quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Sobre a esperança

Carl Sandburg

Agora que a mansão está concluída, os trabalhadores começam a grade.
São barras de ferro com pontas de açocapazes de tirar a vida a quem se arrisque sobre elas. Uma obra prima que impedirá a entrada de famintos, crianças de rua e vagabundos.
Vagabundos de toda espécie.
Entre as barras e sobre as pontas de aço nada passará excetoa chuva, a morte e o dia de amanhã.

Sobre o(a) autor(a): Carl Sandburg nasceu pobre, em Gallesburg, Illinois, no ano de 1878, e fez-se poeta famoso, folclorista e historiador respeitado, dentre outras inúmeras profissões exercidas durante sua rica e prolífica vida.
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Mil lágrimas
Itamar Assumpção
Composição: Itamar Assumpção E Alice Ruiz

Milágrimas(Alice Ruiz e Itamar Assumpção)

Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo vá ao cinema dê um sorriso ainda que amarelo,
Esqueça seu cotovelo se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério
Deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre
Caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa
Coma somente a cereja
Jogue para cima
Faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas viva apenas
Sendo só fissura ou loucura quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena
Reze um terço
Caia fora do contexto
Invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal gota a gota,
Uma a uma duas três dez cem mil lágrimas
Sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre
Cante as rimas de um poema
Sofra penas
Viva apenas
Sendo só fissura ou loucura quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena
Reze um terço
Caia fora do contexto
Invente seu endereço a cada mil lágrimas sai um milagre

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Overmundo (de Murilo Mendes)

Os pinheiros assobiam, a tempestade chega:
Os cavalos bebem na mão da tempestade.
Amarro o navio no canto do jardim
E bato à porta do castelo na Espanha.
Soam os tambores do vento.

"Overmundo, Overmundo, que é dos teus oráculos,
Do aparelho de precisão para medir os sonhos,
E da rosa que pega fogo no inimigo?
"Ninguém ampara o cavaleiro do mundo delirante,
Que anda, voa, está em toda a parte
E não consegue pousar em ponto algum.
Observai sua armadura de penas
E ouvi seu grito eletrônico.

"Overmundo expirou ao descobrir quem era",
Anunciam de dentro do castelo na Espanha.
"O tempo é o mesmo desde o princípio da criação",
Respondem os homens futuros pela minha voz.

Fonte: Poesia Liberdade (1947)


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Vinicius de Moraes

Pra que chorar
Se o sol já vai raiar,
Se o dia vai amanhecer.
Pra que sofrer
Se a lua vai nascer,
É só o sol se pôr.
Pra que chorar se existe amor,
A questão é só de dar,
A questão é só de dor.
Quem não chorou,
Quem não se lastimou,
Não pode nunca mais dizer
Pra que chorar,
Pra que sofrer,
Se há sempre um novo amor
Em cada novo amanhecer

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A estrela – (Manuel Bandeira)

Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.

Era uma estrelas tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?

E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais tarde ao fim do meu dia.
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"Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira!"

Che Guevara
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Primeira Infância

Era rosa, era malva, era leite,
As amigas de minha mãe vaticinando:
Vai ser muito feliz, vai ser muito famosa
Eram rendas, pano branco, estrela dalva,
Benza-te a cruz, no ouvido, na testa.
Sobre tua boca e teus olhos
O nome da trindade te proteja.
Em ponto de marca no vestidinho: navios.
Todos à vela.
A viagem que eu faria em roda de mim.

Adélia Prado, p.l48
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