quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Sobre o locus de controle interno

É contra mim que luto (Miguel Torga)

É contra mim que luto.
Não tenho outro inimigo.
O que penso, o que sinto, o que digo, e o que faço, é que pede castigo e desespera a lança no meu braço.
Absurda aliança decriança e adulto, o que sou é um insulto ao que não sou;
E combato esse vulto que à traição me invadiu e me ocupou.
Infeliz com loucura e sem loucura, peço à vida outra vida, outra aventura, outro incerto destino. Não me dou por vencido, nem convencido. E agrido em mim o homem e o menino.

Sobre o(a) autor(a):Pseudônimo de Adolfo Correia da Rocha (1907-1995), português. Formado médico, este escritor passeou pela poesia, prosa, ficção, drama e fez um romance autobiográfico. Escritor independente, sem escola. Sobre o(a) autor(a):Pseudônimo de Adolfo Correia da Rocha (1907-1995), português.Formado médico, este escritor passeou pela poesia, prosa, ficção, drama e fez um romance autobiográfico.Escritor independente, sem escola.

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Palhaço (anônimo italiano)

Quando eu era jovem, eu pensava que com a arte seria possível mudar o mundo. Eu buscava constantemente um espetáculo que pudesse despertar no coração do público uma esperança. Eu queria mostrar uma maneira diferente de viver, com mais amizade, criatividade, sem a obrigação de perseguir o dinheiro e o poder. Ilusão fútil que eu nunca consegui alcançar. Não só a revolução não chegou, como as pessoas se tornaram cada vez mais loucas e materialistas. Quando eu me dei conta disto eu vivi momentos difíceis pensando, pensando inclusive que minha vida era um fracasso e que todo esforço era inútil. Mas um dia eu tive uma revelação: se não se pode mudar o mundo, pelo menos é possível mudar a si mesmo, encontrar algo em seu coração, um desejo, uma necessidade e entregar-se totalmente a ele, sem olhar para trás. Isso não é para a sociedade ou para os outros, não, é para você mesmo. E eu fazendo esse palhaço que eu sou, eu encontrei essa coisa. Provocar, burlar e fazer o público rir. Isso era tudo o que eu buscava em minha vida. Por certo eu não mudava o mundo, mas os palhaços nunca mudaram o mundo, passam o tempo tentando sem nunca conseguir, por isso são palhaços. Os palhaços gostam do fracasso e das ações ineficazes, são perdedores alegres e isto é a verdadeira força que têm, nunca se cansam de perder. Desfrutam de cada fracasso e voltam em seguida a fracassar de novo, diluindo assim as certezas das pessoas sérias e que nunca duvidam. Então, esse sangue que pareço ter na minha cabeça, esse sangue que tenho sobre a minha camisa, esse sangue que tenho no meu coração, esse sangue que está todo em mim é tão patético e inútil em seu simbolismo porque é sangue de um palhaço. Um sangue que não vem de uma grande luta ou em nome de uma causa heróica. É sangue de brincadeira, ao mesmo tempo verdadeiro e pouco importante.

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NÃO DISCUTO

"não discuto com o destino o que pintar eu assino"

Paulo Leminski

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" Eis a sublime estupidez do mundo: quando nossa fortuna está abalada - muitas vezes pelos excessos de nossos próprios atos - culpamos o sol, a lua e as estrelas pelos nossos desastres; como se fôssemos canalhas por desígnios lunares, idiotas por influência celeste; escroques, ladrões e traidores por comando zodíaco. (...) É a admirável desculpa do homem devasso - responsabilizar uma estrela por sua devassidão!".

Rei Lear, ato I, cena II - W. Shakespeare

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Confissão

Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!

Mário Quintana
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