sábado, 30 de setembro de 2006

Sobre paixão e idealização

Amar

"Fechei os olhos para não te ver e a minha boca para não dizer...

E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,

E da minha boca fechada nasceram sussurros

E palavras mudas que te dediquei..."

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"Vinicios de Moraes"

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento

E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante

E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante

Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, não mais que de repente

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Ai que distância

Meu ódio-amor

Que dores

Que cintilâncias

De pena.

Tão a meu lado

Te penso

No entanto

Tão afastado.

Como se a água ficasse

A um dedo de minha boca

E todo o deserto à volta

Me segurasse.

Tão triste e tão à vontade

Neste meu sol de martírios

Como se o corpo soubesse

Desses caminhos da sede

Porque nasceu conhecendo

Da paixão seu descaminho.

E brilhos no teu sadimo

E perdição na minha cara;

Que coloridos espinhos

Terás

Para tua dura saudade.

Que tempestades de sede

Nos areais da procura

Quando saíres à caça

De quem te amou.

De mim.

À caça do NUNCA MAIS.XLIII - Catares - Hilda Hilst (p. 78-79)

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Inconfesso Desejo (Carlos Drummond de Andrade)

Queria ter coragem

Para falar deste segredo

Queria poder declarar ao mundo

Este amor

Não me falta vontade

Não me falta desejo

Você é minha vontade

Meu maior desejo

Queria poder gritar

Esta loucura saudável

Que é estar em teus braços

Perdido pelos teus beijos

Sentindo-me louco de desejo

Queria recitar versos

Cantar aos quatros ventos

As palavras que brotam

Você é a inspiração

Minha motivação

Queria falar dos sonhos

Dizer os meus secretos desejos

Que é largar tudo

Para viver com você

Este inconfesso desejo

Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta? (Quintana)

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" A paixão é a primeira a surgir e a primeira a desaparecer. A intimidade necessita de mais tempo para se desenvolver, e o compromisso, mais ainda".

Robert J. Sternberg (pesquisador de Psicologia Cognitiva)

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“As paixões são como ventanias que inflam as velas dos navios fazendo as navegar, outras vezes podem fazê-los naufragar, mas se não fossem elas, não haveria viagens, nem aventuras, nem novas descobertas.” – Voltaire

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Dois Olhos Negros (Lenine)

Queria ter coragem de saber,

O que me prende?

O que me paralisa?

Serão dois olhos negros como os teus,

Que me farão cruzar a divisa?

É como se eu fosse pro Vietnã,

Lutar por algo que não será meu.

A curiosidade de saber, quem é você?

Dois olhos negros...

Dois olhos negros...

Queria ter coragem de te falar,

Mas qual seria o idioma?

Congelado em meu próprio frio,

Um pobre coração em chamas.

É como se eu fosse um colegial,

Diante da equação, o quadro, o giz,

A curiosidade do aprendiz,

Diante de você...

Dois olhos negros...

Dois olhos negros...

Dois olhos negros...

Dois olhos negros...

O ocultismo, o vampirismo, o voodoo,

O ritual, a dança da chuva,

A ponta do alfinete, o corpo nu,

Os vários olhos da Medusa.

É como se estivéssemos ali,

Durante os séculos fazendo amor,

É como se a vida terminasse ali,

No fim do corredor...

Dois olhos negros...

Dois olhos negros...

Dois olhos negros...

Dois olhos negros...

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Samba em prelúdio (Baden Powell e Vinícius de Moraes)


Eu sem você não tenho porquê

Porque sem você não sei nem chorar

Sou chama sem luz, jardim sem luar

Luar sem amor, amor sem se dar

Em sem você sou só desamor

Um barco sem mar, um campo sem flor

Tristeza que vai, tristeza que vem

Sem você, meu amor, eu não sou ninguém

Ah, que saudade

Que vontade de ver renascer nossa vida

Volta, querida

Os meus braços precisam dos teus

Teus braços precisam dos meus

Estou tão sozinho

Tenho os olhos cansados de olhar para o além

Vem ver a vida

Sem você, meu amor, eu não sou ninguém

Sem você, meu amor, eu não sou ninguém

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Eu não existo sem você (Tom Jobim e Vinícius de Moraes)


Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim

Que nada nesse mundo levará você de mim

Eu sei e você sabe que a distância não existe

Que todo grande amor

Só é bem grande se for triste

Por isso, meu amor

Não tenha medo de sofrer

Que todos os caminhos

Me encaminham pra você

Assim como o oceano

Só é belo com luar

Assim como a canção

Só tem razão se se cantar

Assim como uma nuvem

Só acontece se chover

Assim como o poeta

Só é grande se sofrer

Assim como viver

Sem ter amor não é viver

Não há você sem mim

Eu não existo sem você

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Até Pensei (Chico Buarque)

Junto à minha rua havia um bosque

Que um muro alto proibia

Lá todo balão caía

Toda maçã nascia

E o dono do bosque nem via

Do lado de lá tanta aventura

E eu a espreitar na noite escura

A dedilhar essa modinha

A felicidade morava tão vizinha

Que, de tolo

Até pensei que fosse minha

Junto a mim morava a minha amada

Com olhos claros como o dia

Lá o meu olhar vivia

De sonho e fantasia

A dona dos olhos nem via

Do lado de lá tanta aventura

E eu a esperar pela ternura

Que enganar nunca me vinha

Eu andava pobre

Tão pobre de carinho

Que, de tolo

Até pensei que fosses minha

Toda a dor da vida

Me ensinou essa modinha

Que, de tolo

Até pensei que fosse minha

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CD: Circuladô 04:08

Lindeza (Caetano Veloso)

Coisa linda

É mais que uma idéia louca

Ver-te ao alcance da boca

Eu nem posso acreditar

Coisa linda

Minha humanidade cresce

Quando o mundo te oferece

E enfim te dás, tens lugar

Promessa de felicidade

Festa da vontade, nítido farol

Sinal novo sob o sol

Vida mais real

Coisa linda

Lua, lua, lua, lua

Sol, palavra, dança nua

Pluma, tela, pétala

Coisa linda

Desejar-te desde sempre

Ter-te agora e o dia é sempre

Uma alegria pra sempre

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AMBAR (Adriana Calcanhoto)

Tá tudo aceso em mim

Tá tudo assim tão claro

Tá tudo brilhando em mim

Tudo ligado

Como se eu fosse um morro iluminado

Por um âmbar elétrico

Que vazasse dos prédios

E banhasse a Lagoa até São Conrado

E ganhasse as Canoas

Aqui do outro lado

Tudo plugado

Tudo me ardendo

Tá tudo assim queimando em mim

Como salva de fogos

Desde que sim eu vim

Morar nos seus olhos

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