pessoa e ... A evolução de culturas nos dá o self." (Skinner, 1989, p.28).
As diferentes disciplinas enfatizam distintos níveis de seleção: “Toda a história será finalmente contada pela ação conjunta das ciências da genética, comportamento e cultura” (Skinner, 1989, p.56)
Portanto as causas do comportamento envolvem três histórias distintas: A história da espécie, do indivíduo e da cultura. E que deve ser considerado a distância temporal entre a seleção e os efeitos da seleção e a distinção entre os produtos dos três níveis de seleção e os processos que originam tais produtos.

“Uma análise científica do comportamento deve, eu creio, assumir que o comportamento de uma pessoa é controlado por suas histórias genética e ambiental e não pela própria pessoa como um agente criativo, iniciador, mas nenhum aspecto da posição behaviorista originou objeções mais violentas.” (Skinner, 1974, p.189).




Para saber mais e aprofundar:
O professor Carlos Eduardo Lopes tem um artigo na RBTCC (Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva) que detalha o conceito de comportamento de forma bastante didática e coerente. Vale a pena conferir.
Uma proposta de definição de comportamento no behaviorismo radical -
A proposal of definition of behavior in radical behaviorism
Carlos Eduardo Lopes - Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos. Professor adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – campus de Paranaíba (UFMS/CPAR).
Resumo: O objetivo deste ensaio é construir uma definição de comportamento no Behaviorismo Radical. Defende-se que tal definição de comportamento deve levar em consideração (1) os compromissos filosóficos do Behaviorismo Radical, (2) o aspecto dinâmico do comportamento, e (3) a articulação entre eventos, estados e processos. Partindo de uma interpretação relacional do Behaviorismo Radical, o presente ensaio defende que o comportamento pode ser entendido como uma relação organismo-ambiente, cuja dinâmica é uma coordenação sensório-motora. Como resultado dessa dinâmica, temos um fluxo comportamental que pode ser analisado em termos de uma relação de interdependência entre eventos ambientais, eventos comportamentais, estados comportamentais e processos comportamentais.
Palavras-chave: Behaviorismo radical, Análise do comportamento, Interpretação relacional,
Conceito de comportamento.
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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.
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Um comentário:

Anônimo disse...

Muito interessante esta explicação para comportamento. Parabéns. obviamente,muitas pessoas visualizaram o artigo,contudo,ninguém inferiu comentários. Muito bem elaborado.
Juliano Ramos.